Por João Cortesão
Gonçalo M. Tavares apresenta-se com a mochila onde costuma trazer cinco dos dez livros que lê ao mesmo tempo. Romance, poesia, ensaio. Livros de há séculos e do ano passado trocam páginas na sacola. Misturam-se. É o mesmo com os que escreve. Impuros. Gosta da ideia de contaminação de géneros. Os críticos, a julgar pelos prémios, também. Quem semeia colhe e ele semeou: entre os 20 e os 30 anos madrugou todos os dias para ler e escrever. Só a partir dos 31 publicou. De rajada. Às livrarias chega esta semana ‘Aprender a Rezar na Era da Técnica’, onde aborda o contraste entre as ambições políticas e os limites do corpo. Gonçalo M. Tavares tem três filhos. É professor de Epistemologia. Podia ter sido... futebolista
'Não gostaria de chegar aos 70 anos com a sensação de ter escrito sempre o mesmo livro', afirma Gonçalo M. Tavares
- Como é possível ter publicado 21 livros em seis anos?
- A maior parte dos livros estava escrita antes de publicar o primeiro. Só publiquei aos 31 anos. Entre os 20 e os 30 escrevi muito. Só agora começo a ficar actual, embora aguarde sempre um ou dois anos antes de publicar.
- ‘Aprender a Rezar na Era da Técnica’ ainda é do baú?
- É um livro recente. Demorei muitos anos a escrevê-lo. Devo ter começado em 2001, voltei, cortei, anda há muito tempo comigo mas é recente. É a história de Lenz Buchmann e está dividido em três partes – força, doença e morte.
- Qual é o seu ponto de partida para um livro?
- ‘Aprender a Rezar na Era da Técnica’ é o quarto de uma tetralogia. ‘Jerusalém’ foi o terceiro. Já tinham saído ‘Klaus Klump’ e ‘A Máquina de Joseph Walser’. Estes são os livros pretos, que têm um ambiente comum. Mais do que uma personagem, interessam-me os temas: a loucura em ‘Jerusalém’, a violência nos outros. O último tem mais a ver com o contraste entre as ambições políticas e as fraquezas do corpo.
- Os seus livros são políticos?
- Interessa-me a política. Não a política partidária, até porque cada vez mais o menos político são os partidos, transformados em associações de qualquer coisa que não tem a ver com o sentido político (de polis, cidade). Interessa-me a política para perceber como funciona o ser humano. Trata-se de gerir expectativas, ambições e violência. Quanto mais se conhecer os homens melhor político se será no seu sentido amplo.
- Onde estão esses políticos, que o cidadão não dá por eles?
- Os políticos que pertencem aos partidos são cada vez mais pessoas que percebem menos dos homens. É trágico. A política transformou-se numa aprendizagem do discurso, de argumentar e refutar a argumentação do outro. Transformou-se numa arte da palavra, da gestão da palavra e não das coisas, muito menos dos homens. Os políticos deviam ler mais e viver mais para perceber os homens. Não têm experiências, têm discursos. - Mentir faz parte dessa arte?- A arte do discurso político é a arte de dizer as coisas sem mentir explicitamente. É quase sempre a arte de não mentir dizendo as coisas da forma mais conveniente. Transformou-se numa segunda linguagem. Hoje, mais do que saber disparar uma arma, um cidadão precisa, para defender-se, de perceber alguma coisa de linguagem. Os truques.
- Como assim? -
Um título recente no jornal dizia: ‘deficientes vão deixar de poder acumular dois subsídios.’ Era a frase de um político. Quem a lê, à primeira, se não souber de onde vem, quem a diz e qual é a intenção, associa “acumular” a alguém ganancioso, usurpador daquilo a que não tem direito. Já “subsídio” remete para não fazer nada e receber algo. Afinal, o que estava em causa eram deficientes que recebiam 20 euros de um subsídio, 15 de outro e cortaram-lhes um. É a isto que me refiro quando digo que as frases formam uma camada de engano.
- Ou seja, enganam sem mentir?
- Aquela frase não era mentira. Eliminava-se a acumulação de subsídios, mas quem lê pensa que se está a tirar de um grande privilegiado uma benesse quando se estava a tirar a uma pessoa deficiente 15 euros em 35. É repugnante.
- Como combater a mistificação?
- Um país sensato devia proporcionar aos cidadãos aulas de linguística para perceberem as questões da linguagem, o subliminar, o subtexto...
- Mas isso não interessa ao poder.
- Não, claro que não.
- ‘Aprender a Rezar na Era da Técnica’ evoca o poder divino.
- Tal como ‘Jerusalém’, não é um título descritivo. Espero que as pessoas leiam o livro e perguntem o porquê do título. O que atravessa o livro é o conflito entre a tecnologia e a crença, entre a racionalidade pura e a crença. Este conflito parece estar ultrapassado mas volta sempre. É interessante pensar como é que no século XXI, da máquina, a crença resiste. Espero que depois de lerem o livro as pessoas pensem: como é que rezaremos hoje? Será que faz sentido rezar hoje como rezávamos antes? Porque a paisagem alterou-se por completo.
