quarta-feira, dezembro 17, 2008

Alegre, Manuel Alegre

«As grandes decisões são muitas vezes antecedidas de grandes ambiguidades.
Eu sei o que quero»!!!

«Eu nunca fugi àquilo que considero ser a minha responsabilidade cívica» e de «homem de esquerda»

«falta formação e cultura para ser de esquerda».

«O partido pode deixar de ter a sua razão de ser quando se afasta da sua base social. Não é a primeira vez que isso acontece»

«Sou um homem do PS. Mas a minha casa são aqueles que sofrem»


Excertos da entrevista na SIC notícias a Manuel Alegre

"A esquerda só existe com o debate das ideias" ouvi também...

"A urgente necessidade das esquerdas terem um projecto de governação alternativo ao do PS actual (com as suas políticas liberais construindo um país assimétrico e de um elevado fosso entre ricos e pobres), as ideias protagonizadas por Manuel Alegre, esquerda social, economia de combate aos mais poderosos ou o fim do proteccionismo à finança especulativa, são uma base de trabalho futuro para a convergência das esquerdas." no "Forúm das Esquerdas".

gosto de ouvir Manuel Alegre, tem uma "voz", a dele. Uma voz que reflecte as preocupações sobre as causas sociais, um discurso que congrega outras vozes, algumas sem a opção de serem escutadas. Manuel Alegre é um homem de cultura e de lucidez para além das conveniências partidárias, sendo uno torna-se múltiplo porque não esqueceu o "valor" das palavras...democracia, diálogo, debate, frontalidade e aceitação do "outro".
Quando fala o Presidente da República eleito...quanta diferença!!! A secura de uma voz amarrotada, a ausência de seiva...
MA referiu mais ou menos isto se me lembra a memória de ontem:
"o Maio de 68 foi muito diferente do que está a acontecer na Grécia: Em 68 juntaram-se ricos e pobres, intelectuais e o povo, culturas diferentes respeitando e acarinhando a outra, era diferente o propósito, todos queriam mudar o que estava mal. O que está agora a suceder é a manifestação do direito à oportunidade individual, é um mundo contrafeito numa geração que reivindica o direito aos direitos", a utopia é possível, mas o mundo mudou, as soluções têm de ser diferentes, as ideias têm de criar debate. A política não se faz das oportunidades dos interesses, "quando o PSD vai para o Governo os elementos do PS vão para as empresas, quando o PS vai para o governo trocam-se as chefias das empresas para os elementos do PSD e os elementos do PS vão para os ministérios", isto não é uma política democrática, é uma operação que enfraquece o País cada vez mais, que esquece os mais desfavorecidos, que enriquece alguns e descapitaliza os outros, descapitaliza a segurança social, decapitaliza a economia do estado, descapitaliza as classes mais desfavorecidas que o estado teria a obrigação de proteger. A cultura empresarial nunca se deveria ter difundido para a cultura dos serviços que o estado garante: A educação, a saúde, a segurança social...
é um homem que não tenho visto desmentir-se a si próprio, assegurando os afectos políticos, conservando a memória dos princípios de se ser socialista de esquerda, relembra as preocupações que a esquerda deve ter na política do País, por isso tem voz...que ouço no meio do ruído-zumbido-alarido-confusão-disfunção-paralesia manifesta...confundindo e divindindo para reinar...
Na educação dividiram os professores em titulares e avaliadores, agora os avaliadores mais antigos não serão avaliados!!! lindo! serão uns quantos mil a ficarem "mudos e quedos" para não serem mexidos. enfim...estratégias versus utopia...prefiro a utopia e a "voz" de quem não esquece de ser honesto consigo próprio. pelo menos assim acredito.

5 comentários:

Anónimo disse...

Graça

Com todo o respeito que possamos ter pela personagem de Manuel Alegra não me revejo nos comentários.

A prática de MA não resiste ao conteúdo das suas afirmações grandiloquentes. Já antes do 25 de Abri era assim.
Votou praticamente tudo o que o PS apresentou na Assembleia da República ao longo dos anos. Excepcionalmente absteve-se.
Mesmo agora as suas declarações não passam de frases com muita sonoridade mas inconsistentes!
Que mudanças económicas e sociais propõe de facto?
É isso que é necessário explicar!
Manuel Alegre está na linha dos Otelos, Maria de Lurdes Pintasilgo, PRDs, etc. que têm servido para desviar o voto dos Portugueses mas que não passam de palradores de encher chouriços.

Com o tempo verás se não tenho razão!

Vitória de Samotrácia

graça martins disse...

à Vitória de Samocrácia ainda não foi encontrada a cabeça não é? ela é só corpo e emoção, liberdade, coração exposto ao vento...

Obrigado pelo comentário.

