partincerta
Por motivos que não entendi este blog esteve "congelado" durante uns tempos. Por esse motivo re-iniciei no partincerta, fiquei assim, por obra do acaso, com dois caminhos...
Graça Martins
terça-feira, janeiro 30, 2007
segunda-feira, janeiro 29, 2007
não sei porquê...
Quase um poema de amor
Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça Bebedeira.
Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
Miguel Torga
Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça Bebedeira.
Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
Miguel Torga
sexta-feira, janeiro 26, 2007
quinta-feira, janeiro 25, 2007
terça-feira, janeiro 23, 2007
The Gift
"Fácil De Entender
Fácil de Entender
Talvez por não saber falar de cor, Imaginei
Talvez por saber o que não será melhor, Aproximei
Meu corpo é o teu corpo o desejo entregue a nós
Sei lá eu o que queres dizer, Despedir-me de ti
Adeus um dia voltarei a ser feliz
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor,
não sei, o que é sentir, se por falar falei
Pensei que se falasse era fácil de entender
Talvez por não saber falar de cor, Imaginei
Triste é o virar de costas, o último adeus
Sabe Deus o que quero dizer
Obrigado por saberes cuidar de mim,
Tratar de mim, olhar para mim, escutar quem sou,
e se ao menos tudo fosse igual a ti
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor,
não sei o que é sentir, se por falar falei
Pensei que se falasse era fácil de entender
É o amor, que chega ao fim, um final assim,
assim é mais fácil de entender
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor,
não sei o que é sentir, se por falar falei
Pensei que se fala-se era fácil de entender"
Fácil de Entender
Talvez por não saber falar de cor, Imaginei
Talvez por saber o que não será melhor, Aproximei
Meu corpo é o teu corpo o desejo entregue a nós
Sei lá eu o que queres dizer, Despedir-me de ti
Adeus um dia voltarei a ser feliz
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor,
não sei, o que é sentir, se por falar falei
Pensei que se falasse era fácil de entender
Talvez por não saber falar de cor, Imaginei
Triste é o virar de costas, o último adeus
Sabe Deus o que quero dizer
Obrigado por saberes cuidar de mim,
Tratar de mim, olhar para mim, escutar quem sou,
e se ao menos tudo fosse igual a ti
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor,
não sei o que é sentir, se por falar falei
Pensei que se falasse era fácil de entender
É o amor, que chega ao fim, um final assim,
assim é mais fácil de entender
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor,
não sei o que é sentir, se por falar falei
Pensei que se fala-se era fácil de entender"
Aborto
Boaventura Sousa Santos: as contas do aborto
Em causa no referendo à despenalização do aborto devem estar os direitos e a dignidade das mulheres e o valor de uma maternidade responsável, e não considerações de ordem financeira. Não é aceitável que se reduza uma importante questão de saúde pública e de direitos a uma cifra, e muito menos que cálculos tão tendenciosos quanto errados acabem por ser usados como argumento.
In Visão 18 de Janeiro
e...
O "gato fedorento" vai estar hoje no lançamento oficial do panfleto do Movimento Jovens pelo Sim. Ricardo Araújo Pereira assume a sua posição favorável à despenalização do aborto e apela a todos os jovens para a mudança de uma lei que oferece a prisão às mulheres. A apresentação é feita às 15h, em Lisboa, na sede do Movimento Jovens Pelo Sim (Largo da Trindade nº17).
Em causa no referendo à despenalização do aborto devem estar os direitos e a dignidade das mulheres e o valor de uma maternidade responsável, e não considerações de ordem financeira. Não é aceitável que se reduza uma importante questão de saúde pública e de direitos a uma cifra, e muito menos que cálculos tão tendenciosos quanto errados acabem por ser usados como argumento.
In Visão 18 de Janeiro
e...
O "gato fedorento" vai estar hoje no lançamento oficial do panfleto do Movimento Jovens pelo Sim. Ricardo Araújo Pereira assume a sua posição favorável à despenalização do aborto e apela a todos os jovens para a mudança de uma lei que oferece a prisão às mulheres. A apresentação é feita às 15h, em Lisboa, na sede do Movimento Jovens Pelo Sim (Largo da Trindade nº17).