- De que lado está nesse conflito? Do lado da razão?
- Há conflito se assumirmos que tendo um elemento não temos o outro, que sendo crentes não somos racionais, e sendo racionais não somos crentes. Eu respeito a crença. Procuro fortalecer a minha crença e acho até que sou bastante religioso.
- Religioso em que sentido?
- Não me sinto próximo da Igreja, mas sinto-me cada vez mais religioso. Quando vejo um crente convicto invejo-o. Posso admirar um Físico por uma teoria extraordinária. Mas também são admiráveis pessoas com uma crença que sujeita toda a sua vida. Sinto que ainda não sou suficientemente crente e, ao mesmo tempo, é estranho porque é uma coisa que não se pode trabalhar. Não posso estudar para ser crente.
- Passou dez anos a levantar-se todos os dias às cinco para escrever. Isso não é ser crente?
- É a parte que mais admiro no meu percurso. Eu soube desde cedo o que queria fazer e isso às vezes é difícil. Desde os 19 ou 20 anos, sem perder o resto da vida, consegui seguir uma disciplina de escrita e leitura. Só agora, à distância, vejo que uma pessoa levantar-se às cinco e meia da manhã para ler e escrever, sem ter um chefe a dizer-lhe que tem de fazê-lo, não é normal.
- Principalmente aos 19 anos... Onde foi buscar tanta força?
- Se calhar a um tipo de crença. Isto é uma parte quase maníaca, de fixação, e a crença tem muito a ver com fixação.
- Abdicou de viver para escrever?
- Não abdiquei de nada. Nunca fui o miúdo que estava sozinho. Sempre fui muito físico e social, com o tempo é que passei a isolar-me mais. Tive uma infância – aquela coisa de jogar à bola, os namoros – muito intensa. Depois a partir de uma determinada altura, acontecesse o que acontecesse, eu às cinco e meia da manhã estava acordado.
- Como é a sua rotina diária hoje?
- Depende dos períodos. Entre os 20 e os 30 anos devo ter perdido, sem exagero, sete ou oito manhãs num ano. No máximo. Já não é possível. Os livros começam a ser traduzidos em vários países e tenho de deslocar-me. É outro ritmo.
- E agora é professor e pai...
- Depois do período de turbulência, tento recuperar o meu centro. Neste momento, com filhos, acontece perder-me por completo durante três ou quatro dias, o que não sucedia antes. Depois tenho de voltar ao meu centro.
- Começou a escrever aos 19 e...
- Não, comecei antes. Os meus pais devem ter em casa uns poemas, dos 13 ou 14 anos, que é giro guardar por recordação. Quando digo que comecei a escrever refiro-me à parte da disciplina .
- ... e a ler?
- Tanto ler como escrever surgiram muito cedo. Não é só de escrita a disciplina de que falo. É de escrever e ler. Eu sempre li. A partir de certa altura passei a ler mais. Leio todos os dias e se não o faço sinto a falta de algo.
- Como escolhe os livros que lê?
- Quase naturalmente criei um critério de duração. Se os livros já passaram gerações e continuam a ser lidos é porque são bons. Desde novo segui esse critério. Depois fui-me cruzando com pessoas que me aconselharam, mas tudo passa por não estar fascinado com a última coisa que saiu.
- E não perde as novidades?
- Não. Eu leio muito a literatura contemporânea. Nos primeiros tempos li os clássicos e agora tenho disponibilidade para ler obras mais recentes. Misturo. Normalmente ando com quatro ou cinco livros - ensaio, poesia, romance... Um livro que foi escrito há mil ou há 200 anos e outro há um ano.
- Essa mistura de géneros também se nota nos seus livros...
- Se calhar tem a ver com o método de leitura. Talvez saia na escrita. O mais normal é estar a ler dez ao mesmo tempo e passar de um para o outro É artificial pensar que há romance puro, poesia pura, ensaio puro. Não me agrada essa ideia de pureza. Quem escreve trabalha com o alfabeto e não com géneros literários. Gosto da ideia de impureza de géneros. Não há livros que sejam 100 % romance. As classificações têm mais a ver com o tom do livro.
- Ter lido as melhores obras não paralisa a escrita? Pois se já outros o escreveram tão bem...
- O que me paralisa é ler um livro mau ou ver um filme mau. Ler um livro bom ou ver filmes bons estimula-me. Há filmes que acabo de ver com vontade de fazer coisas e outros que acabo de ver e simplesmente acabo de vê-los – não tenho vontade de fazer nada. Por isso quero que se escrevam livros bons. Isso faz-me mais forte porque os leio.
- Inspira-se no que lê. E no real?