Não preciso do tempo.
Sei do valor dos discursos e das palavras, sei do desacerto entre as vozes e as acções. Sei das promessas e das esperas...dos incumprimentos, da propaganda, da paralisia, do deixa andar, do conformismo, da inépcia, a desculpa da complexidade, do eloquente fascínio da mesmidade...

o que faz a diferença no seu comentário estará no "praticamente".

A verdade é que é uma voz que se levanta à indiferença, mesmo dentro do SEU (dele) partido e não me importo de sentir afinidade com o que MA diz e que transcrevi.

Também gostava de Maria de Lurdes Pintassilgo e não a colocaria na mesma pasta que Otelo ou PRDs.

e pergunto: que mudanças económicas e sociais têm vindo a ser propostas - de facto? Pelos outros discursos cujas vozes, menos tonais que a do MA, nos encarceram as possibilidades de escolha e liberdade de opção e de acção?

aprecio ouvir uma voz que fala em diálogos, que procura aglutinar, que fala em debate de ideias, que fala apontando à realidade dos mais desfavorecidos, que desmascara o tabuleiro político existente.

Acredito que é necessário criar uma alternativa política, social, cultural, MA está envelhecido, nada ou pouco terá a perder com o que diz, ao contrário de outros políticos.

Quanto ao voto dos portugueses e portuguesas serem desviados (de onde???)...não sei...deve depender da consciência de cada um...se ainda a tiverem.

Quanto aos chouriços, já estão cheios. Não vê?

e tenho a certeza que tem razão, quem não tem?

pena que o nosso país precise mais do que a Vitória representa:

"Sob o vento, as roupas de seu vestuário se levantam e, molhadas, colam-se ao corpo revelando formas, força, ímpeto e fôlego de vida."

Niké

e eu sei que não tenho razão!

graça martins disse...

já agora...

quem, como eu, não encontra identidade nas políticas, que já nem são demagógicas, mas potencialmente de mentira e de cadeirão e procura que a contribuição em acções:

com as crianças,
os idosos,
os deficientes,
os marginais,
aqueles cujas casas são inundadas pelas chuvas,
aqueles que não têm dinheiro para pagar o antibiótico para a gripe dos filhos,
aqueles que vivem sem recursos,
aqueles que procuram ainda sentir o coração bater com a descoberta da criatividade

ultrapasse as dificuldades burocráticas que impedem o acesso às possibilidades que os governos e os ministérios prometem

faça diferença POLÍTICA SOCIAL E ECONÓMICA, CULTURAL e EDUCACIONAL...mais que palavras ou discursos...

"sabe bem o que parece"...

Anónimo disse...

Graça

Para já só um pormenor acerca de Maria de Lurdes Pintasilgo: não a confundo com quem ao longo de trinta anos se tem aproveitado do poder para seu próprio enriquecimento; todavia foi no seu Governo de Gestão que se cometeram algumas barbaridades contra os trabalhadores em geral e a Reforma Agrária em particular que consistiu entre outras malfeitorias no envio de forças militarizadas e cães para desalojar os trabalhadores rurais das Cooperativas e Unidades Colectivas de Produção. Foi numa dessas sortidas que foram assassinados os trabalhadores rurais Caravela e Casquinha que defendiam desarmados o direito ao pão e ao trabalho. Claro que existe hoje quem preste homenagem a esses trabalhadores mas não é seguramente Manuel Alegra que desde 1975 é Militante do PS e nunca se demarcou das malfeitorias que ao longo dos anos o seu Partido foi cometendo em nome do "Socialismo" - que meteram na gaveta - e duma "democracia" que nos arrastou até onde estamos hoje.
Sobre Maria de Lurdes Pintasilgo falta referir ainda a sua campanha presidencial , financiada pelo PS, e que, dividindo o campo de Salgado Zenha - abriu as portas da eleição a Mário Soares. Quando as sondagens deram como garantida a eleição de Soares, Maria de Lurdes Pintasilgo desistiu após um último encontro em Abrantes deixando largas dezenas de apoantes seus à espera no Entroncamento por onde já não passou. O trabalho estava feito...atenção: tudo isto vem nos jornais que então se publicavam.
Quanto a Manuel Alegre... não só tem votado Alegremente todos os Orçamentos de Estado, como nunca se opôs seriamente a que os diversos tratados que amarram Portugal aos ditames da União Europeia sejam aplicados sem que o Povo Português se pronuncie. E isto tem-nos verdadeiramente empurrado para o abismo!
Alguém já o viu ao lado dos trabalahdores numa das gigantescas manifestação convocadas pela CGTP?
Desagrada-lhe o cheiro do trabalho e prefere seguramente o poleiro da Assembléia da República.
Mas é nessas manifestações e em outros aspectos que a Comunicação Social prefere esconder que está a genuinidade de quem pretende de facto que alguma coisa mude: Mas Mude de Facto!
Meus amigos se querem decidir quem devem apoiar ou integrar procurem quem ao longo dos anos alia a praxis ao discurso. Se, sem preconceitos, acharem que existe essa força, então poderá ser esse o caminho. Cabe-vos decidir e optar!

