quinta-feira, fevereiro 26, 2009
Teço-a continuamente, porque uma vez ela foi rasgada. Mas como desejo que as teias sejam sempre verdadeiras, não sei como romper as que são falsas.
(…) Sinto, como Dostoievski, que o intelecto está na origem de tudo o que não é. Das falsidades. Prefiro a zona das paixões, mesmo com as tempestades. (…)”
Anais Nin – Diário, Vol. III
domingo, fevereiro 22, 2009
Pierre Gonnord
sábado, fevereiro 21, 2009
CRIAR
apesar do align="justify"
apesar de ser contra este modelo de avaliação, como o era também no modelo anterior, entendi que o ser a favor de uma avaliação profissional prevalecia.
Por isso fiz greve,
por isso manifestei a minha solidariedade,
por isso observei.
propus-me ser avaliada no que faço e no que não faço!
no que sou e no que não sou!
e, dentro das regras impostas, hei-de procurar sempre sugerir a criação de "pontes"...porque antes das regras impostas agora, estavam outras regras impostas outrora, o segredo é talvez ainda acreditar que se cria, sempre.
Vicente Zatti
incluído no site em 18/09/2005
"A vontade de poder leva à transvaloração dos valores, ou seja, criação dos valores"
"Larrosa coloca esse papel criativo como a arte de fazer com que cada um torne-se a si, desenvolva suas potencialidades. “Chega a ser o que és! Talvez a arte da educação não seja outrora senão a arte de fazer com que cada um torne-se em si mesmo, até sua própria altura, até o melhor de suas possibilidades. Algo, naturalmente, que não se pode fazer de modo técnico nem de modo massificado”.
[p.49 LARROSA, Jorge. Nietzsche & a Educação. Trad. Alfredo Veiga-Neto. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. ]
(Alfredo Veiga-Neto esteve na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa com Thomas S. Popkewitz em 2008 - creio ter citado neste blog a conferência - realizada em 1 de Fev. 2008, com o tema "Crise da modernidade e inovações curriculares: da disciplina para o controle")
"O pensamento de Nietzsche é também para a educação uma provocação, por lançar suspeita nos fundamentos pedagógicos e um alerta, já que os sistemas de idéias não são neutros, são expressão de vontade de poder.
Por fim, abre espaço para pluralidade e aceitação das diferenças. Não há aluno ideal, nem todos se enquadram no modelo escolar moderno. Por isso temos que trabalhar com os alunos reais, aceitando as diferenças, o que abre espaço na escola para alunos que antes eram excluídos do processo educativo. Incluir sem negar as diferenças para que cada um possa tornar-se a si mesmo, é o desafio. "
Danilo Bilate – Doutorando e Mestre em Filosofia pelo PPGF/UFRJ
“O homem é uma corda estendida entre o animal e o além-do-homem – uma corda
sobre um abismo. É o perigo de transpô- lo, o perigo de estar a caminho, o perigo de
olhar para trás, o perigo de tremer e parar.O que há de grande, no homem, é ser
ponte, e não meta: (...) é ser ele uma transição e um ocaso”
Nietzsche, 1998, p.38).
Heidegger vale-se da imagem da ponte para mostrar que somos criaturas que
podem construir pontes porque podemos vivenciar o espaço aberto, as distâncias e,
sobretudo os abismos."
HEIDEGGER, Martin (2002), Ensaios e Conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro
Leão. Petrópolis, Vozes.
“Amo aquele que quer criar para além de si e, deste modo, perece”. Nietzsche em Assim Falou Zaratustra.
Nietzsche (1998), Assim Falou Zaratustra: um livro para todos e pra ninguém. Tradução
de Mário da Silva. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira
abordado o problema ‘do mundo real e do mundo aparente’, leva a pensar e a
espreitar; e quem aqui nada ouve no fundo, a não ser uma ‘vontade de verdade’,
certamente não goza da melhor audição. [...] Uma ambição metafísica de manter
um posto perdido, que afinal preferirá sempre um punhado de ‘certeza’ a toda uma
carroça de belas possibilidades; talvez haja inclusive fanáticos puritanos da
consciência, que prefiram um nada seguro a um algo incerto para deitar e morrer.