- Está tudo misturado. Um dos momentos mais criativos é quando ando pela cidade e observo as pessoas. Nos cafés tento observar os pequenos conflitos. Não se trata de estar a ver uma situação e tirar dali uma ideia, mas consigo perceber o que está a acontecer, o jogo de poder que existe entre um casal sentado a uma mesa, os atritos. Sou influenciado pelos livros, pelos filmes, mas também por estas observações, pela minha experiência e vida.
- A sua vida está nos livros?
- Não gosto de falar da minha biografia, mas é evidente que sou influenciado pelo que vivi, pelas viagens, as durezas que sofri. Está tudo misturado.
- Klaus Klump, Lenz Buchmann... porque é que as personagens dos romances têm nomes alemães?
- Está relacionado com os títulos dos livros, que também não têm uma justificação racional total. É como se tivessem que ter aquele nome e não outro. Os nomes apareceram naturalmente nos romances por causa do ambiente, que tem muito a ver com o meio do século e o meio da Europa.
- Ou seja, com a loucura da guerra. Por isso são tão sombrios?
- Os Senhores são luminosos. É o que me salva. (risos). Percebi que ter chamado à série dos Senhores o Bairro e aos romances o Reino tem significado. O Bairro é acolhedor. O Reino é um sítio grande onde estamos perdidos, temos medo e se temos medo podemos ser violentos. Mas não há pureza. Há partes luminosas em ‘Aprender a Rezar na Era da Técnica’. E o Senhor Valéry, que é divertido, tem uma parte melancólica. O Senhor Brecht tem partes duras. Provavelmente, no futuro, haverá mais contaminação: os romances terão mais luz e os Senhores alguma escuridão.
- Como é que se sai da escrita de um livro como ‘Jerusalém’?
- Estive 15 dias desfeito, sem fazer nada. Tinha a sensação de estar destruído. O que faço para sair é escrever um Senhor. Há uma parte de dureza que a literatura tem de mostrar e eu, nos romances, tento mostrar que o bicho-homem é muito mau quando quer. Mas não me parece que seja útil estar sempre a dizer que o Homem é mau. Também é capaz de coisas extraordinárias.
- Como é o seu processo de escrita?
- Há dois momentos. O momento em que escrevo, que não é racional. Não o domino, não sei como faço. Depois, passado um ano, olho para a matéria bruta e corto. Nesta altura sei como faço.
- O que fica da matéria bruta?
- Tiro muito. Normalmente, não acrescento. Reduzo, corto, uma ou outra vez junto um pormenor. Posso tirar 20 páginas. Um dia publico tudo o que eliminei dos romances. Trabalhar a matéria bruta é como fazer escultura - a pedra está lá toda e a única coisa que tenho de fazer mais tarde é tirar bocados.
- Tem medo que um dia a máquina que faz a matéria bruta pare?
- Sim. Tento começar a escrever com a percepção de que as primeiras páginas são uma espécie de aquecimento. Continuo a escrever mesmo que sinta que não faz sentido nenhum. A primeira frase certa aparece ao fim de uma hora e a partir daí a coisa encaminha-se. Mas se eu não tivesse passado a primeira hora a escrever disparates não teria conseguido escrever a primeira frase.
- Professor de Epistemologia, pai de três crianças, escritor premiado, alguma vez dorme?
- Podemos criar todas as razões e mais algumas para não escrever mas isso tem muito mais a ver com a vontade e as condições interiores do que as exteriores. Já tive o tempo muito mais livre e não escrevia. Já tive um atelier e não escrevia. E houve tempos em que tinha só uma mesa e uma filha a adormecer nos joelhos e escrevia.
- Podia ter sido professor de Educação Física?
- Não, mas podia ter sido futebolista. Joguei futebol durante muitos anos, mesmo como federado. Aos 18 anos, como sempre fui bom aluno, podia entrar em qualquer faculdade, mas pendia para ser futebolista. É engraçado – parece que estou a falar de outra pessoa.
- E então, o que aconteceu?
- A dúvida era ir para a Matemática pura ou ser futebolista profissional. Na altura jogava no Beira-Mar como Júnior. Pensava ficar em Aveiro, tirar o curso de Matemática e jogar futebol. Como tinha grande paixão pelo desporto, acabei em Educação Física. Depois tirei o mestrado em Pintura na Universidade Nova e fui-me afastando do desporto. Fiz a seguir um doutoramento ligado a Linguagem. Mas a experiência do corpo calhou bem e ter jogado futebol, juntamente com os livros, resultou numa mistura estranha. Permitiu-me não me alhear completamente da realidade.
- Onde entra a filosofia?
- Pelas leituras. A parte académica propriamente dita é secundária. O que mais me influenciou foram as leituras. - É um trajecto invulgar...- Pode ter a ver com o instinto de curiosidade. Fiz o mestrado em Ciências da Comunicação, centrado na linguagem, e ao escolher o tema da tese perguntei--me: ‘Do que é que sei menos?’ ‘De imagem.’ Fiz uma tese sobre Pintura. Interesso-me pelo que não domino. Pela ciência, porque sinto que sei pouco.
