O José Ricardo no Jornal Torrejano In Jornal Torrejano, 27-2-09
e no seu blog "Ponteiros Parados"
propõe 12 medidas para salvar as Escolas Públicas.
Como respeito e muito aprecio o que o JR escreve e é, fiquei um pouco surpreendida com as propostas e, procurando não recorrer a qualquer tipo de literacia das Ciências da Educação, apenas baseada na minha experiência, entendi comentar o que o José propõe porque me assustou vivamente...até a fotografia escolhida.
Não será este tipo de propostas que se querem como reacção ao que se tem feito com a Educação? Faz-me lembrar célebres frases populares quando as coisas ficam feias: “Ai o meu rico Salazar!!!”, “Dantes é que era bom!”, etc. e como não esperava isso do José Ricardo atrevo-me a comentar.
1. Ter, pela primeira vez, um ministro da educação que saiba, carnalmente, o que é uma escola, e não apenas através de estudos, teses, seminários, relatórios e assessores tresloucados."
Ou uma ministra…
De qualquer modo, com as tuas seguintes propostas, só terás Ministros com os requisitos formulados: “apenas através de estudos, teses, seminários, relatórios e assessores tresloucados”.
2. Valorizar de novo a memorização na escola primária. Por exemplo, ser de novo obrigado a decorar a tabuada, os reis de Portugal e respectivos cognomes, datas importantes, assim como poesias inteiras em ritmo cantabile. Foi assim que gerações inteiras, que venceram no mundo da ciência, da política, das artes e das letras, tiveram a sua educação básica e, pelos vistos, deu resultado.
Isto não é posto em causa pelo ponto 1? Afinal quem venceu? A Ministra? Os assessores tresloucados???
E não estamos nós e os alunos num mundo tão diferente?
Que exige respostas diferentes?
Que desafia os lugares já conhecidos dos teóricos?
Que nos coloca à frente alunos e alunas com enquadramentos sociais e culturais tão diferentes?
Que nos coloca à frente alunos que sabem utilizar as novas tecnologias como nós nunca vamos saber?
Que são indiferentes à sua História porque sabem de cor os últimos capítulos dos “Morangos”?
Eu valorizo a memorização!!! Adorava ter boa memória para os Reis e Rainhas e respectivos cognomes que aprendi a recitar e dos quais nada me lembro, tirando um ou outro cuja história me exaltava os sentidos ou me espantava…já a padeira de Aljubarrota (Brites de Almeida – fui verificar o nome na www) não me escapou…talvez por não ser rainha e eu adorar o pão de Mafra na altura da minha escolaridade básica.
3. Tornar o Latim disciplina obrigatória a partir do 7º ano substituindo disciplinas inúteis e embrutecedoras e infectadas pelo eduquês, como Estudo Acompanhado, Área de projecto ou Formação Cívica. O Latim é uma disciplina fundamental para desenvolver as capacidades mnésicas e a ginástica mental, para além de servir de base a uma posterior formação erudita.
Será? Então e a Música??? “Estudo Acompanhado, Área de projecto ou Formação Cívica”, e acrescento “Educação Tecnológica” dada semestralmente (que me desculpem as/os colegas) nada mais fazem que propor uma possível boa teoria em terreno infértil e mau.
Fica ainda pior quando os professores – formados no velho estilo “cantabile” se vêem confrontados com disciplinas que não têm uma Bíblia que possam repetir incansavelmente. Qualquer e repito – qualquer - disciplina dada por professores “menos preparados” dará sempre os resultados do “eduquês”.
Eu proporia a Música como disciplina obrigatória – têm lá tudo!!! Poesia, coreografia, Matamática, Geometria, Gestalt, cor, geografia, diversidade, cultura, rigor e paixão, tem emoção.
Uma aluna minha do 10º ano ouve Edit Piaf no seu i-pod, obviamente tem formação musical…e adora! E ensina os outros a adorar.
Confesso que já ouvi gente debitar latim sem "entender"-"compreender" efectivamente o que estava a dizer. Mas lá que parecia mais erudito parecia. E umas SMS em Latim daria a volta a muita rapaziada.
4. As salas de aula deverão voltar a ter um estrado. O ensino deve estar centrado no professor e não no aluno.
É verdade que há professores com baixa auto-estima, mas não será exagero voltar aos estrados para “iludir” uma pretensa sugestão de autoridade?
