O RETRATO
O rosto é sempre doutro
O rosto é sempre doutro
quando o olho na água da distância que cerca o que aquém da imagem é uma flor de busca.
Os dedos correm pela árvore do papel,
abrem silhuetas de grafite nos nódulos de erva,
começam o lento percurso dos nós que a mão desenha
no macio grão do leito que o amor constrói
como um sol por dentro da raiz do dia que é a alegria da palavra feita para ser um puro canto de pássaro na música do sangue a dessedentar a casa do futuro.
O fogo é a criança adormecida no ângulo mágico do retrato,
a outra margem do corpo a sentar-se nos ossos que sustentam o voo duma palavra de vento que a grafite encosta como uma estrela candente no coração de cada um.
É esta a viagem.
O início do mar que o corpo é.
Chamem-lhe canção, vento, ave, beijo.
Deixem que abra a janela que dá para as falésias do azul-cobalto da sede dos sonhos,
a casa se inunde de aves e vento salino,
a palavra adquira o brilho do diamante esconso no punho enrugado do carvão.
Ficam algumas memórias: um ciclo de água no círculo do fogo.
O traço alquímica da luz dentro do negro,
ave renascida a cada página da madrugada,
a sede de universo no gesto mais simples do mistério da personagem que há no rosto de cada um.
O brilho da infância atravessa o retrato com um cântico e é nesse rumor que o humano renasce
e a viagem começa.
António Mário Lopes dos Santos
7/11/2008
António Mário Lopes dos Santos
7/11/2008
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