Alvaro Lapa
JL
Por Rocha de Sousa
A arte para não enlouquecer
Álvaro Lapa, um nome decisivo na arte portuguesa contemporânea, aparentemente reservado, que se exprime, pela pintura e pela escrita, à margem dos vastos campos de mediatização, dos palcos públicos, da ostentação do êxito, recebeu em 2004 o Grande Prémio edp e tem agora exposta, nos Pavilhões do Museu da Cidade de Lisboa, uma importante antologia de várias períodos da sua obra. Por vezes há decisões tardias ou tendenciosas nestes domínios e o caso de Álvaro Lapa é disso simbolicamente trágico: apesar de Moisés não haver acedido à montanha, como diz o povo, o certo, e ao contrário da frase simbólica, a verdade é que também a montanha não foi ter com Moisés, e assim, no vazio dos actos, o artista de que se fala aqui acabou por falecer entretanto, em 2006, quando ainda decorriam os trabalhos de preparação da presente exposição e do excelente catálogo, no qual se abordam pinturas ditas «paisagísticas», «obras-com-palavras», e um volume dedicado a preciosos textos do autor. É preciso visitar a exposição com a consciência deste «atraso», sentindo o cuidado posto no arranjo dos pavilhões, sobretudo o Branco, e atravessando os jardins que pacificam a morte e revestem de silêncio os túmulos provisórios que acomodam, conferindo-lhes visibilidade, os restos antológicos do autor consubstanciado na convocação física da sua obra, presença enfim cuidada com dimensão e respeito, entre janelas de grandes vidros e pavões, lá fora, em deriva pela relva pujante.
Impressões de uma visita.
Enquanto me aproximava do Pavilhão Branco, fotografando fragmentos antigos de molduras em cantaria e um leão deitado nas folhas de plantas que vivem rente ao chão, pensava que este era o lugar próprio, poeticamente legítimo, para revisitar e homenagear o pintor e poeta das impressões lusitanas. Entrei para um mundo luminoso e iluminado, onde a série «paisagística» se articulava nos largos espaços do pavilhão. Cada peça bem destacada à escala humana, suportando assim a acentuada altura das paredes alvíssimas, era levemente aquecida pelo tipo de projectores envolventes.Revendo a intrigante pintura que Lapa intitulou «Homem sem esforço, sem propósito, sem utilidade» (1968) recomecei a travessia do artista no espaço do absurdo e a sua necessidade tanto de questionar cada opção como de afirmar o que há mesmo para afirmar, contra todos os silenciamentos. «Em que consiste imaginar? Como é possível a imagem, enquanto determinação geral de um conteúdo concreto do imaginar: como é viável equacionar a liberdade com o aleatório de qualquer materialidade conteudística? Quais as relações entre a sobredita liberdade – o próprio ser da obra, sua dedução temporal – e a sua representação sistemática, e o seu inventário histórico?»
Ao se pensar em percursos reflexivos tão densos como este, Lapa já entrara num labirinto terminal, sem esforço, sem propósito, percebendo a inutilidade das significações do devir. Contra os iludidos do naturalismo, ele dizia para que recalcassem toda a esperança, «os incómodos da percepção» na improvável realização do que somos e das coisas que nos apresentam, os objectos diferentes do que se vê neles, invenção dos percursos que simulam a dolorosa emigração para lugares longínquos. Escrevendo sobre a própria escrita da pintura, evocando Bosch ou o «nosso» Gil Vicente, abordando a sua obra O Tentador, deixou redigido que, em termos de linguagem, a dele era mais contemporânea daquelas formas, e mais responsável, pelo acontecimento dos símbolos – «que nunca serão figuráveis uma vez por todas se da pintura (apenas) se dispõe.»1
Fecho o livro destes vocábulos de súbito paralíticos e passeio um pouco ao lado das obras que se intitulam (aleatoriamente?) «Passeio». E as obras que ostentam esse título, as mais longas, recortadas por formas escuras, entre restos gestálticos de prados, de céus, sombras perto, parecem formular bosques de uma nossa qualquer errância, sem propósito, sem utilidade. Entre muitas outras hipóteses formais, que opacificam estranhas imagens, observo, caso a caso, as propostas ditas «Campéstico», o primeiro de 1983-1984 (I).
