terça-feira, novembro 11, 2008

O QUÊ???



"cegos de Madrid - Júlio Pomar"



"Vivia Junto ao risco
e junto ao perigo
e onde outros eram sim
ele era não
e onde outros eram cinza
ele era chama
Combatia de frente o inimigo
e os matadores sabiam que viria
porque por si ele nunca deu ninguém
nem tinha sina
de morrer na cama
De peito para a bala
ele corria
do alto da sua morte
ei-lo que vem
de cada vez que
Portugal o chama"

Manuel Alegre /1996 sobre o General sem Medo

O que eu penso e sinto

Este é um tema do qual tenho estado arredia e fugidia, não porque não esteja atenta, não porque não me preocupe, não porque não o sinta na pele, mas a Ministra e os seus parceiros que, como ela refere, prepararam não só a avaliação como a renovação do Estatuto da Carreira Docente desde à dois anos a esta parte, sabe.

Sabe que os professores têm medo.

Têm medo de perder a titularidade

Têm medo de deixarem de serem considerados Coordenadores – Avaliadores

Têm medo de perderem uma espécie de categoria que mais não lhes traz do que um trabalho acrescido sobre uma ou mais matérias para as quais não foram democraticamente seleccionados e/ou preparados.

Quem no seu perfeito juízo faria uma auto-avaliação e se perguntaria:

- Agora que sou avaliador/a Coordenador/a conseguirei entender que os itens e os critérios de seriação para Professor/a Titular não estavam correctos, ou induziam uma espécie de alvo (todos sabemos que a avaliação por escolha múltipla pode induzir a resultados esperados)?

- Consigo verificar que os indicadores de medida apenas referiam a minha antiguidade e a minha prestação enquanto (Delegado/a, Director/a de Turma, de instalações e de outros cargos que, em algumas situações serviam para complementar horário, eram rotativos dentro do grupo disciplinar, etc.?

- Consigo verificar com idoneidade que o/a meu ou minha colega merece um “Muito Bom” apesar de haver cotas para a atribuição desta modalidade de classificação e eu também estar integrado nessa cota (ou seja sou também um/a candidata ao “Muito Bom”)?

- Saberei distinguir o que a burocracia me oferece do trabalho efectivo realizado com os alunos?

- Saberei entender o significado que a minha avaliação irá ter na vida profissional destes professores?

- Sei avaliar professores/as?????

- Pior! Como poderei, em consciência atribuir um "Muito Bom" e sugeitar-me a ser classificado/a com um "Bom" ou "satisfaz"? Como me sentirei perante os meus (im)pares? Com que autoridade fica a minha avaliação? Com que autoridade fico eu?

Então seria fácil…a solução está em cada um,
os tempos são outros,
claro que é interessante verificar a existência de milhares de colegas sentido a mesma (será?) consciência, um apelo à solidariedade (será?)

No poema do Manuel Alegre a Humberto Delgado diz que ele tinha a perder
A VIDA…

O que perdem os meus (minhas) colegas titularizados à pressão?

O que têm a perder?
Um título?

Vencimento acrescido?

Dignidade?

Integridade?

Importância?

Respeito?

O quê????


Porque não cumprem com o que todos e todas estão a gritar nas ruas da capital?
E se não o cumprem

Porque esperam que a Ministra o faça?

Porque o faria?

O que perde ela em manter os propósitos do seu projecto de segregação, discriminação, exploração, e pior, fazer da profissão docente uma comédia?

Não perde nada porque ela sabe

Que, depois de dividir os professores e professoras, os que, supostamente subiram (não sei para onde) ninguém no seu prefeito juízo está disposto/a a apresentar a sua DEMISSÂO!

Então porque o deverá fazer ela?

Não percebem que os itens de selecção para titular não foram concebidos para avaliar competências???

Porque quereria eu ser seleccionada por ser mais velha, por não ter estudado o que estudei, por não ter engravidado, por não ter estado doente?

Porque NÃO quereria eu ser seleccionada pelas minhas competências, a minha capacidade, o meu discernimento, os meus projectos, o meu envolvimento com o desenvolvimento científico, pedagógico da Escola, do Ensino, das associações profissionais e dos meus alunos, etc.?

Desculpem lá…ainda não consegui perceber porque SIMPLESMENTE os professores e professoras não acabam com o processo e começam a mostrar que não têm medo e que estão dispostos a ensinar e a colaborar numa sociedade que, espero, ainda se quer democrática. É tão simples. Basta (MAIS) um papel.

eu sei...é ingenuidade minha...e este texto custou-me muito a escrever confesso!!!

(desculpem, mas tenho o mestrado em avaliação educacional, por acaso acho que sei, ainda, quando a avaliação é tendiciosa ou democratizante, sei ler o que um formulário pretende, mas também sei que não gostaria de fazer estas perguntas a mim própria...quem as fará???)



...como em tudo na vida
opto por aquilo em que acredito OU
opto por aquilo que julgo possuir?

o jogo está escrito na história da humanidade
e no tabuleiro
é simples:
dá-se ao escravo a possibilidade de ser carrasco
e este
julgando-se a salvo ou elogiado,
por orgulho, medo ou sobrevivência
opta por chicotear o seu igual

simples.

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