Vitória de Samotrácia

graça martins disse...

Há muita História e muitas histórias…minha pretensão não era apontar o dardo ao alvo que me apresenta, mas falar das palavras…que acendem rastilhos.

Não era fazer a defesa ou o juízo (final – quem sou eu para julgar?) das opções de alguém cujo carácter é do domínio público, mas aproveitar alguns dos significados e fazer um “bold”…

Em todas as épocas, em todos os lugares se fazem histórias, importante será termos a capacidade para escutar, sentir, entender se nos impulsiona e aproveitar o despertar do vento para lançar sementes.

Às vezes nos silêncios dos que não reza a história, está alguém que desperta a voz, não interessa de quem, daquele ou daquela que escuta, mas que coloca um “bold”, depois pode ser movimento…ou não: se estivermos sempre desconfiados, sempre ajuizando, sempre travando, agarrados às mais ilustres e nobres convicções históricas (com muito e todo o respeito).

Já agora, não sou do PS, nem do PCP, nem do Bloco, nem estive no Fórum das Esquerdas, nem sou Católica (embora a minha família seja), serei Cristã, sempre fui de esquerda, procuro estar atenta, às vezes encontro vozes (não me importam quais as origens) que me acrescentam dimensão social, política e cultural, às vezes não e, por fim, duvido que consiga ser outra coisa mais do que aquilo que hoje sou (por hoje).

O nosso presente está dependente da capacidade quotidiana de coragem silenciosa ou não, mas determinante, para ser rastilho de mudança, o nosso futuro também…
(Carvalho da Silva não deixou de estar presente no “forúm das esquerdas”, a mim interessam-me os homens e as mulheres que avançam, apesar de tudo, na convicção de serem preciosos, que somos todos, para criar).

Nem sempre sabemos o caminho, nem sempre sabemos o que vamos encontrar, raramente sabemos se ganhamos ou perdemos e pouco importa. O fundamental é como, em consciência, actuamos hoje, aqui e agora, se somos luz ou somos sombra, se acrescentamos alguma coisa ou se nos perdemos na indiferença manipulativa de uns outros que acusamos como culpados e nos desculpamos, por inerência, da opção que sempre teremos.

Creio que a História não se faz do passado (História para mim escreve-se todos os dias), mas das sementes que hoje lançamos ao futuro…ainda assim, deixo-lhe como inspiração, apesar de sentir que já leu, alguém que expõe as ideias e as palavras melhor que eu, dando o exemplo de duas mulheres, negras e pobres, as mais insuspeitas possibilidades de criação de movimentos (segundo a história escrita de alguns) Rosa Parks e Ann Nixon Cooper “por ser negra, por ser mulher, por ser pobre”
e os textos do Saramago:


“Intento ser, à minha maneira, um estóico prático, mas a indiferença como condição de felicidade nunca teve lugar na minha vida, e se é certo que procuro obstinadamente o sossego do espírito, certo é também que não me libertei nem pretendo libertar-me das paixões. Trato de habituar-me sem excessivo dramatismo à ideia de que o corpo não só é finível, como de certo modo é já, em cada momento, finito. Que importância tem isso, porém, se cada gesto, cada palavra, cada emoção são capazes de negar, também em cada momento, essa finitude? Em verdade, sinto-me vivo, vivíssimo, quando, por uma razão ou por outra, tenho de falar da morte…”

E os links para outras histórias, com H dos grandes…

http://caderno.josesaramago.org/2008/11/page/10/
http://caderno.josesaramago.org/2008/11/page/11/
http://caderno.josesaramago.org/2008/11/page/13/
http://caderno.josesaramago.org/2008/11/page/15/
http://caderno.josesaramago.org/2008/11/page/16/
http://caderno.josesaramago.org/2008/11/page/17/
http://caderno.josesaramago.org/2008/11/page/18/

…ao ler, acreditei que lhe responderia melhor que eu…mas ao leitor cabe sempre a interpretação do espírito.
Como vê meu o alvo não era fazer minha a apologia do Manuel Alegre, é dele. A minha ideia era sublinhar algumas das palavras e convicções que diz ter e que eu acredito que tenha, para sublinhar - ecoar, de algum modo, algumas das preocupações que eu, por acaso, também tenho.

com os
Votos de um ANO BOM que, se não for alegre, não seja triste.

um cordial abraço,
de graça