Serão os professores assim tão baixos que necessitem do estrado para elevarem o intelecto uns centímetros acima do dos alunos? Ficarão mais perto do céu?
(eu gosto de me sentar nas mesas dos meus alunos e não me dou mal com a estratégia, nem isso me retira qualquer tipo de autoridade! – ai deles!). E nem sequer levanto a voz.
E porque necessita o professor que já passou pela escolaridade, que o ensino se centre nele?
Será mais uma ilusória proposta de iludir a auto-estima?
O Ensino deve estar centrado no professor quando este continua a desejar aprender e ser aluno no local certo – como aluno.
O Ensino deve estar centrado no aluno! E está na filosofia educacional, mas não foi sequer ainda entendida a proposta do que isto realmente representa. Por isso se verificam propostas que já pedem o contrário…ao que o 25 de Abril trouxe para o País e que muitos outros Países reconheceram como exemplo.
É o aluno que está a aprender (e duvido, pelo que tenho lido do JR que não se focalize nos seus alunos), seria simplicidade minha entender que isso quer dizer que a palavra “ensino” tem uma direcção e um caminho?
Partilhado muitas vezes talvez, mas centrado no professor???
Para quê?
Eu não quero que o ensino se centre em mim!!!
Quero sempre que a aprendizagem seja ainda possível ao estilo desportivo (ao ar livre): equipas de trabalho, gosto de ter adversários que me rebatam a bola e não uma parede em que a bola volta com o impacto com que a lancei eu (de que me serviria isso? Isso serviria a quem?).
A Educação deve estar centrada na Educação – Professores e Alunos são os protagonistas principais do que se ensina e do que se aprende e do “como “ se ensina.
5. Existência de numerus clausus no 9ºano. Apenas alunos com um determinado percurso escolar podem ingressar em cursos que darão acesso ao ensino superior.
Lá se ia a economia do Ensino Superior!!!:-)
Eu atrever-me-ia a sugerir que alguns alunos vissem uma luz diferente da do Ensino Superior dentro da Escolaridade Obrigatória. O Ensino das coisas básicas para a sobrevivência num universo onde o desemprego aumenta seria a minha sugestão. Cursos Profissionais, tecnológicos, o que seja, mas com a dignidade que realmente merecem (aqui sim, voltaria a alguns projectos antigos dos antigos Liceus): Culinária, mecânica, costura, electricidade, geriatria, pediatria, etc. têm conhecimentos essenciais para tratar dos que nascem, dos que envelheceram, dos que se divorciam, dos que são pais e mães precoces, dos que verificam, como eu, que cada vez que a máquina da loiça se estraga, fica mais caro pagar a alguém que a arranja temporariamente, que comprar uma nova…e voltamos à economia.
Aqui chego ao teu ponto 6:
6. Separação, clara e inequívoca, entre Cursos Gerais e Tecnológicos. Nos Cursos Gerais, dever-se-á aumentar drasticamente o grau de exigência. Os Cursos Tecnológicos serão radicalmente práticos.
Entendo a necessidade da separação clara e inequívoca, não entendo a diferença entre o aumentar o drasticamente o grau de exigência de um lado e o radicalmente prático – não tem a prática um elevado grau de exigência???
7. Revalorização das aulas expositivas.
Não estão elas revalorizadas, ou tenho estado demasiado distraída??? É que não encontro muitos colegas que não adoptem aulas que não sejam expositivas…
Eu gosto do equilíbrio. E não gosto da dormência.
8. Não bastará exigir o 9.º ano ou o 12.º ano para poder ingressar em certas profissões. De ora avante, passará a ser exigida uma média mínima. Por exemplo, para ser admitido no sector terciário (escritório, secretaria, banco, finanças, tribunal) será exigida uma média de 14 valores no ensino secundário.
Creio que o actual sistema educativo estará já a tratar disso…valores é coisa que não nos faltará.
9. Exames nacionais em todas as mudanças de ciclo: 4.ª classe, 6.º ano, 9.º ano, 12.º ano.
Embora deteste as “vigilâncias” de exames nacionais não me oponho (falta saber das características desses exames)…mudanças de ciclo sempre devem exigir uma correspondência por parte de quem se propõe iniciar um novo ciclo.