Mas isto é niilismo e sinal de uma alma em desespero, mortalmente cansada, por
mais que pareçam valentes os gestos de tal virtude."
"Além do bem e do mal"
"A partir dessa posição de combate à tradição metafísica, Nietzsche defende uma
aceitação, por parte do homem, de seu lugar de criador. Aceitação que não pode ser
confundida, sob quaisquer hipóteses, com uma resignação triste. Essa aceitação alegre e
apaixonada é a justificação estética da existência. O homem está condenado a produzir
sentido. Nietzsche, no entanto, ri dessa condenação, se alegra e se orgulha desse lugar
ao que o homem é condenado. Por quê? Porque ama ser artista. E com esse amor, amor
fati, ama a vida como ela é:
“Como fenômeno estético a existência ainda nos é suportável, e por meio da arte
nos são dados olhos e mãos e, sobretudo, boa consciência, para poder fazer de nós
mesmos um tal fenômeno. Ocasionalmente precisamos descansar de nós mesmos,
olhando-nos de cima e de longe e, de uma artística distância, rindo de nós ou
chorando por nós; precisamos descobrir o herói e também o tolo que há em nossa
paixão do conhecimento, precisamos nos alegrar com a nossa estupidez de vez em
quando, para poder continuar nos alegrando com a nossa sabedoria!”
(Nietzsche, F. Gaia ciência, p.107.)
NIETZSCHE, Friedrich. A gaia ciência. Trad. de Paulo César de Souza. São Paulo:
Companhia das Letras, 2001.
NIETZSCHE, Friedrich. Além do bem e do mal: prelúdio a uma filosofia do futuro. Trad. de Paulo César
de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
diários de viagem
“Este livro é dedicado aos desenhadores obsessivos, sejam viajantes ou não, aos obsecados pelo desenho, desenhem ou não, aos que tentam incutir noutros o desejo de desenhar, consigam ou não, aos que tentam eles próprios ter esse desejo, tenham ou não sucesso.” /
Eduardo Salavisa pertence ainda à Direcção da APECV (associação de professores de expressão e comunicação Visual)
É desta forma que somos convidados por Eduardo Salavisa, autor do livro “Diários de Viagem”, a embarcar nos “Cadernos de Esboços”, “Cadernos de Campo” ou “Diários Gráficos” de 35 autores contemporâneos e a passear pelos seus mundos privados, pulsantes de vida e espontaneidade. Este grupo inclui Frida Kahlo, Le Corbusier, Pablo Picasso, o próprio Eduardo Salavisa e os ilustradores científicos Pedro Fernandes e Pedro Salgado, entre outros. A edição é da “Quimera”. Boa viagem! / With those words we are invited by the author, Eduardo Salavisa, to embark inside the Sketchbooks of 35 contemporary authors and take part in a journey through their private, full of life and spontaneous worlds. The group include Frida Kahlo, Le Corbusier, Pablo Picasso, Eduardo Salavisa himself and science illustrators Pedro Fernandes and Pedro Salgado, among others. Edition by “Quimera”.
sexta-feira, fevereiro 20, 2009
quinta-feira, fevereiro 19, 2009
on the road
Pagaram caro, a ousadia de queimar em pouco tempo todos os cartuchos. Algumas coincidências, nestes percursos, são fascinantes. Anjos caídos de um inferno particular apontaram para o futuro e tocaram (sem a mínima cerimônia) os atalhos do absoluto.