A minha liberdade é quase total: paisagísticas, as contingentes imagens deixam-me frequentemente em lugares insignificantes onde já me senti, no Alentejo, nas anharas de Angola, nas velhas ancoragens de máquinas agrícolas de outrora.No Pavilhão Preto, a boa ordenação das peças cuja génese está no número ou na letra e na palavra, a maior parte das pinturas reflecte manipulações digitais dos respectivos códigos, saindo do quadro para tecidos esticados e já em forma de frases. Como: «O sono e a morte serão equiparados. O homem aprenderá a morrer».Mundo literário inquietanteSe o único problema filosófico se limita ao suicídio, como anuncia Camus na abertura do famoso «Sísifo», também será verdade que o homem, despojado de toda a consciência estética e funcional, estará confrontado com a loucura. A actividade plástica constitui, nas clínicas psiquiátricas, a mais surpreendente manifestação do humano ao desejar saber-se, isto é, sobreviver.É em parte por isso que Álvaro Lapa indaga tanto o não sentido das coisas e a ressurreição dele através da arte. «É na verdade um dos enigmas da arte e um sinal do poder da sua logicidade, que todo o rigor lógico radical, até aquele que se chama absurdo, tem como resultado algo que se assemelha a um sentido. Mas isso não é tanto a confirmação da sua substancialidade metafísica que se apodere de toda a obra completamente elaborada, quanto a confirmação do seu carácter de aparência pelo facto de que não pode escapar à sugestão de um sentido no seio do absurdo.»2Em «Atitudes litorais» (1984) o artista escreve: «Quando se interroga didacticamente uma tradição omite-se o presente se o houver e é talvez por isso que a dimensão didáctica da pintura se tornou invariavelmente abstracta. Ou seja linguística, verbal e verbosa como em qualquer aula ocidental dualista». Esta questão é relevante e trouxe para o domínio do pensamento plástico um vocabulário que não lhe pertence. São os poderes culturais contemporâneos que se introduzem nesta área específica. «A tirania é a do significante temporário onde toda a assimilação é interdita». «A linguagem que descreve o corpo afectado é quando muito designativa e, se se quiser expressiva, incorporar-se-á na obra, no procedimento da obra, significar-se-á (e não significará). Nós não sabemos o que a pintura, a arte em geral, significam, sequer como sentido oculto. Podemos a esse respeito contar histórias, ou deixar contar»3 Álvaro Lapa, apesar da sua erudição em campos como o da estética e da escrita, aproxima-se muitas vezes do primeiro buraco negro que encontra e tem a lucidez, por instantes, de que a impossibilidade de significar não lhe deixa grandes alternativas. «Uma teoria é uma prudência com que não me identifico».Será em parte por isso que nos deixa imprudências como esta:«O que simboliza a arte senão a alegria e a tragédia?/ Quem não considera compreende a arte sem distância./ O não-ser corresponde à imaginação que trabalha e ao animal./ Emociona-me a palavra lenda como sentido do que faço./ Narcisismo do indivíduo ou da Natureza tanto faz./ Entre a elite e a claque a escolha impõe-se./ Trabalhamos em ultrapassar os nossos limites ou trabalhamos em amar» 4
Notas: (1) Percorrendo os meandros da questionação de Álvaro Lapa, em textos agora publicados. (2) Do texto para a sua própria exposição de 1977, na Galeria Nacional de Arte Moderna. (3) Da conferência proferida no âmbito da exposição «Artes Litorais». Faculdade de Letras de Letras de Lisboa, 1984. (4) Do «Comentário», texto para a sua exposição de 1985.ÁLVARO LAPA. Museu da Cidade ao Campo Grande. Horário: de terça a domingo: 10h às 18h, até 28 de Janeiro
Por Rocha de Sousa
A arte para não enlouquecer
Álvaro Lapa, um nome decisivo na arte portuguesa contemporânea, aparentemente reservado, que se exprime, pela pintura e pela escrita, à margem dos vastos campos de mediatização, dos palcos públicos, da ostentação do êxito, recebeu em 2004 o Grande Prémio edp e tem agora exposta, nos Pavilhões do Museu da Cidade de Lisboa, uma importante antologia de várias períodos da sua obra. Por vezes há decisões tardias ou tendenciosas nestes domínios e o caso de Álvaro Lapa é disso simbolicamente trágico: apesar de Moisés não haver acedido à montanha, como diz o povo, o certo, e ao contrário da frase simbólica, a verdade é que também a montanha não foi ter com Moisés, e assim, no vazio dos actos, o artista de que se fala aqui acabou por falecer entretanto, em 2006, quando ainda decorriam os trabalhos de preparação da presente exposição e do excelente catálogo, no qual se abordam pinturas ditas «paisagísticas», «obras-com-palavras», e um volume dedicado a preciosos textos do autor. É preciso visitar a exposição com a consciência deste «atraso», sentindo o cuidado posto no arranjo dos pavilhões, sobretudo o Branco, e atravessando os jardins que pacificam a morte e revestem de silêncio os túmulos provisórios que acomodam, conferindo-lhes visibilidade, os restos antológicos do autor consubstanciado na convocação física da sua obra, presença enfim cuidada com dimensão e respeito, entre janelas de grandes vidros e pavões, lá fora, em deriva pela relva pujante.