10. Sempre que um aluno revele atitudes de indisciplina na sala de aula, o director de turma fará uma participação ao Encarregado de Educação, o qual será obrigado a pagar à escola uma multa de 10 euros, por danos morais. O dinheiro será utilizado para a compra de material escolar. Quando a indisciplina dos alunos começar a doer nos bolsos dos pais estes ir-se-ão finalmente lembrar que a educação começa em casa e não na escola.
José Ricardo, se a Educação começa na Escola e não em casa é como a questão do ovo e da galinha…Na Escola eu não educo filhos e sim alunos. Em casa não educo uma aluna e sim uma filha.
Pena que a tua proposta só sirva para os alunos que podem dispor de 10 euros cada vez que são indisciplinados. Talvez a “cofidis” abra uma nova linha de crédito. É que temos efectivamente alunos revoltados que quase não vêem a mãe porque trabalha à noite nas limpezas do Hospital, ou na fábrica das carnes, ou numa treta qualquer de emprego que por meia hora não lhe dá o direito ao salário mínimo nacional e lhe dê 300 euros para levar para casa. (este é um exemplo)
Também temos aqueles que estão tão habituados a achar que os professores são uns trastes e não se importam nada de pagar 10 euros só para terem o gozo de insultar um prof. de vez em quando, em vez de os gastar na actualização da sua Wii.
Talvez um dia a Wii faça uma simulação aos possíveis insultos e assim desapareciam a indisciplina na Escola e teríamos uma nova oportunidade de mercado.
11. Os alunos que não revelem qualquer tipo de empenho relativamente ao seu percurso escolar serão obrigados a abandonar a escola visto tornar-se um percurso absolutamente inútil. Tal não significa, porém, que a escola abandone o aluno. Este terá oportunidade de ingressar no mercado de trabalho onde irá ter a possibilidade de manifestar as suas capacidades, sendo acompanhado por um técnico de assistência social que fará a ligação entre a escola e a empresa.
E esse técnico faria o quê exactamente nessa ligação?
12. Os professores serão obrigados, ciclicamente, a regressar a um estabelecimento do ensino superior, a fim de actualizar permanentemente a sua formação científica e não perderem rotinas intelectuais consideradas fundamentais na sua profissão. A formação de um professor é fundamentalmente científica e os professores jamais deverão esquecer tal ideia.
Apoiado!!! Já agora facilitem lá um pouquinho e voltem as sabáticas e equiparações, dava-me um jeitão!
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7 comentários:
Cara Graça,
Aqui está o ponto de partida para um debate interessante mas, não havendo muito tempo para isso, venho apenas esclarecer algumas questões.
Antes de mais, é-me indiferente que o ministro seja um homem ou uma mulher. Quero lá saber. os ministros, para mim, não têm sexo. Talvez o ideal fosse mesmo ter um(a) ministro(a) hermafrodita.
Depois, aquele liceu aparentemente sinistro que aparece na fotografia é o liceu Pedro Nunes, onde milhares de alunos foram felizes e onde foram formados para a vida. Eu gostaria de ter andado naquela escola e não num desses pavilhões execráveis, tipo C+S, onde as actuais crianças desenvolvem o seu sentido estético.
As minhas melhores aulas, enquanto aluno, foram expositivas. Aulas em que durante 50 minutos ouvi professores que tinham lido muito mais livros do que eu, que falavam muito melhor do que eu, que sabiam muito mais do que eu. Eu, como professor, posso não ser grande pistola, admito. Mas as aulas em que, por acaso, alguns alunos no final vieram ter comigo, manifestando o seu regozijo pelas mesmas, foram expositivas.
O facto de apresentar 12 medidas, não significa que a "minha" escola se esgote nelas. As 12 medidas são apenas um plano de salvação. Obviamente que a "minha" escola teria de valorizar as artes, a música, o teatro, a fotografia, o cinema.
O Latim é a matemática das humanidades. Aprender latim, só por aprender, não tem graça nenhuma. Mas permite desenvolver rotinas mentais importantes que, depois, permitem gerir melhor outras disciplinas, assim como levar os alunos a contactar com os clássicos. Sim, os clássicos. Inclui Cícero, Ovídio, Séneca, Virgílio. Enfim, gente do pior que os tecnocratas modernos enterraram e substituíram pela iliteracia do powerpoint e dos sites fixes.