- Esperava os prémios?
- As coisas aconteceram naturalmente. Em pouco tempo apareceram seis prémios, o que é óptimo, mas é, apesar de tudo, secundário. E isto só aconteceu por causa dos dez anos em que fui paciente e li muito. É chocante ver pessoas que começam a escrever sem ler. No Brasil há uma corrente de escritores que assumem não ler. Têm como influência o cinema.- Como é que uma pessoa pode saber se está a fazer algo novo se não leu nada?- O problema é que o público também não leu e toma-a como nova.Também há isso. Quanto aos prémios, claro que é agradável recebê-los, mas se por acaso não tivesse ganho qualquer prémio, teria a mesma confiança nos livros que tenho. Eu comecei tarde porque queria começar com confiança.
- Escreve para pessoas que já leram Thomas Mann, Musil...
- Não. Espero é que não leiam os meus livros como uma pessoa vê um programa de televisão. Não ficaria contente se exigissem tão pouca atenção dos leitores como um concurso televisivo.
- Depois de 21 livros para onde vai como escritor?
- ‘Aprender a Rezar na Era da Técnica’ fecha um ciclo e em princípio abrirá outro. Interessa-me cada vez mais a ciência. Penso que pode passar por aí. Não sei bem como. As pessoas vão mudando e a ideia de mudar agrada-me. Não gostaria de chegar aos 70 anos com a sensação de que escrevi sempre o mesmo livro.
HÁ UM TEMPO PARA ESCREVER E UM TEMPO PARA PEGAR NA MATÉRIA BRUTA E TIRAR O QUE NÃO SERVE. Há ainda um tempo para publicar.
Aos 25 anos, Gonçalo M. Tavares não tinha publicado nada, mas já sabia ser um escritor. Sentia-se um. Os livros foram publicados de rajada. Hoje diz que é agradável receber prémios, mas melhor ainda é acreditar nos livros que escreve. “Sempre confiei no que fazia.” Há-de ser essa confiança que o faz sentir-se, cada vez mais, um homem religioso, capaz de admirar tanto um físico brilhante como um crente convicto. Só lamenta não ser possível estudar para tornar-se crente. Ou Gonçalo M. Tavares já o seria.NUNCA ESTAR ASSIM TÃO PRÓXIMO Excerto do romance ‘Aprender a Rezar na Era da Técnica’ (Caminho), que se segue a ‘Jerusalém’. ‘Aprender a Rezar na Era da Técnica’ é a história da força, doença e morte de Lenz Buchmann, um cirurgião que se vê, a certa altura, tentado pela via política.“Dadas as suas capacidades intelectuais? a sua cultura flexível contrastava com o monopólio de certas ideias que dominavam a maior parte das cabeças dos que agora eram seus pares?, Lenz Buchmann rapidamente subiu no Partido. Lenz Buchmann, assim, sempre: o apelido tornara-se uma exigência do primeiro nome; o vocábulo Lenz ganhara apetite? espectador que quer ter alguém na cadeira ao lado, para assim olhar, acompanhado, o mundo. Posto de vigia, esse, que ganhara uma nova importância com a associação do apelido.Lenz aprendia então com velocidade novos conteúdos. Não a nova matemática ou a nova física, mas a velha ciência de ligação e separação dos homens.
Alianças e declarações de guerra eram amputadas, é certo, da sua virilidade final mas permaneciam, na sua essência, em todas as relações humanas dentro do Partido. Habituado a lidar sozinho com as circunstâncias da vingança de células particulares em relação a um corpo, Lenz estava agora «com mais gente ao lado».
A sua equipa médica nas operações mais complicadas nunca ultrapassara as sete pessoas, e agora ele via-se envolvido em reuniões em que as suas declarações eram escutadas por dezenas de colegas de Partido.Estes encontros políticos revelavam uma espécie de energia magnética que funcionava ou não dentro de um grupo, ligando os seus elementos constituintes de uma ponta à outra.Este sentimento de comunidade era uma das invenções deste novo tempo em que Lenz entrara.Não tinham sido discutidos pressupostos, ou seja, homens vindos de sangues completamente distintos, de famílias que nunca se haviam cruzado na cama ou nos grandes pactos de rendição ou de declaração de vitória, estavam agora, lado a lado, parecendo, afinal, ter combatido durante séculos no mesmo exército”.
PERFIL: Gonçalo M. Tavares nasceu em 1970 em Luanda, Angola. Cresceu em Aveiro e jogou futebol no Beira-Mar. Licenciou-se em Educação Física na Faculdade de Motricidade Humana e fez mestrado em Ciências da Comunicação na U.Nova com uma tese sobre Pintura. Doutorou-se em Literatura, Linguagem e Filosofia. Publicou o primeiro livro – ‘O Livro da Dança’ – em 2001 e desde então não parou. Com o romance ‘Jerusalém’ recebeu o Prémio PT de Literatura no Brasil. Gonçalo M. Tavares é cronista na revista Domingo.