Wallace Fowlie é atualmente um homem de muita idade. Nascido em 1918 é professor Emérito de Literatura Francesa da cátedra James.B. Duke da Duke University. É autor e tradutor de mais de trinta livros, dentre eles a Obra Completa de Rimbaud vertida para o inglês. Um erudito especializado em Proust, Claudel, Stendhal, Dante etc, e que nunca tinha tido sequer a curiosidade de escutar um disco de Rock'N'Roll até que recebeu uma carta curta que o deixou um tanto surpreendido: "Caro Wallace Fowlie, simplesmente queria agradecer-lhe pela tradução de Rimbaud. Eu precisava porque não leio francês tão facilmente(...) Sou cantor de Rock e seu livro me acompanha nas turnês. Jim Morrison".
No dia seguinte perguntou a seus alunos se alguém ali conhecia este cantor, para ele totalmente anônimo. A turma ficou muda e perplexa com tamanha ignorância. Ele então resolveu checar e arrumou os discos do The Doors para conferir. O fascínio com o radicalismo das letras de Morrison e a idolatria de seus alunos o transformaram em um inesperado admirador e daí em diante um estudioso de mais um poeta, mais um outsider que ao invés de ficar restrito aos livros e ao público leitor de poesia era um popstar de primeira grandeza, um ídolo de multidões ensandecidas que sonhava em ter sua obra literária reconhecida e que assim como Rimbaud dentro de muito pouco tempo ia chegar em um beco sem saída e pular fora (drop out) de tudo.
"O poeta torna-se vidente através de um longo desregramento de todos os sentidos".
Jean-Nicolas Arthur Rimbaud nasceu a 20 de outubro de 1854 em Charleville França e entre os quinze e dezenove anos (quando abandonou a literatura) escreveu uma obra fascinante e revolucionaria, que flertou com todos os abismos possíveis e imagináveis.
Henry Miller, mais um destes loucos radicais de seu tempo, também lhe dedicou um pequeno, mas excelente livro - A Hora dos Assassinos - um estudo sobre Rimbaud (L&PM -2004), onde faz um apanhado de sua experiência pessoal à bordo das viagens do enfant terrible do nomadismo da alma. "E dizer que foi um mero garoto que abalou os ouvidos do mundo! A aparição de Rimbaud sobre a terra não tem qualquer coisa de simplesmente milagrosa, como o despertar de Gautama ou a aceitação da cruz por Cristo ou a incrível libertação de Joana DArc? Interprete-se a sua obra como se preferir, explique-se a sua vida como se quiser, a verdade é que não há como lhe reduzir a importância. O futuro, mesmo que não exista, lhe pertence".
Pois Jim Morrison, a exemplo de Rimbaud, também é uma lenda maior do que si mesmo e foi leitor voraz de toda sua obra, assim como desta pequena jóia escrita por Henry Miller. Como não imaginar o fascínio que o radicalismo e principalmente o exílio de Rimbaud traziam a Morrison? Muitos de seus fãs mais exaltados crêem com convicção que o Rei Lagarto ainda está vivo em alguma África distante livre do desespero da disponibilidade de se pôr à beira do abismo, dos transtornos da criatividade e do desregramento de todos os sentidos. As portas da percepção quando abertas podem se tornar insuportáveis e os analgésicos para isto podem incluir as drogas ou simplesmente o abandono, seja dos atalhos escritos e descritos ou mesmo da vida, do inferno em que se meteu.
Como diz Fowlie: "Rimbaud usou a palavra inferno em sentido Teológico. Ele só queria passar uma temporada ali, porque sabia que no inferno não se tem energia para nenhuma mudança positiva. Jim Morrison entenderia o significado da palavra inferno, muito embora não a tenha usado. Ele foi um exemplo deste dom de mudança que os jovens possuem. E possuem também um olhar mais aguçado do que o dos mais velhos para o que se encontra apodrecido na sociedade e, por isso, sentem a urgência de purifica-la atacando a chaga da apatia, que impede as mudanças e o desenvolvimento de uma personalidade mais sã".