Reafirmo que o ensino deve estar centrado no professor. Os alunos são, basicamente, ignorantes e incultos. Primeiro, têm de aprender a estar sentados, calados e a ouvir. Quando, ao fim de alguns anos, começarem a saber alguma coisa e a vislumbrar nas suas pobres cabeças o esboço de algumas ideias, poderão, então, começar a ter algumas opiniões.
JR
Obrigada, antes de mais, ao José Ricardo pelo comentário...e pelo tempo.
Também é coisa que não pára muito por aqui...o tempo...talvez por ser digital ;-)
bom,
quanto ao facto dos Ministros ou Ministras terem sexo é lá com eles ou elas...porque não hão-de ter? É óbvio que têm...e estou agora a falar de género e essa questão daria, por si só, para mangas, mas não vou por aí.
As Escolas tipo C+S (como a tua) têm mais de 25 anos, foram concebidas para responder a diversas questões estéticas/funcionais e arquitectónicas levantadas num pós-25 de Abril. A Construção não é a melhor, mas o desenho proporcionaria, eventualmente, uma melhor correlação entre pessoas, áreas disciplinares, etc. Não sei, ao certo, a História documentada da arquitectura escolar do último século.
Claro que muitos Liceus têm histórias, eu andei na António Arroio creio que tive sorte (com os colegas e com apenas um professor). De momento não conheço nenhuma escola que corresponda inteiramente ao desenvolvimento do sentido estético dos alunos, a não ser pelo não exemplo, o que é sempre um princípio. Menos ainda um sentido estético refinado…como o teu. É que há-os vários e distintos...
Eu também dou aulas expositivas, e gosto. O meu comentário era pelo equilíbrio.
Adoro aulas práticas também, o que foi falado é posto em laboratório de ideias, são raras as vezes em que não resultam novas soluções, inclusive as que eu não esperava à-priori - aí descubro sempre novas possibilidades.
É coisa natural que os professores tenham lido mais, visto mais e falem melhor que os alunos (embora haja excepções), mas os alunos têm a sua própria experiência - e isso é fascinante, não deve ser esquecido-apagado e reconfigurar o cérebro com as soluções de sempre, muito menos com as soluções que eu, enquanto professora imponho como verdadeiras, isso retiraria qualquer maravilha - isso é assustador!
Pelo menos para mim. Também posso não ser grande "pistola", mas não me tenho sentido frustrada com os resultados. Quer com o conhecimento expositivo, quer quando tenho de subir escadotes e limpar espaços para exposições temporárias, ou mostras de trabalhos (na última vim para casa com meia tonelada de pó - mas valeu a pena!).
Já agora eu adoro os Clássicos! Principalmente quando são "trabalhados" pelos contemporâneos. Ajuda imenso a entender a humanidade. Mas um conhecimento não pode nunca excluir o outro e sinto, que pela música e pelas artes, teatro, etc, todo esse conhecimento se torna fascinante e até uma necessidade pessoal.
Tenho imensa pena que Filosofia, tal como História da Arte se tenham tornado opcionais. Fazem imensa falta à minha rapaziada.
E até gostava um dia de aprender todas as línguas do mundo, até Hebraico.
...e lamento que sintas o que escreveste no último parágrafo deste comentário. Os meus alunos não são incultos, nem ignorantes. Podem ainda não ter todo o conhecimento escolástico, “poxa” (!) têm entre 13 a 17 anos!!! Mau seria se já o tivessem, seria uma espécie de patologia, não? E depois para que serviriam os professores se os alunos já soubessem tudo? Eles sabem o que sabem, e não é pouco.
Na minha última aula levei um piano para a sala, uma aluna tocou-me "Amelie" e foi lindo!
Eu não sei tocar piano! E tenho pena. Mas as minhas alunas, as que tocaram e as que ouviram e ainda um outro que apareceu de um curso profissional qualquer e que eu nem conheço e tocava também, eram tudo menos ignorantes! E não estavam sentadas, nem caladas! Graças a Deus!
Quanto às opiniões, ele há-as tantas que começa a ser tempo de criar uma outra forma de ver o mundo - quem sabe sem opinar tanto, sem julgar tanto, quem sabe rindo um pouco mais...de nós próprios também. Afinal não é fácil ser feliz.