Gonçalo M. Tavares apresenta-se com a mochila onde costuma trazer cinco dos dez livros que lê ao mesmo tempo. Romance, poesia, ensaio. Livros de há séculos e do ano passado trocam páginas na sacola. Misturam-se. É o mesmo com os que escreve. Impuros. Gosta da ideia de contaminação de géneros. Os críticos, a julgar pelos prémios, também. Quem semeia colhe e ele semeou: entre os 20 e os 30 anos madrugou todos os dias para ler e escrever. Só a partir dos 31 publicou. De rajada. Às livrarias chega esta semana ‘Aprender a Rezar na Era da Técnica’, onde aborda o contraste entre as ambições políticas e os limites do corpo. Gonçalo M. Tavares tem três filhos. É professor de Epistemologia. Podia ter sido... futebolista
'Não gostaria de chegar aos 70 anos com a sensação de ter escrito sempre o mesmo livro', afirma Gonçalo M. Tavares
- Como é possível ter publicado 21 livros em seis anos?
- A maior parte dos livros estava escrita antes de publicar o primeiro. Só publiquei aos 31 anos. Entre os 20 e os 30 escrevi muito. Só agora começo a ficar actual, embora aguarde sempre um ou dois anos antes de publicar.
- ‘Aprender a Rezar na Era da Técnica’ ainda é do baú?
- É um livro recente. Demorei muitos anos a escrevê-lo. Devo ter começado em 2001, voltei, cortei, anda há muito tempo comigo mas é recente. É a história de Lenz Buchmann e está dividido em três partes – força, doença e morte.
- Qual é o seu ponto de partida para um livro?
- ‘Aprender a Rezar na Era da Técnica’ é o quarto de uma tetralogia. ‘Jerusalém’ foi o terceiro. Já tinham saído ‘Klaus Klump’ e ‘A Máquina de Joseph Walser’. Estes são os livros pretos, que têm um ambiente comum. Mais do que uma personagem, interessam-me os temas: a loucura em ‘Jerusalém’, a violência nos outros. O último tem mais a ver com o contraste entre as ambições políticas e as fraquezas do corpo.
- Os seus livros são políticos?
- Interessa-me a política. Não a política partidária, até porque cada vez mais o menos político são os partidos, transformados em associações de qualquer coisa que não tem a ver com o sentido político (de polis, cidade). Interessa-me a política para perceber como funciona o ser humano. Trata-se de gerir expectativas, ambições e violência. Quanto mais se conhecer os homens melhor político se será no seu sentido amplo.
- Onde estão esses políticos, que o cidadão não dá por eles?
- Os políticos que pertencem aos partidos são cada vez mais pessoas que percebem menos dos homens. É trágico. A política transformou-se numa aprendizagem do discurso, de argumentar e refutar a argumentação do outro. Transformou-se numa arte da palavra, da gestão da palavra e não das coisas, muito menos dos homens. Os políticos deviam ler mais e viver mais para perceber os homens. Não têm experiências, têm discursos. - Mentir faz parte dessa arte?- A arte do discurso político é a arte de dizer as coisas sem mentir explicitamente. É quase sempre a arte de não mentir dizendo as coisas da forma mais conveniente. Transformou-se numa segunda linguagem. Hoje, mais do que saber disparar uma arma, um cidadão precisa, para defender-se, de perceber alguma coisa de linguagem. Os truques.
- Como assim? -
Um título recente no jornal dizia: ‘deficientes vão deixar de poder acumular dois subsídios.’ Era a frase de um político. Quem a lê, à primeira, se não souber de onde vem, quem a diz e qual é a intenção, associa “acumular” a alguém ganancioso, usurpador daquilo a que não tem direito. Já “subsídio” remete para não fazer nada e receber algo. Afinal, o que estava em causa eram deficientes que recebiam 20 euros de um subsídio, 15 de outro e cortaram-lhes um. É a isto que me refiro quando digo que as frases formam uma camada de engano.
- Ou seja, enganam sem mentir?
- Aquela frase não era mentira. Eliminava-se a acumulação de subsídios, mas quem lê pensa que se está a tirar de um grande privilegiado uma benesse quando se estava a tirar a uma pessoa deficiente 15 euros em 35. É repugnante.
- Como combater a mistificação?
- Um país sensato devia proporcionar aos cidadãos aulas de linguística para perceberem as questões da linguagem, o subliminar, o subtexto...
- Mas isso não interessa ao poder.
- Não, claro que não.
- ‘Aprender a Rezar na Era da Técnica’ evoca o poder divino.
- Tal como ‘Jerusalém’, não é um título descritivo. Espero que as pessoas leiam o livro e perguntem o porquê do título. O que atravessa o livro é o conflito entre a tecnologia e a crença, entre a racionalidade pura e a crença. Este conflito parece estar ultrapassado mas volta sempre. É interessante pensar como é que no século XXI, da máquina, a crença resiste. Espero que depois de lerem o livro as pessoas pensem: como é que rezaremos hoje? Será que faz sentido rezar hoje como rezávamos antes? Porque a paisagem alterou-se por completo.
