sábado, março 22, 2008

"conta-me um conto que nunca contasses a ninguém"




Sísifo

Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.

MIGUEL TORGA
Antologia Poética
voz - Cristina Paiva
música - Ry Cooder
sonoplastia - Fernando Ladeira


Os diferentes

"Descobriu-se na Oceania, mais precisamente na ilha de Ossevaolep, um povo primitivo, que anda de cabeça para baixo e tem vida organizada. É aparentemente um povo feliz, de cabeça muito sólida e mãos reforçadas. Vendo tudo ao contrário, não perde tempo, entretanto, em refutar a visão normal do mundo. E o que eles dizem com os pés dá impressão de serem coisas aladas, cheias de sabedoria. Uma comissão de cientistas europeus e americanos estuda a linguagem desses homens e mulheres, não tendo chegado ainda a conclusões publicáveis. Alguns professores tentaram imitar esses nativos e foram recolhidos ao hospital da ilha. Os cabecentes-para-baixo, como foram denominados à falta de melhor classificação, têm vida longa e desconhecem a gripe e a depressão."

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE "A cor de cada um"

Ouvir era deixar o mundo entrar em si. (...)
"Os teclados" de Teolinda Gersão



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