Impressões de uma visita.
Enquanto me aproximava do Pavilhão Branco, fotografando fragmentos antigos de molduras em cantaria e um leão deitado nas folhas de plantas que vivem rente ao chão, pensava que este era o lugar próprio, poeticamente legítimo, para revisitar e homenagear o pintor e poeta das impressões lusitanas. Entrei para um mundo luminoso e iluminado, onde a série «paisagística» se articulava nos largos espaços do pavilhão. Cada peça bem destacada à escala humana, suportando assim a acentuada altura das paredes alvíssimas, era levemente aquecida pelo tipo de projectores envolventes.Revendo a intrigante pintura que Lapa intitulou «Homem sem esforço, sem propósito, sem utilidade» (1968) recomecei a travessia do artista no espaço do absurdo e a sua necessidade tanto de questionar cada opção como de afirmar o que há mesmo para afirmar, contra todos os silenciamentos. «Em que consiste imaginar? Como é possível a imagem, enquanto determinação geral de um conteúdo concreto do imaginar: como é viável equacionar a liberdade com o aleatório de qualquer materialidade conteudística? Quais as relações entre a sobredita liberdade – o próprio ser da obra, sua dedução temporal – e a sua representação sistemática, e o seu inventário histórico?»
Ao se pensar em percursos reflexivos tão densos como este, Lapa já entrara num labirinto terminal, sem esforço, sem propósito, percebendo a inutilidade das significações do devir. Contra os iludidos do naturalismo, ele dizia para que recalcassem toda a esperança, «os incómodos da percepção» na improvável realização do que somos e das coisas que nos apresentam, os objectos diferentes do que se vê neles, invenção dos percursos que simulam a dolorosa emigração para lugares longínquos. Escrevendo sobre a própria escrita da pintura, evocando Bosch ou o «nosso» Gil Vicente, abordando a sua obra O Tentador, deixou redigido que, em termos de linguagem, a dele era mais contemporânea daquelas formas, e mais responsável, pelo acontecimento dos símbolos – «que nunca serão figuráveis uma vez por todas se da pintura (apenas) se dispõe.»1
Fecho o livro destes vocábulos de súbito paralíticos e passeio um pouco ao lado das obras que se intitulam (aleatoriamente?) «Passeio». E as obras que ostentam esse título, as mais longas, recortadas por formas escuras, entre restos gestálticos de prados, de céus, sombras perto, parecem formular bosques de uma nossa qualquer errância, sem propósito, sem utilidade. Entre muitas outras hipóteses formais, que opacificam estranhas imagens, observo, caso a caso, as propostas ditas «Campéstico», o primeiro de 1983-1984 (I).