- De que lado está nesse conflito? Do lado da razão?
- Há conflito se assumirmos que tendo um elemento não temos o outro, que sendo crentes não somos racionais, e sendo racionais não somos crentes. Eu respeito a crença. Procuro fortalecer a minha crença e acho até que sou bastante religioso.
- Religioso em que sentido?
- Não me sinto próximo da Igreja, mas sinto-me cada vez mais religioso. Quando vejo um crente convicto invejo-o. Posso admirar um Físico por uma teoria extraordinária. Mas também são admiráveis pessoas com uma crença que sujeita toda a sua vida. Sinto que ainda não sou suficientemente crente e, ao mesmo tempo, é estranho porque é uma coisa que não se pode trabalhar. Não posso estudar para ser crente.
- Passou dez anos a levantar-se todos os dias às cinco para escrever. Isso não é ser crente?
- É a parte que mais admiro no meu percurso. Eu soube desde cedo o que queria fazer e isso às vezes é difícil. Desde os 19 ou 20 anos, sem perder o resto da vida, consegui seguir uma disciplina de escrita e leitura. Só agora, à distância, vejo que uma pessoa levantar-se às cinco e meia da manhã para ler e escrever, sem ter um chefe a dizer-lhe que tem de fazê-lo, não é normal.
- Principalmente aos 19 anos... Onde foi buscar tanta força?
- Se calhar a um tipo de crença. Isto é uma parte quase maníaca, de fixação, e a crença tem muito a ver com fixação.
- Abdicou de viver para escrever?
- Não abdiquei de nada. Nunca fui o miúdo que estava sozinho. Sempre fui muito físico e social, com o tempo é que passei a isolar-me mais. Tive uma infância – aquela coisa de jogar à bola, os namoros – muito intensa. Depois a partir de uma determinada altura, acontecesse o que acontecesse, eu às cinco e meia da manhã estava acordado.
- Como é a sua rotina diária hoje?
- Depende dos períodos. Entre os 20 e os 30 anos devo ter perdido, sem exagero, sete ou oito manhãs num ano. No máximo. Já não é possível. Os livros começam a ser traduzidos em vários países e tenho de deslocar-me. É outro ritmo.
- E agora é professor e pai...
- Depois do período de turbulência, tento recuperar o meu centro. Neste momento, com filhos, acontece perder-me por completo durante três ou quatro dias, o que não sucedia antes. Depois tenho de voltar ao meu centro.
- Começou a escrever aos 19 e...
- Não, comecei antes. Os meus pais devem ter em casa uns poemas, dos 13 ou 14 anos, que é giro guardar por recordação. Quando digo que comecei a escrever refiro-me à parte da disciplina .
- ... e a ler?
- Tanto ler como escrever surgiram muito cedo. Não é só de escrita a disciplina de que falo. É de escrever e ler. Eu sempre li. A partir de certa altura passei a ler mais. Leio todos os dias e se não o faço sinto a falta de algo.
- Como escolhe os livros que lê?
- Quase naturalmente criei um critério de duração. Se os livros já passaram gerações e continuam a ser lidos é porque são bons. Desde novo segui esse critério. Depois fui-me cruzando com pessoas que me aconselharam, mas tudo passa por não estar fascinado com a última coisa que saiu.
- E não perde as novidades?
- Não. Eu leio muito a literatura contemporânea. Nos primeiros tempos li os clássicos e agora tenho disponibilidade para ler obras mais recentes. Misturo. Normalmente ando com quatro ou cinco livros - ensaio, poesia, romance... Um livro que foi escrito há mil ou há 200 anos e outro há um ano.
- Essa mistura de géneros também se nota nos seus livros...
- Se calhar tem a ver com o método de leitura. Talvez saia na escrita. O mais normal é estar a ler dez ao mesmo tempo e passar de um para o outro É artificial pensar que há romance puro, poesia pura, ensaio puro. Não me agrada essa ideia de pureza. Quem escreve trabalha com o alfabeto e não com géneros literários. Gosto da ideia de impureza de géneros. Não há livros que sejam 100 % romance. As classificações têm mais a ver com o tom do livro.
- Ter lido as melhores obras não paralisa a escrita? Pois se já outros o escreveram tão bem...
- O que me paralisa é ler um livro mau ou ver um filme mau. Ler um livro bom ou ver filmes bons estimula-me. Há filmes que acabo de ver com vontade de fazer coisas e outros que acabo de ver e simplesmente acabo de vê-los – não tenho vontade de fazer nada. Por isso quero que se escrevam livros bons. Isso faz-me mais forte porque os leio.
- Inspira-se no que lê. E no real?
