quinta-feira, janeiro 17, 2008

SOCORRO!!! Estamos sendo exterminados!!!

Insatisfeita??? Insatisfaz!!!

...tempos de avaliação de desempenho, a coinciDÊNCIA DE REVER O MAIL E redescobrir a Mila do Brasil, que sempre se despedia com "abraços e laços"...a trazer à memória o tempo em que parecia impossível este outro tempo (na altura este seria o futuro mais bonito e iluminado) onde, implacavelmente, se encostam ao muro, de olhos previamente vendados e mãos amarradas, os despertos (os que viam mais, os que faziam mais, os que se agrupavam para reflectir).

...uma Mila trangressora, desperta, afectiva, brincalhona, atenta...insatisfeita???Insatisfaz!:-))

"Era uma vez uma escola cercada de muros, arames, portões, muitos professores, 2000 alunos. De manhã, de tarde, de noite, funcionava sem parar.

Era uma vez uma cidade nova, pobre, abandonada. Uma meninada inquieta, animada, desaforada, barulhenta, questionadora, ágil, problemática, cujos pais ou avós vieram do campo, das vilas, cidadezinhas... de todo o Brasil em busca de uma vida melhor.
Começamos o ano letivo na escola. Lista de chamada, turmas pendentes, alunos sem turma... Turmas cheias... de vida, expectativa de dias melhores...

- Alguém aqui gosta de desenhar?
-Eu, Eu, Eu gosto. Eu detesto, eu não sei desenhar, prefiro fazer teatro, não gosto do meu desenho, eu adoro, meu desenho é horrível, só desenho casinha. Que mais ?

Abrimos as portas para o desenho e o não desenho de todo mundo, filosofando no coletivo sobre as questões da linguagem visual aliada à busca da expressão de cada um. Fomos tecendo uma rede de assuntos e ações que ia da história das artes plásticas, especialmente o desenho, até o esmero ou a impaciência com que os alunos faziam os desenhos de observação. A garotada do teatro criava as cenas ou as poses... e fazia muito bem o seu papel, congelando no pátio, ou na sala de aula, cenas do cotidiano, sonhadas, lembradas... Não havia comandos tudo era negociado: observar, partir da cena, extrapolar, dar apenas uma olhadela, fazer outro desenho, ir posar também... Gostávamos de combinar o jogo: estudar, conhecer o nosso horizonte, fazer exercícios com a linguagem, pesquisa de materiais...

Não tratávamos as nossas estratégias como prontas e acabadas. Em busca do traço próprio, criamos um dicionários de idéias para os argumentos do ”não sei o que fazer”. Fomos cercando o desejo de desenhar... seduzindo pelo prazer de fazer, criando continuidades. Casinhas foram virando ruas, gatos pulavam nos telhados, quintais cheio de varais, sobrevôo nas quadras, becos, fazendo histórias e recolhendo memoriais. Os desenhos foram aparecendo na medida em que diminuía o medo de errar, de mostrar os limites pessoais, de aprender... de descobrir-se.

- Ai que tanto desenho, vamos descansar professora!.
- Eu não acho.
- Eu também.
- Não, professora dá um tempo.
- Então vamos passear, encher os olhos, brincar, contemplar, conversar mais...vamos?

Transitar entre o fazer e o não fazer gera mais criação.

Meados do ano letivo... Tocava o sinal e a turma já revirava a sala para a aula de modelo vivo. De repente enfileiradas 37 carteiras faziam um círculo. Todos desenhavam e eram desenhados. Ninguém tinha vergonha. Gordinhos e magrinhos ficavam à vontade. Brincavam com a anatomia da figura humana enchendo de novidades a história universal do desenho.

“Tudo podia” a favor da expressão: a relação afetiva com o desenho foi-se erguendo. Aproximá-los do fazer, do universo de conhecimento da arte e romper os muros, arames e portões em busca de paisagens próprias, era tudo o que queríamos.
Lápis, papel, giz, muro, carvão, calçadas, paredes, colagem, piçarra, barro. No fim do ano, nos perguntávamos: o que fazer com tanto gosto de desenhar?

