quinta-feira, fevereiro 07, 2008

llansol



"Cirano" de Rebecca Dautremer
















Se o toque não for decidido,
e o medo nos invadir,
não terei palavras para lho dizer.
Como dizer que uma lâmpada se funde inesperadamente
que um prato cai sem darmos por isso, quando isso é a própria queda,
que uma voz desaparece repentinamente de nos falar
que um afecto é, de facto, tudo (mas não de tudo quanto o prende)
que teria gostado de escrever romances
se o tempo não existisse
que se o toque fosse indiferente apenas existiriam atributos
ou, se preferes, enquanto acaricias esse espaldar só haveria vestidos,
e o corpo onde o deixariassem ter, sequer, a noção de afecto a quem o dar,
não olhes para mim com esse olhar.
Sem uma memória decidida,
as coisas desconhecidas flutuam.
Sim, imagino.
Disse-lhe, soletrando todas as letras,
o cheiro fasto que se desprende do espaldar é de um homem, odor denso, de um homem incómodo, embaraçoso, opaco.
"Quem gostarias de ver a teu lado?

maria gabriela llansol

"amagiadaspalavras"

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