- Está tudo misturado. Um dos momentos mais criativos é quando ando pela cidade e observo as pessoas. Nos cafés tento observar os pequenos conflitos. Não se trata de estar a ver uma situação e tirar dali uma ideia, mas consigo perceber o que está a acontecer, o jogo de poder que existe entre um casal sentado a uma mesa, os atritos. Sou influenciado pelos livros, pelos filmes, mas também por estas observações, pela minha experiência e vida.
- A sua vida está nos livros?
- Não gosto de falar da minha biografia, mas é evidente que sou influenciado pelo que vivi, pelas viagens, as durezas que sofri. Está tudo misturado.
- Klaus Klump, Lenz Buchmann... porque é que as personagens dos romances têm nomes alemães?
- Está relacionado com os títulos dos livros, que também não têm uma justificação racional total. É como se tivessem que ter aquele nome e não outro. Os nomes apareceram naturalmente nos romances por causa do ambiente, que tem muito a ver com o meio do século e o meio da Europa.
- Ou seja, com a loucura da guerra. Por isso são tão sombrios?
- Os Senhores são luminosos. É o que me salva. (risos). Percebi que ter chamado à série dos Senhores o Bairro e aos romances o Reino tem significado. O Bairro é acolhedor. O Reino é um sítio grande onde estamos perdidos, temos medo e se temos medo podemos ser violentos. Mas não há pureza. Há partes luminosas em ‘Aprender a Rezar na Era da Técnica’. E o Senhor Valéry, que é divertido, tem uma parte melancólica. O Senhor Brecht tem partes duras. Provavelmente, no futuro, haverá mais contaminação: os romances terão mais luz e os Senhores alguma escuridão.
- Como é que se sai da escrita de um livro como ‘Jerusalém’?
- Estive 15 dias desfeito, sem fazer nada. Tinha a sensação de estar destruído. O que faço para sair é escrever um Senhor. Há uma parte de dureza que a literatura tem de mostrar e eu, nos romances, tento mostrar que o bicho-homem é muito mau quando quer. Mas não me parece que seja útil estar sempre a dizer que o Homem é mau. Também é capaz de coisas extraordinárias.
- Como é o seu processo de escrita?
- Há dois momentos. O momento em que escrevo, que não é racional. Não o domino, não sei como faço. Depois, passado um ano, olho para a matéria bruta e corto. Nesta altura sei como faço.
- O que fica da matéria bruta?
- Tiro muito. Normalmente, não acrescento. Reduzo, corto, uma ou outra vez junto um pormenor. Posso tirar 20 páginas. Um dia publico tudo o que eliminei dos romances. Trabalhar a matéria bruta é como fazer escultura - a pedra está lá toda e a única coisa que tenho de fazer mais tarde é tirar bocados.
- Tem medo que um dia a máquina que faz a matéria bruta pare?
- Sim. Tento começar a escrever com a percepção de que as primeiras páginas são uma espécie de aquecimento. Continuo a escrever mesmo que sinta que não faz sentido nenhum. A primeira frase certa aparece ao fim de uma hora e a partir daí a coisa encaminha-se. Mas se eu não tivesse passado a primeira hora a escrever disparates não teria conseguido escrever a primeira frase.
- Professor de Epistemologia, pai de três crianças, escritor premiado, alguma vez dorme?
- Podemos criar todas as razões e mais algumas para não escrever mas isso tem muito mais a ver com a vontade e as condições interiores do que as exteriores. Já tive o tempo muito mais livre e não escrevia. Já tive um atelier e não escrevia. E houve tempos em que tinha só uma mesa e uma filha a adormecer nos joelhos e escrevia.
- Podia ter sido professor de Educação Física?
- Não, mas podia ter sido futebolista. Joguei futebol durante muitos anos, mesmo como federado. Aos 18 anos, como sempre fui bom aluno, podia entrar em qualquer faculdade, mas pendia para ser futebolista. É engraçado – parece que estou a falar de outra pessoa.
- E então, o que aconteceu?
- A dúvida era ir para a Matemática pura ou ser futebolista profissional. Na altura jogava no Beira-Mar como Júnior. Pensava ficar em Aveiro, tirar o curso de Matemática e jogar futebol. Como tinha grande paixão pelo desporto, acabei em Educação Física. Depois tirei o mestrado em Pintura na Universidade Nova e fui-me afastando do desporto. Fiz a seguir um doutoramento ligado a Linguagem. Mas a experiência do corpo calhou bem e ter jogado futebol, juntamente com os livros, resultou numa mistura estranha. Permitiu-me não me alhear completamente da realidade.
- Onde entra a filosofia?
- Pelas leituras. A parte académica propriamente dita é secundária. O que mais me influenciou foram as leituras. - É um trajecto invulgar...- Pode ter a ver com o instinto de curiosidade. Fiz o mestrado em Ciências da Comunicação, centrado na linguagem, e ao escolher o tema da tese perguntei--me: ‘Do que é que sei menos?’ ‘De imagem.’ Fiz uma tese sobre Pintura. Interesso-me pelo que não domino. Pela ciência, porque sinto que sei pouco.