A minha liberdade é quase total: paisagísticas, as contingentes imagens deixam-me frequentemente em lugares insignificantes onde já me senti, no Alentejo, nas anharas de Angola, nas velhas ancoragens de máquinas agrícolas de outrora.No Pavilhão Preto, a boa ordenação das peças cuja génese está no número ou na letra e na palavra, a maior parte das pinturas reflecte manipulações digitais dos respectivos códigos, saindo do quadro para tecidos esticados e já em forma de frases. Como: «O sono e a morte serão equiparados. O homem aprenderá a morrer».Mundo literário inquietanteSe o único problema filosófico se limita ao suicídio, como anuncia Camus na abertura do famoso «Sísifo», também será verdade que o homem, despojado de toda a consciência estética e funcional, estará confrontado com a loucura. A actividade plástica constitui, nas clínicas psiquiátricas, a mais surpreendente manifestação do humano ao desejar saber-se, isto é, sobreviver.É em parte por isso que Álvaro Lapa indaga tanto o não sentido das coisas e a ressurreição dele através da arte. «É na verdade um dos enigmas da arte e um sinal do poder da sua logicidade, que todo o rigor lógico radical, até aquele que se chama absurdo, tem como resultado algo que se assemelha a um sentido. Mas isso não é tanto a confirmação da sua substancialidade metafísica que se apodere de toda a obra completamente elaborada, quanto a confirmação do seu carácter de aparência pelo facto de que não pode escapar à sugestão de um sentido no seio do absurdo.»2Em «Atitudes litorais» (1984) o artista escreve: «Quando se interroga didacticamente uma tradição omite-se o presente se o houver e é talvez por isso que a dimensão didáctica da pintura se tornou invariavelmente abstracta. Ou seja linguística, verbal e verbosa como em qualquer aula ocidental dualista». Esta questão é relevante e trouxe para o domínio do pensamento plástico um vocabulário que não lhe pertence. São os poderes culturais contemporâneos que se introduzem nesta área específica. «A tirania é a do significante temporário onde toda a assimilação é interdita». «A linguagem que descreve o corpo afectado é quando muito designativa e, se se quiser expressiva, incorporar-se-á na obra, no procedimento da obra, significar-se-á (e não significará). Nós não sabemos o que a pintura, a arte em geral, significam, sequer como sentido oculto. Podemos a esse respeito contar histórias, ou deixar contar»3 Álvaro Lapa, apesar da sua erudição em campos como o da estética e da escrita, aproxima-se muitas vezes do primeiro buraco negro que encontra e tem a lucidez, por instantes, de que a impossibilidade de significar não lhe deixa grandes alternativas. «Uma teoria é uma prudência com que não me identifico».Será em parte por isso que nos deixa imprudências como esta:«O que simboliza a arte senão a alegria e a tragédia?/ Quem não considera compreende a arte sem distância./ O não-ser corresponde à imaginação que trabalha e ao animal./ Emociona-me a palavra lenda como sentido do que faço./ Narcisismo do indivíduo ou da Natureza tanto faz./ Entre a elite e a claque a escolha impõe-se./ Trabalhamos em ultrapassar os nossos limites ou trabalhamos em amar» 4
Notas: (1) Percorrendo os meandros da questionação de Álvaro Lapa, em textos agora publicados. (2) Do texto para a sua própria exposição de 1977, na Galeria Nacional de Arte Moderna. (3) Da conferência proferida no âmbito da exposição «Artes Litorais». Faculdade de Letras de Letras de Lisboa, 1984. (4) Do «Comentário», texto para a sua exposição de 1985.ÁLVARO LAPA. Museu da Cidade ao Campo Grande. Horário: de terça a domingo: 10h às 18h, até 28 de Janeiro
segunda-feira, janeiro 22, 2007
sexta-feira, janeiro 19, 2007
mais links
http://www.lizwolfe.com/
Lindo!!!
http://www.nicolettaceccoli.com/
Delicioso!!!
http://www.samorost.net/samorost2/
Ana Ventura:
quinta-feira, janeiro 18, 2007
Os sapatos
Conto do dia:
Os sapatos (Gonçalo M. Tavares)
"O senhor Valéry andava pela rua com um sapato preto
no pé direito e um sapato branco no pé esquerdo.
Um dia disseram-lhe:
-Trocou os sapatos.
E riram-se.
O senhor Valéry olhou, então, para os pés, e batendo
na cabeça, exclamou:
-Que disparete!
Voltou a casa, trocou de sapatos, e regressou à rua,
mais tarde, com um sapato preto no pé esquerdo e um sapato
branco no pé direito.
Quando lhe disseram, cada vez mais divertidos,
Trocou de novo os sapatos!, o senhor Valéry enervou-se.
Porém, recordando os princípios da lógica que havia
aprendida, fincou os dentes, e para si próprio, enquanto
continuava o seu passeio, exclamou:
-Não. Agora têm de estar certos.
