quarta-feira, julho 25, 2007

Carvalho da Silva II

...a partir de uma cortina humana:




imagem: scren
Em tempo de globalização o sindicalismo enfrenta desafios de identidade colectiva e individual.



O "trabalho" readquiriu novos formatos que dificultam o entendimento de classe e a organização de mecanismos de defesa pela dignidade. Nos inquéritos analisados quantitativamente, Carvalho da Silva tornou visível a necessidade de homens e mulheres desejarem ser respeitados na sua dignidade enquanto pessoas.



Este tornar-se pessoa não passa, muitas vezes, pelo desejo de colaborar activamente nos movimentos sindicais até porque o trabalho tornou-se instável e precário fazendo prevalecer o medo e a renúncia ao acto de agir. Porém, o movimento sindical também necessita de reactualização perante o cenário da incerteza. Entender os formatos de poder e dominação, compreender as estratégias que contrariam a actuação colectiva, promover uma redefinição de percursos.



Um aspecto fascinante da desfesa de Tese de Carvalho da Silva foi a míriade de personalidades ligadas ao mundo do trabalho, economia, igreja, música, jornalismo, patronato, sectores partidários diversos, revelando um interesse generalizado pelo homem que tem didicado a sua vida a tentar aprofundar, pela experiência e agora pela via académica, as características dos ciclos que afectam o mundo dos trabalhadores.



No discurso feito história de vida, Carvalho da Silva fez revelar um aspecto que a mim me parece estar a condicionar o movimento sindical: O sindicato teve na génese a congregação das necessidades invocadas por homens e mulheres - "a vontade dos trabalhadores", esta frase nada tem de novo a não ser o facto de o sindicato se ter tornado em si uma instituição. Logo, os trabalhadores relevam para o sindicato muitos dos seus desejos esperando que este resolva os seus problemas. O sentimento de procura de respostas e soluções, a defesa dos direitos fundamentais são assim "encomendados" a esta entidade, tornando muitas vezes irresoluta a verificação dos resultados desejados.



Creio que o sindicato em tempo de globalização deveria redescobrir a capacidade de criar significados a partir dos homens e mulheres que deseja defender. De e para os trabalhadores. o sindicato são as pessoas não a instituição e isso, em discurso directo, fica omisso. Seja como for, o trabalho continua a desafiar o homem que tem representado com a dignidade e seriedade de quem pensa e reflecte a partir de si próprio, para além de si próprio, para todos nós.


«Enquanto me for possível empurrar as palavras contra a força do mundo, esse poder será tremendo, pois quem constrói prisões expressa-se sempre pior do que quem se bate pela liberdade.»


Stig Dagerman

Sem comentários: