"Estive no final de Novembro no 18º Congresso da CONFAEB na cidade do Crato, na região do Cariri , Brasil.
A região tem um encanto muito especial, é conhecida como o oásis do sertão apesar de em Novembro o ar ser seco e quente as palmeiras dão uma pincelada verde na paisagem. As casas brancas com riscas coloridas ou de cores bem fortes dão uma alegria incrível ás pequenas cidades, cidades pacatas onde os habitantes prolongam conversas sem fim nos jardins e nos pequenos bares. As pessoas da região são contadores de histórias, falam pausadamente numa sequência de ritmo tranquilo. Nem a confusão do Juazeiro do Norte me tirou esta ideia de tranquilidade e colorido.
A floresta do Araripe, Nova Olinda, Barbalha, e Crato têm um encanto cheio de mistério, histórias de colonos que ‘cantaram as terras’, de índios que esconderam as nascentes, histórias de cangaceiros, bandidos terríveis, comunidades rebeldes, enfim histórias de homens e de mulheres que se espelham em cada esquina.
Respira-se uma música que apetece dançar nos sorrisos dos transeuntes , por debaixo do pó, nas camionetas de caixa aberta carregadas de gente, nos armazéns feitos lojas de comércio.
Os mitos assolam nos graffitis das paredes, Lampião, Maria Bonita, personagens de Rezado, Padre Cicero Luís Gonzaga fazem companhia aos mitos globais do Batman e dos tags nas paredes da cidade.Quando regressei, tive a sensação que ganhara algo de importante, não sei explicar bem como, mas o meu coração vinha maior. Talvez porque as pessoas que participaram no congresso da CONFAEB me tivessem enriquecido.Fazer um congresso da Federação dos Artes educadores do Brasil naquele sítio foi um acto de coragem que saúdo.
O cenário foi o mais improvável, ventoinhas gigantes que pareciam turbinas tentavam refrescar o ar cálido, uma universidade incrível, promotora de cultura que preservava a literatura de cordel apoiando a tipografia Lira, uma tipografia onde ainda se faziam xilogravuras, que tinha prensas antiquíssimas ainda a funcionar. Uma inauguração de uma faculdade de Artes Plásticas numa mansão colonial em Barbalha, obra incrível de persistência e labor. Naquele fim do mundo tudo podia acontecer, e as relações humanas tinham mais possibilidades de se tecerem. A qualidade da programação foi excelente.
A par das conferências e mesas redondas houve grupos de trabalho temáticos onde se dialogou e se construiu massa crítica. Alunos de graduação, de mestrado e de doutoramento dialogavam abertamente com professores e especialistas numa relação construtiva. Os grupos de trabalho eram muitos, e parece-me que na sua maioria funcionaram assim.
O público na grande sala mostrou-se muito participativo , sobretudo quando as palestras visavam políticas educativas. A formação de professores, o âmbito da arte educação , teoria e práticas foram temas de largo debate.
Fiquei admirada com a faixa etária, a maioria dos participantes rondaria os trinta anos de idade, alguns deles professores de ensino fundamental e médio , muitos professores universidades públicas e privadas. Vieram autênticas excursões de estados afastados, camionetas de Pernambuco, do Maranhão, de Uberlândia, de João Pessoa com alunos e professores das respectivas universidades. Gostei também da presença multidisciplinar, especialistas de ensino em artes visuais, dança, teatro e música estavam presentes, tomando consciência do seu papel no futuro da politica educativa do país.
Um país que sentiam optimista, e espero que continuem a sentir por muitos mais anos.
Fiquei maravilhada com a alegria contagiante, mas mais ainda com o ambiente de esperança na arte educação que todos eles partilhavam. E então percebi porque é que ao longo destes anos tem havido tanto esforço na investigação em arte educação no Brasil.
Pude ver com os meus próprios olhos como esse esforço está tendo resultados, uma nova geração que mexe , que questiona e que não se contenta com modelos importados."
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