O senhor Valéry explicava, a si próprio:
-Parece um paradoxo, mas é mesmo assim: se estão
trocados, é necessário trocá-los de novo para ficarem direitos.
E desenhou:
E depois desenhou:
- Uma destas duas situações tem que estar certa para
a outra estar errada, já que são inversas. E se dizem que as duas estão erradas é porque as duas estão certas.
O senhor Valéry, após esta conclusão, nunca mais se preocupou com o facto de trazer o sapato preto no pé direito ou no pé esquerdo. Está sempre certo, pensava.
("O Senhor Valéry" - Prémio Branquinho da Fonseca - Expresso/Gulbenkian - Gonçalo M. Tavares)
Os sapatos (Gonçalo M. Tavares)
"O senhor Valéry andava pela rua com um sapato preto
no pé direito e um sapato branco no pé esquerdo.
Um dia disseram-lhe:
-Trocou os sapatos.
E riram-se.
O senhor Valéry olhou, então, para os pés, e batendo
na cabeça, exclamou:
-Que disparete!
Voltou a casa, trocou de sapatos, e regressou à rua,
mais tarde, com um sapato preto no pé esquerdo e um sapato
branco no pé direito.
Quando lhe disseram, cada vez mais divertidos,
Trocou de novo os sapatos!, o senhor Valéry enervou-se.
Porém, recordando os princípios da lógica que havia
aprendida, fincou os dentes, e para si próprio, enquanto
continuava o seu passeio, exclamou:
-Não. Agora têm de estar certos.
O senhor Valéry explicava, a si próprio:
-Parece um paradoxo, mas é mesmo assim: se estão
trocados, é necessário trocá-los de novo para ficarem direitos.
E desenhou:
E depois desenhou:
- Uma destas duas situações tem que estar certa para
a outra estar errada, já que são inversas. E se dizem que as duas estão erradas é porque as duas estão certas.
O senhor Valéry, após esta conclusão, nunca mais se preocupou com o facto de trazer o sapato preto no pé direito ou no pé esquerdo. Está sempre certo, pensava.
("O Senhor Valéry" - Prémio Branquinho da Fonseca - Expresso/Gulbenkian - Gonçalo M. Tavares)
Viagens no tempo - AGUALUSA
"Pública" 14 Janeiro 2007
...o tempo, ao segundo, de Agualusa...
...se me conseguir ver nesse "espelho mágico" quero ver-me com a cara lambuzada de beijos de caramelo e chocolate.
Aí, saberei rir-me com olhos de água colorida com as 7 cores que a LUZ misteriosamente faz aparecer. Terei 7 dias para pensar nisso e, depois, 7 dias a esquecer, porque a vida está sempre lá à frente...mas essa já não será a minha. No meu "espelho mágico" imagino ser feliz agora e aqui. Não fosse esse pormenor insignificante e insípido de fazer todos os dias cem anos.
quarta-feira, janeiro 10, 2007
segunda-feira, janeiro 08, 2007
Para os alunos de Arte da ESML
LINKS:
http://bonifacio.brinkster.net/ilustrarte2005/pt/2006.htm
http://meninasaosriscos.typepad.com/meninas_aos_riscos/ilustrao/index.html
http://ervilhas.weblog.com.pt/arquivo/129808.html
http://jvazcarvalho.com.sapo.pt/
http://2zai.blogspot.com/
http://comunicartedesign-teste.blogspot.com/
http://www.anaventura.com/
http://www.woostercollective.com/
http://www.re-searcher.com/2/main.php
http://bobibook.blogspot.com/
http://www.evaarmisen.com/
http://poraresilinhas.blogspot.com/
http://www.carlapott.com/
http://cristinavaladas.com/
...entre outros que possam sugerir aqui para que todos possamos ter acesso.
Bom trabalho!
Graça Martins
http://bonifacio.brinkster.net/ilustrarte2005/pt/2006.htm
http://meninasaosriscos.typepad.com/meninas_aos_riscos/ilustrao/index.html
http://ervilhas.weblog.com.pt/arquivo/129808.html
http://jvazcarvalho.com.sapo.pt/
http://2zai.blogspot.com/
http://comunicartedesign-teste.blogspot.com/
http://www.anaventura.com/
http://www.woostercollective.com/
http://www.re-searcher.com/2/main.php
http://bobibook.blogspot.com/
http://www.evaarmisen.com/
http://poraresilinhas.blogspot.com/
http://www.carlapott.com/
http://cristinavaladas.com/
...entre outros que possam sugerir aqui para que todos possamos ter acesso.