- Esperava os prémios?
- As coisas aconteceram naturalmente. Em pouco tempo apareceram seis prémios, o que é óptimo, mas é, apesar de tudo, secundário. E isto só aconteceu por causa dos dez anos em que fui paciente e li muito. É chocante ver pessoas que começam a escrever sem ler. No Brasil há uma corrente de escritores que assumem não ler. Têm como influência o cinema.- Como é que uma pessoa pode saber se está a fazer algo novo se não leu nada?- O problema é que o público também não leu e toma-a como nova.Também há isso. Quanto aos prémios, claro que é agradável recebê-los, mas se por acaso não tivesse ganho qualquer prémio, teria a mesma confiança nos livros que tenho. Eu comecei tarde porque queria começar com confiança.
- Escreve para pessoas que já leram Thomas Mann, Musil...
- Não. Espero é que não leiam os meus livros como uma pessoa vê um programa de televisão. Não ficaria contente se exigissem tão pouca atenção dos leitores como um concurso televisivo.
- Depois de 21 livros para onde vai como escritor?
- ‘Aprender a Rezar na Era da Técnica’ fecha um ciclo e em princípio abrirá outro. Interessa-me cada vez mais a ciência. Penso que pode passar por aí. Não sei bem como. As pessoas vão mudando e a ideia de mudar agrada-me. Não gostaria de chegar aos 70 anos com a sensação de que escrevi sempre o mesmo livro.
HÁ UM TEMPO PARA ESCREVER E UM TEMPO PARA PEGAR NA MATÉRIA BRUTA E TIRAR O QUE NÃO SERVE. Há ainda um tempo para publicar.
Aos 25 anos, Gonçalo M. Tavares não tinha publicado nada, mas já sabia ser um escritor. Sentia-se um. Os livros foram publicados de rajada. Hoje diz que é agradável receber prémios, mas melhor ainda é acreditar nos livros que escreve. “Sempre confiei no que fazia.” Há-de ser essa confiança que o faz sentir-se, cada vez mais, um homem religioso, capaz de admirar tanto um físico brilhante como um crente convicto. Só lamenta não ser possível estudar para tornar-se crente. Ou Gonçalo M. Tavares já o seria.NUNCA ESTAR ASSIM TÃO PRÓXIMO Excerto do romance ‘Aprender a Rezar na Era da Técnica’ (Caminho), que se segue a ‘Jerusalém’. ‘Aprender a Rezar na Era da Técnica’ é a história da força, doença e morte de Lenz Buchmann, um cirurgião que se vê, a certa altura, tentado pela via política.“Dadas as suas capacidades intelectuais? a sua cultura flexível contrastava com o monopólio de certas ideias que dominavam a maior parte das cabeças dos que agora eram seus pares?, Lenz Buchmann rapidamente subiu no Partido. Lenz Buchmann, assim, sempre: o apelido tornara-se uma exigência do primeiro nome; o vocábulo Lenz ganhara apetite? espectador que quer ter alguém na cadeira ao lado, para assim olhar, acompanhado, o mundo. Posto de vigia, esse, que ganhara uma nova importância com a associação do apelido.Lenz aprendia então com velocidade novos conteúdos. Não a nova matemática ou a nova física, mas a velha ciência de ligação e separação dos homens.
Alianças e declarações de guerra eram amputadas, é certo, da sua virilidade final mas permaneciam, na sua essência, em todas as relações humanas dentro do Partido. Habituado a lidar sozinho com as circunstâncias da vingança de células particulares em relação a um corpo, Lenz estava agora «com mais gente ao lado».
A sua equipa médica nas operações mais complicadas nunca ultrapassara as sete pessoas, e agora ele via-se envolvido em reuniões em que as suas declarações eram escutadas por dezenas de colegas de Partido.Estes encontros políticos revelavam uma espécie de energia magnética que funcionava ou não dentro de um grupo, ligando os seus elementos constituintes de uma ponta à outra.Este sentimento de comunidade era uma das invenções deste novo tempo em que Lenz entrara.Não tinham sido discutidos pressupostos, ou seja, homens vindos de sangues completamente distintos, de famílias que nunca se haviam cruzado na cama ou nos grandes pactos de rendição ou de declaração de vitória, estavam agora, lado a lado, parecendo, afinal, ter combatido durante séculos no mesmo exército”.
PERFIL: Gonçalo M. Tavares nasceu em 1970 em Luanda, Angola. Cresceu em Aveiro e jogou futebol no Beira-Mar. Licenciou-se em Educação Física na Faculdade de Motricidade Humana e fez mestrado em Ciências da Comunicação na U.Nova com uma tese sobre Pintura. Doutorou-se em Literatura, Linguagem e Filosofia. Publicou o primeiro livro – ‘O Livro da Dança’ – em 2001 e desde então não parou. Com o romance ‘Jerusalém’ recebeu o Prémio PT de Literatura no Brasil. Gonçalo M. Tavares é cronista na revista Domingo.
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