Conheci o The Doors no final dos anos 70, época em que estavam praticamente esquecidos. Era relativamente pouco comum encontrar um disco deles e mais raro ainda quem gostasse. Fiquei bastante impressionado, mas entendi muito pouco o que aquilo tudo representava. Era mais uma banda de rock onde o cantor havia morrido de overdose e só. Com o passar do tempo e os interesses se modificando, me caiu nas mãos uma tradução de Uma temporada no Inferno, Iluminações e do Barco Bêbado de Rimbaud. O impacto destas leituras foi imediato e aquelas imagens um tanto desconexas e dilaceradas foram ficando como se fossem uma tatuagem interna. O fascínio de saber que aquilo tudo tinha sido produzido por um moleque um pouco mais novo do que eu e que havia abandonado tudo me intrigava como me fascina até hoje.
Os anos 80 foram pródigos para o culto ao mito Jim Morrison. O renascimento da literatura beat, a inclusão na trilha sonora do Apocalipse Now de Coppola e a regravação de suas músicas por ídolos da época como Billy Idol e Echo & The Bunnymen foram como um rastilho de pólvora e um fósforo. Ao perceber as influências de Niezstche, Huxley, Blake, etc, e principalmente ao conhecer seus poemas no disco póstumo An American Prayer me tornei um fã exaltado. Em pouco tempo estavam disponíveis e relançados todos seus discos e inúmeros livros, biografias e a tradução de seus poemas. O filme de Oliver Stone só fez expandir esta idolatria pelos quatro cantos do mundo. As romarias a seu túmulo no Pere-Lachaise demonstram isso. Seus discos vendem bastante ainda. Jim Morrison e suas calças de couro se transformaram em um ícone da rebeldia juvenil, assim como os pôsteres de Lennon, Guevara, James Dean e Marilyn Monroe. Uma bela estampa para camiseta. Vejam só a ironia terrível do destino. O cordeiro que se imolou em busca do mel escondido atrás do arco íris, que se jogou de frente contra todos os mercantilismos, se tornou depois de morto uma mercadoria altamente rentável.
(...)
Rimbaud foi para Morrison uma imagem, uma meta recorrente, talvez Paris tenha sido a sua África, um porto distante, o preparo para um salto que o faria sair da obra e cair na vida. Parece que não deu tempo.
"O tédio não é mais meu amor. O furor, a devassidão, a loucura, dos que conheço todos os impulsos e calamidades - Todo meu fardo foi arriado. Apreciemos sem vertigens a extensão de minha inocência".Rimbaud
"Já não temos dançarinos, os possessos.
Contentamo-nos com a oferta, na nossa procura de
Para nós o que sobra? Algumas trilhas e um par de enigmas. Quantos caminhos nos levam para a África de cada um ou para o frio de amanhecer dentro de uma banheira em Paris?
Se a "punição" é seguir em frente, alguns abandonaram, pela intensidade, no meio. Queimaram rápido demais e as cinzas continuam no ar. Apontando onde seguir.
Como já disse, os ardores do futuro antevisto são para loucos, poucos e porque não... raros.
quarta-feira, fevereiro 18, 2009
em primeiro lugar sento-me
-Em primeiro lugar sento-me
e quando se espantaram
- Não sabia que você pintava sentado
Picasso explicou
- Não, não, eu pinto em pé.
É mais ou menos nessa situação que eu me encontro agora (…)”
(António Lobo Antunes, 2006, p.39)
visitas
segunda-feira, fevereiro 16, 2009
hoje
Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.
É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és nao vem à flor
Das caras e dos dias.
Tu és melhor -- muito melhor!--
Do que tu.
Não digas nada.
Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.
Mário Cesariny
sexta-feira, fevereiro 13, 2009
sexta feira 13
subitamente cegos, e depois as palavras,
cautelosas, dizendo a seda
dos corpos sós. O desejo
foi polindo em silêncio
um fruto em busca da sua maturação.
A teu lado me deito e bebo a água
que tu me abres
e onde me perco e ardo e tudo.
Aqui tens o meu corpo cheio de mundo.
Amar-te é viagem que não se acaba
e contigo vou, para o alto
e para o fundo.
Casimiro de Brito
69 Poemas de Amor
4Águas Editora, Tavira 2008