Bom trabalho!
Graça Martins
sexta-feira, janeiro 05, 2007
quinta-feira, janeiro 04, 2007
Mensagem
segunda-feira, janeiro 01, 2007
Os Gatos e a Cidade
"Os gatos e a cidade"
de Jorge Salgado Simões
"Queres uma cidade nova? Queres uma cidade viva? Podes tê-la em qualquer lugar. Podes escolher morar onde quiseres: num centro cujo prazo de viabilidade há muito expirou; numa qualquer nova centralidade ditada por um qualquer equipamento ou supermercado; ou na periferia, junto ao campo, naquela nesga de ruralidade que subsiste na envolvente da cidade. Mas tudo é cidade.
A cidade do centro, a que cai, é a que mais me preocupa. É aquela que escolhi para viver porque desdenho todas as outras. E porque gosto de sofrer, é óbvio que gosto. Não pode haver outra explicação. É tudo mais caro e eu não tenho dinheiro. Demora tudo mais tempo, do qual eu não abro mão. O espaço é mais condicionado, a vista não é simpática, a vizinhança é simpática mas característica, as ruas estão sujas, não têm calçada, nem alcatrão, mas apenas uma mistura das duas que não é coisa nenhuma, a iluminação vai falhando, o lixo vai-se acumulando e os ratos tenho-os como vizinhos.
Onde há ratos há gatos, e eu gosto de gatos. Os gatos circulam livremente por telhados e logradouros. Se calhar é por isso que eu gosto desta cidade, seja ela em Torres Novas, em Coimbra ou no Porto. Saber que os gatos aparecem, que podemos contar com eles para um olhar cúmplice ou um afago sentido. Os gatos não gostam da cidade nova. Acham-na demasiado estéril, como se isso fosse possível. Mas tem de facto pouco cheiro, pouca cor, poucos motivos de interesse.
A minha cidade tem de dizer qualquer coisa. Olhando para uma parede usada ou para o perfil de uma rua estreita, temos de poder ver uma história, uma imagem passada há tento tempo, uma aventura, uma qualquer banalidade, ou o quer que seja.
Dizem agora que não. Que o prazo de viabilidade dos centros históricos das cidades portuguesas foi ultrapassado. Mas quem é que ditou esse prazo? Serão os mesmos que os condenaram no passado? Os mesmos que contribuíram para esta singularidade portuguesa de estarem as periferias urbanas mais sujeitas à pressão imobiliária, contrariando a velhinha teoria dos lugares centrais? Não se enganem. Esta cidade pode ser velha e nova ao mesmo tempo. Deixem-na renovar-se.
Definam-se os perímetros e criem regras facilitadoras das intervenções. Atribua-se unidade ao espaço definido: uma tipologia de calçada, de iluminação, de sinalização, de equipamento urbano. Só isto ajudará para que mais pessoas circulem a pé pelas ruas, para que haja maior identificação colectiva com o centro e uma valorização do espaço.
A cidade são as pessoas a andar nas ruas. Tem de ser agradável andar nas ruas. Limpem as ruínas, obriguem os proprietários a vender, promovam a sua posse administrativa, expropriem, façam obras coercivas, apresentem a conta, façam o que quiserem, mas arranquem esta cidade das mãos alimentadas por um Estado que se habituou a alimentar este estado de coisas.
Libertem-se edifícios para equipamentos, lojas, galerias, experiências empresariais, cultura, actividades cívicas, habitação social, habitação com preços controlados, habitação de luxo ou só habitação. Seja para o que for, libertem, valorizem e usem-na.
A periferia não resistirá se o centro não viver. A cidade nunca será cidade, se não funcionar com todos os seus órgãos. Não crescerá. Pode engordar, inchar e aumentar. E ainda assim, não crescerá.
Ela não é da minha responsabilidade. Nem tua, nem do outro, nem do proprietário ou do inquilino. Ela não é responsabilidade da Junta, da Câmara ou do Estado. Ela é responsabilidade do Estado, da Câmara e da Junta. Do inquilino, do proprietário, do outro, tua e minha. Lamúrias, pesares ou considerações avulsas.
