sábado, dezembro 08, 2007

Troféus e código de barras...na testa (atesta, detesta)















Jogo:
1º - Escolha o/a melhor/a

2º - Agora coloque o código de barras anexo no/a aluno/a seleccionado:






A atribuição de "prémios de excelência" nas escolas públicas portuguesas é a prova de que a “utopia” de uma “escola para todos” protagonizada pela democracia acabou!


É a prova de que a democracia se deixou definitivamente infiltrar de vaidades aristocráticas embrulhadas em LCDs de 4G. A monarquia e a pós-modernidade no seu melhor/pior.

Antes, torna-se um manifesto obscuro da necessidade de separar os “mais beneficiados” dos “menos beneficiados” dentro de uma escola dita “para todos”. Uma espécie de neo-nazismo imberbe (ou não fosse este o inicio da defesa da segregação/selecção de pessoas).

Ano após ano, diploma na mão, os mesmos alunos recebem as honras da excellency (palavra utilizada e muito apreciada pelos leigos em educação) pelas melhores classificações que obtiveram.


(nota 1: melhor classificação, obviamente, não quer dizer melhor aluno/a;
nota 2: nota não quer dizer avaliação;
nota 3: nota não é dinheiro;
nota 4: nota é nota e aqui "nota" é observação - obs.)


Todos, alunos, pais, professores e funcionários colaboram nesta espécie de “festa de debutantes” para a VIP.

"(...)as rotinas adquiridas e as formas de domínio associadas a elas, no ínicio da vida, são mais que simples modos de ajuste ao mundo preexistente de pessoas e objectos. São constitutivos de uma aceitação emocional da realidade do "mundo exterior" sem a qual uma existência segura é impossível(...)".


(A. Giddens in Modernidade e identidade: todo o capitulo "Ansiedade e organização social").

No fundo, chamam-se ao palco não só os privilegiados, como aqueles a quem falta a ousadia e a sabedoria de serem autênticos na sua identidade.

Quem aceitaria uma cerimónia tão inútil quanto obtusa e discriminadora?
Por acaso alguém perguntou aos alunos/as se esta cerimónia é significativa para eles/elas? Será?


Este é um dos muitos fenómenos da história que se escreve nas escolas dos dias de hoje (como o título de melhor professor/a).

Duvido que algum aluno/a se sinta mais dignificado, repito: dignificado por receber este prémio de excelência - a sua.

Acredito que o mérito deva ser reconhecido, no entanto os critérios de selecção de acesso a esse reconhecimento estão longe de ser os utilizados nas escolas que adoptaram esse sistema de premiação de "bons" resultados escolares.

Não acredito nos "bons" alunos nesta escola actual. Acredito no significado amplo da consciência da existência de "múltiplas inteligências" para a qual muito contribuiu António Damásio entre outros (Gardner, Eisner, Etc. há tantos anos atrás) e de uma renovação de mentalidade que pressupõe a contribuição das múltiplas faces dos QE e dos QI na construção individual da personalidade dos indivíduos. Porquê voltar atrás no tempo e "re-inventar" formas subtis de rompimento e desrespeito de valores de colaboração, equipa, formação colectiva, criatividade múltipla, ao mesmo tempo que se fala tanto em cidadania?

Afinal rotular alunos/as para os glorificar é rotular os outros/as para os colocar fora do palco da iniciativa escolar em primeira instância e, desde logo, obrigá-los a enfrentar o desconforto entre uns/umas e outros/as.

Poderia responder que se é comumente aceite pela comunidade escolar porquê colocar em questão?

Se várias escolas assim o aceitaram, quer em Portugal quer em diversos países do globo, porquê discutir o assunto?

Se os outros fazem porque não devemos nós fazer?

...........Dhaaaa!!!

Porque talvez ainda saibamos pensar e sentir e reflectir e desconstruir e reconstruir fórmulas que façam sentido.

Quem ousou novos caminhos voltou para contar...outros não, mas tentar é preciso...esse é o legado de Abril de 1974.

Qual é o nosso legado?

Voltarei a falar sobre este assunto mais tarde.

...

(entre rebanhos)
Entretanto um Luís pastor, depois das aulas, ia pastar ovelhas para ajudar a mãe no sustento da casa.

Aprimorava-se na transcrição das aulas e dos sumários no seu caderno diário pois queria ser o melhor aluno da turma, embora em anos anteriores tivesse sido um aluno complexo, irregular e problemático.


Não tem computador em casa, nem Internet, nem pão, nem flocos de cereais ao pequeno almoço.

Tem uma cadelita rafeira da qual fala com um carinho especial e tinha uma revolta dentro dele que o fazia perder a paciência em algumas aulas.

É aluno do CEF (alunos que nunca chegarão ao palco da excellency, quando muito, a uma sala de tribunal no banco dos réus...ou das vítimas).


Para ele teria ido o meu prémio de “Mérito” (no ano passado).

Utopia para levar a pastar na serra.

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