Beijinhos
Graça
Ora viva!
Eu não sei até que ponto estás a assumir uma visão da escola muito centrada na tua área. Praticamente tudo o que eu enunciei de um ponto de vista pedagógico não engloba as artes. Talvez na tua área não sintas tanto a decadência e miséria do ensino actual.
Tu podes ser boazinha e conseguir descobrir o criativo artista que há em cada ser humano. Agora, nas áreas duras, as áreas em que é preciso memorizar, saber escrever, ler, pensar, usar a abstracção, o raciocínio hipotético-dedutivo ou até mesmo estar sentado a ouvir alguém falar (pode ser mesmo um colega) não é mais possível quaisquer complacências românticas. È mudar radicalmente.
JR
Desculpa José Ricardo,
nas Artes também englobo as: "(...) áreas duras, as áreas em que é preciso memorizar, saber escrever, ler, pensar, usar a abstracção, o raciocínio hipotético-dedutivo ou até mesmo estar sentado a ouvir alguém falar" ou não houvesse um alfabeto visual, uma Gestalt da compreensão, uma psicologia das expressões, uma sociologia da Arte, uma Estética-filosófica do pensamento artístico, um saber porque se cria e para que se cria. Conceptualizar.
Afinal, as tuas interpretações sobre as obras que apresentas têm tanta substância, como podes sentir ou pensar que a área artística é isenta de tudo isso?
Até descobrir o ser criativo que há em cada um é também o desenvolvimento de tudo isso...não?
Talvez eu tenha efectivamente, ainda, resquícios de um certo "romantismo" como lhe chamas (eu chamaria outra coisa) que procuro transpor para as minhas aulas.
Quanto ao sistema educativo não tenho qualquer ilusão de óptica, apenas me defendo colocando um véu e fazendo, ainda dentro do quase impossível, o que acredito ser uma alternativa, talvez não para uma mudança radical, para a qual não tenho exército, mas para uma mudança gradual, simples e, ao que me parece até agora, eficaz.
Hoje estive com os meus alunos na biblioteca municipal a assistir ao encontro com o Luis Afonso e foi fantástico!
Claro que tenho toda a papelada cada vez mais contraditória e estupidificante para preencher e reuniões e reuniões e reuniões e cada vez menos tempo para as coisas que valem a pena, mas ainda cá estou, e se cá estou, ainda procurarei empreender o que acredito acrescentar ao teu precioso "memorizar, saber escrever, ler, pensar, usar a abstracção, o raciocínio hipotético-dedutivo ou até mesmo estar sentado a ouvir alguém falar", com algum sentido.
Afinal vivemos no mundo da imagem, conceitos globais, neuro-estética e teorias da empatia, Percepto, Afecto e Microcérebros (Gilles Deleuze, Barthes, J. Dérrida, Rimbaud, Walter Benjamim, etc.), distrações, distorções ou rotinas visuais, anatomias-retinianas, etc. recepção e produção de imagens, etc. rupturas, ecos, ocos, história, estórias, frames, sonoplastias, degradação, recriação, realidades paralelas-virtuais, micro e pictogramas, ficção realidade, religião, mitos, fenomenologia, imagem e Phatos e ethos e logos, o corpo, a experiência estético-emocional-intelectual, niilismos, pós-modernismos, trash, sinalética, performance, que mais? Uns criando mundos, uns explodindo fractais, outros…ainda porvir.
Diz o meu professor espanhol que é cada vez mais necessário fazer de cada momento (em sala de aula) um dar lugar ao maravilhoso e inesquecível e isso só é possível ensinando a cada um estratégias para serem curiosos, instigantes, persistentes, intervenientes.
Ser criativo é muito "duro" e transpirado porque abarca todas as áreas do conhecimento - isto é o que digo aos meus alunos - é estar atento e "apanhar" a informação precisa, saber ampliá-la, torná-la substância...caçá-la!
Meus alunos, mesmo os do 8º ano além de fazerem projectos, têm de, mais do que saber escrever, saber porque escrevem e para que escrevem e para quem escrevem, desvelando-se.
por isso na minha área sinto tanto a decadência do ensino, como tu a sentirás, apenas procuro (ainda) outra abordagem.