Podia continuar, mas já não vale a pena. Queres uma cidade nova? Queres uma cidade viva? Tens a certeza de que ainda a queres?"
de Jorge Salgado Simões
"Queres uma cidade nova? Queres uma cidade viva? Podes tê-la em qualquer lugar. Podes escolher morar onde quiseres: num centro cujo prazo de viabilidade há muito expirou; numa qualquer nova centralidade ditada por um qualquer equipamento ou supermercado; ou na periferia, junto ao campo, naquela nesga de ruralidade que subsiste na envolvente da cidade. Mas tudo é cidade.
A cidade do centro, a que cai, é a que mais me preocupa. É aquela que escolhi para viver porque desdenho todas as outras. E porque gosto de sofrer, é óbvio que gosto. Não pode haver outra explicação. É tudo mais caro e eu não tenho dinheiro. Demora tudo mais tempo, do qual eu não abro mão. O espaço é mais condicionado, a vista não é simpática, a vizinhança é simpática mas característica, as ruas estão sujas, não têm calçada, nem alcatrão, mas apenas uma mistura das duas que não é coisa nenhuma, a iluminação vai falhando, o lixo vai-se acumulando e os ratos tenho-os como vizinhos.
Onde há ratos há gatos, e eu gosto de gatos. Os gatos circulam livremente por telhados e logradouros. Se calhar é por isso que eu gosto desta cidade, seja ela em Torres Novas, em Coimbra ou no Porto. Saber que os gatos aparecem, que podemos contar com eles para um olhar cúmplice ou um afago sentido. Os gatos não gostam da cidade nova. Acham-na demasiado estéril, como se isso fosse possível. Mas tem de facto pouco cheiro, pouca cor, poucos motivos de interesse.
A minha cidade tem de dizer qualquer coisa. Olhando para uma parede usada ou para o perfil de uma rua estreita, temos de poder ver uma história, uma imagem passada há tento tempo, uma aventura, uma qualquer banalidade, ou o quer que seja.
Dizem agora que não. Que o prazo de viabilidade dos centros históricos das cidades portuguesas foi ultrapassado. Mas quem é que ditou esse prazo? Serão os mesmos que os condenaram no passado? Os mesmos que contribuíram para esta singularidade portuguesa de estarem as periferias urbanas mais sujeitas à pressão imobiliária, contrariando a velhinha teoria dos lugares centrais? Não se enganem. Esta cidade pode ser velha e nova ao mesmo tempo. Deixem-na renovar-se.
Definam-se os perímetros e criem regras facilitadoras das intervenções. Atribua-se unidade ao espaço definido: uma tipologia de calçada, de iluminação, de sinalização, de equipamento urbano. Só isto ajudará para que mais pessoas circulem a pé pelas ruas, para que haja maior identificação colectiva com o centro e uma valorização do espaço.
A cidade são as pessoas a andar nas ruas. Tem de ser agradável andar nas ruas. Limpem as ruínas, obriguem os proprietários a vender, promovam a sua posse administrativa, expropriem, façam obras coercivas, apresentem a conta, façam o que quiserem, mas arranquem esta cidade das mãos alimentadas por um Estado que se habituou a alimentar este estado de coisas.
Libertem-se edifícios para equipamentos, lojas, galerias, experiências empresariais, cultura, actividades cívicas, habitação social, habitação com preços controlados, habitação de luxo ou só habitação. Seja para o que for, libertem, valorizem e usem-na.
A periferia não resistirá se o centro não viver. A cidade nunca será cidade, se não funcionar com todos os seus órgãos. Não crescerá. Pode engordar, inchar e aumentar. E ainda assim, não crescerá.
Ela não é da minha responsabilidade. Nem tua, nem do outro, nem do proprietário ou do inquilino. Ela não é responsabilidade da Junta, da Câmara ou do Estado. Ela é responsabilidade do Estado, da Câmara e da Junta. Do inquilino, do proprietário, do outro, tua e minha. Lamúrias, pesares ou considerações avulsas.
Podia continuar, mas já não vale a pena. Queres uma cidade nova? Queres uma cidade viva? Tens a certeza de que ainda a queres?"
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