- Minha tia não quer papelada nenhuma lá em casa.
- Pra que serve um desenho?
- Pra botar na parede. Pra guardar de lembrança. Pra comunicar idéias, formas. Para sentir prazer de em fazer. Para ilustrar ou misturar-se às palavras, nos livros. Meninos e meninas pela primeira vez, pensaram em produzir riqueza cultural com sua arte, com seu desenho e escolheram o livro ilustrado. Sair dos ensaios para uma obra acabada.

No ano seguinte, que bom foi pegar as mesmas turmas na 6ª série. Começamos o ano projetando e historiando com os novatos para criar a nossa Oficina de Literatura Ilustrada. Dificuldades a parte, o conselho editorial selecionou os textos num concurso lançado na escola. Uma pequena verba muito bem vinda ao projeto e, em setembro, começamos a imprimir a nossa coleção: oito títulos com uma tiragem de 100 cópias cada um.

Vinham no rastro dessa experiência: o aumento da freqüência na biblioteca para ler e estudar os livros já feitos, um “boom” na produção de textos na escola, querendo virar livro, aprendizado e especializações da produção em série, apoio total dos pais, cumplicidade nos comportamentos interpessoais, uma bela coleção...

No dia do lançamento, entrevistas, sucesso nos jornais da cidade e depois da festa...
- Vou pra casa. Vou passar a tarde toda lendo meus livros.
Foi a melhor coisa que pude ouvir. Passar a tarde toda lendo? Não era mais aquela meninada que não gostava de ler, escrever e desenhar, era um autor que falava. Criador e criatura encontraram-se nos espaços escolares."

(Centro de Ensino 20, Ceilândia, 1992) por Mila em 2002

"...quando você aceita o outro na sua legitimidade, quando você se comporta de maneira que o outro emerge na sua legitimidade, nesse novo campo há amor, e quando há amor, há expansão, há auto-respeito e quando isso acontece, vemos que o bem-estar acontece imediatamente". (Maturana, 2000) por Mila 2002

e peço desculpas mas há mais:

"Esse layout da aprendizagem representa a rigidez e sacralização, quando se sabe que construir conhecimento é genuinamente inquietante, e que o conflito entre o certo e o errado é que põe em andamento o saber. Desejos de fuga ou esforços de concentração são igualmente importantes e esse trânsito alimenta o compromisso e reduz a insegurança dos alunos frente as enormes acumulações da humanidade.


Sachs(1986) sugere que os jovens pesquisadores devam ser estimulados na arte de fazer progredir a teoria a partir de situações concretas. Mas não são apenas os professores ou pesquisadores considerados "sujeitos" do processo educacional. Todos outros segmentos envolvidos devem ser considerados na suas singularidades, assim como o lugar, a época e os acontecimentos gerais e específicos.

Castoriadis(1999) ressalta ainda que cada sujeito é formado de micro-instâncias interatuantes, onde cada uma possui seu mundo, seus objectos, suas finalidades e avaliações. Nessa multiplicidade de variáveis, numa rede muito maior e complexa, situa-se o vasto campo da educação!"


Como a Mila, muita gente partilha o seu olhar-fazendo-reflectindo e...
SOCORRO!!!
Estamos sendo exterminados!


BANG!
...
(silêncio)

Silêncio!!!
Estamos a falar da escola!
Avaliação em 5 passos:
Quem manda aqui sou eu
EU!!!
1º passo: digam lá como é que se faz isto!
2º passo: agora façam lá isso e depois dão-me;
3º passo: que chatisse! Isto é tudo uma treta!
4ºpasso: eu sempre disse isso! Repete lá outra vez...
5º passo: Agora decido EU! É o que diz a LEI!

(versão portuguesa)
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passo
não passo
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