Senão melhor uma espécie de “seppuku” ao melhor estilo japonês.
enfim...com isto sei (por certas reacções) que tenho sido mais reguila que boazinha, mas está bem.
Abraços de
Graça
já agora eu acho que qualquer visão pedagógica tem necessariamente de englobar as Artes:-)!!!
Não é à toa que as políticas educativas as transfiguram em aberrações curriculares.
Sabes o que eu acho? Que a criatividade dá muito trabalho e tem de ter uma estrutura sólida como base para a poder susentar. Há para aí pessoal com um enorme talento para a pintura mas que nunca irão ser bons pintores porque lhe falta academia, estudo, cultura, exigência consigo mesmos. Tu lês os excelentes poemas do Jorge Maia e de onde achas tu que aquilo vem? Do céu, da inspiração, do espírito santo? Não, aquilo é o reflexo de muita leitura, muito estudo e muita hora na vida a ouvir quem sabia mais do que ele. O António Aleixo, pelo contrário, jamais passaria dali precisamente porque era quase analfabeto e não teve escola. O que nós estamos a criar com esta escola absurda é uma geração de Antónios Aleixos ou sem sequer isso. Gente que balbucia em vez de falar, que tem sacudidelas mentais em vez de pensamentos e culturalmente, um vazio total.
Eu acho que, no fundo, queres o mesmo que eu. A tua bondade e, perdoa-me, alguma inocência, embora belas à superfície, acabam por ter efeitos secundários terríveis e alimentar o monstro que alguns, como no laboratório do dr Frankenstein, se lembraram de criar.
JR
José Ricardo,
sabes o que eu acho?
A criatividade é-me muito "cara" porque é a faculdade humana mais democrática - a que toda a gente tem, brancos, amarelos, pretos, azuis, baixos, gordos, altos, gente com pé grande, gente com pé chato.
É a coisa mais atacada, sufocada, paralizada, traída, amarfanhada e tudo tornado nada nas escolaridades.
A criatividade é ímpeto! Não dá trabalho, dá prazer. Tantos autores que conheces da academia que o dizem!
No caso da Pintura:
Francis Bacon era auto-didacta
João Vaz de Carvalho é auto-didacta
Jasper Johns idem
o Van Gogh teria sido expulso da academia
O Alvaro Lapa era Filósofo de formação e pintor auto-didacta.
O Mozart foi mais auto-didacta que aprendiz.
se há aí alguém com enorme talento para pintar pintará e poderá ser bom artista, mesmo postumamente, mesmo que a academia, ou o mercado da arte, o não reconheça de imediato, sempre foi assim.
Pelo contrário a academia legítima, mas marginaliza...no entanto, curiosamente, onde vai buscar novidades e "ar puro" é ao manifesto da actividade criativa não espartilhada, senão corre o risco de se remoer sobre si própria vezes e vezes sem conta. É à realidade e à experiência empírica que a teoria vai buscar alimento. Isso também está estudado!
Frankensteins há-os muitos, a maioria criada por cientistas. O horror é mais criado pela cultura dominante do que pela ignorância, a ignorância é apenas uma invenção da cultura dominante. Isso também está estudado.
Mais perigoso é o ignorante que, na memória, tem muito conhecimento pois até parece. O Culto precisa da ignorância como o faminto do pão.
Ao sábio não é necessário papagarrear o nome e as falas dos outros, o sábio só fala quando e se é necessário. Sabedoria não é conhecimento! O conhecimento deve servir a sabedoria e não o contrário.
Mas o que me importa ainda dizer é que o conhecimento a que temos tido acesso é, essencialmente Ocidental, foi filtrado, mastigado, adulterado necessariamente.
A Cultura com C dos grandes é Universal, pertence a todos os povos do mundo, até aos índios da Amazónia, até aos Esquimós. Nós somos infimamente pequenos diante de tanta sabedoria que nos é oculta, mas que existe.
Mas eu só sei o que sei e não me atrevo a dizer que sei mais do que isso.
Afinal o mundo é tão grande e cabe cá tanta gente...!
Até as “ingénuas” como eu!
Mas isso também está estudado.
Obrigada pela tua visita mais uma vez. Sei que também és bondoso...talvez um pouquinho ingénuo também? ;-)
Senão porque perderias tempo comigo?
É bom sinal!
Bem hajas,
graça
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