quarta-feira, maio 30, 2007

roteiro






Book Covers
















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Palavras para quê???

Blog "seta despedida"




"Pássaros na cidade"

"Não tenho o fetichismo das primeiras frases, mas gostei muito desta:
«Anna Júlia enterra pássaros.»
Encontrei-a num conto da islandesa Olga Gudrún Árnadóttir.

No mesmo conto, também gosto do passo em que se procede a um pequeno inventário das possíveis causas de morte das aves:

«Batem nos fios de telefone e partem as asas, ferem o peito nos arames farpados, são abatidos por pássaros maiores e alguns morrem nas garras de um gato.».

Do conto »Os Filhos do Dia e da Noite», in A Luz que Vem do Norte – Antologia de Contos Nórdicos, org. Gonçalo Vilas-Boas, Edições Afrontamento"

Na "seta despedida"

A Imperfeição da Filosofia - Maria Filomena Molder


"Escutaríamos nós um carvalho ou uma pedra, se eles dissessem a verdade?"

"Um desafio socrático

Este título conhece uma dívida, pertence a Platão, a uma passagem de Fedro, depois de Sócrates ter contado a história da invenção da escrita:

Fedro - Que facilidade que tens, ó Sócrates, em inventar histórias egípcias, ou de qualquer outro país, como bem te aprouver.

Sócrates - Meu amigo, os sacerdotes do templo de Zeus em Dodona afirmaram que as primeiras palavras divinatórias saíram de um carvalho. Assim, as pessoas daquele tempo, que não eram tão sábias como vós, os jovens de hoje, contentavam-se na sua simplicidade em escutar a linguagem de um carvalho ou de uma pedra, desde que dissessem a verdade. Mas, para ti, o importante é saber quem fala e qual o seu país de origem: não te basta ver se ele diz, ou não, as coisas como elas são.


(275 b-d)

Nós poderíamos acrescentar: mas, para ti, o importante é saber a edição, a cidade, o ano, conferir a bibliografi, as notas de rodapé, os CD-rom sobre o assunto."

Maria Filomena Molder "A imperfeição da Filosofia" Relógio d'Agua 2003 (pp.13-14)






Um Brilho sem vacilações

Por Helena Vasconcelos

Maria Filomena Molder, filósofa, professora e escritora reúne em "A Imperfeição da Filosofia" (Ed. Relógio D'Água, Novembro, 2003) textos que exploram o universo do pensamento e seduzem pela sua extrema limpidez, aliada a uma enorme erudição. Filósofos - dos Clássicos aos que marcaram o século XX como Wittgenstein e Walter Benjamin - escritores e poetas - como por exemplo, Dante, Jorge de Sena e Rilke - pintores, fotógrafos, cineastas (como David Lynch) chegam-nos "revigorados" por esta voz que, ainda que meditativa , tem a capacidade de nos atingir em pleno e de nos estimular.



Maria Filomena Molder iniciou a sua fulgurante trajectória como docente do Departamento de Filosofia da Universidade Nova em 1980, onde lhe foi atribuída a cadeira de Filosofia Medieval. Dessa experiência ficou-lhe o interesse por Santo Agostinho, Santo Anselmo e outros doutores da Igreja com quem mantém vivo contacto, apesar de os seus interesses terem continuado a expandir-se, principalmente em campos tão férteis como a Estética e a Filosofia da Linguagem. Desta autora, é possível encontrar na mesma editora a obra "Semear na Neve".

Público 17 de Janeiro de 2004

Mil FOLHAS - Como se tem desencadeado o seu percurso de professora de Filosofia Medieval até esta "abertura" para a Estética e para a Filosofia da Linguagem?

Maria Filomena Molder - Na verdade, não estava preparada para ensinar filosofia medieval, no sentido de já ter levado a cabo uma longa e exaustiva investigação. Mas foi a cadeira que me foi distribuída quando, em 1980, entrei para o Departamento de Filosofia da Universidade Nova, precisamente no seu segundo ano de existência, e me dediquei inteiramente ao seu estudo durante os dois breves anos em que a leccionei. No entanto, desde os meus tempos da Faculdade de Letras que alguns dos autores medievais e dos seus problemas me tinham afectado profundamente (e evoco aqui o Padre de Cerqueira, meu professor de Medieval). Exemplifico: Santo Agostinho e o mistério do tempo e da memória, o modo original de conceber a linguagem, o modo de citar (que tomei como regra íntima) - quanto mais próximo de nós está um texto, menos a citação aparece como uma citação, ficando, por assim dizer, incorporada nas nossas palavras; Santo Anselmo e a sua delirante prova ontológica, que tantas voltas nos dá à cabeça, uma autêntica mina para exploração das relações entre o possível, o real e o pensável; o problema dos universais (a Arca de Noé é uma das suas apresentações mais antigas), que vem ter connosco sempre que tentamos distinguir um gato de um cão ou de saber qual é a diferença entre a arte e uma obra de arte. Além destes, tive a oportunidade de voltar a estudar durante esses dois anos um autor, que é como o último dos Gregos, Plotino, aquele que já não se vê propriamente como filósofo, e se atribuiu apenas o papel de intérprete, e que para as coisas da Estética (que é uma palavra tão recente!) se revelou um autêntico manancial, sobretudo para a compreensão da relação entre forma e informe e para a visão do universo como o acto de um dançarino.

P.- Acha que a sua base "medievalista" a preparou para o desenvolver do seu pensamento ou precisou de fazer um "corte" , voltando às raízes clássicas da nossa cultura?

R.- Releio sempre Plotino, que não é um pensador medieval, mas foi tão lido directa ou indirectamente pelos medievais, e regresso muitas vezes aos abismos agostinianos: ao imenso palácio da memória, ao labirinto do tempo (não só o famoso "se não mo perguntam sei o que é, se mo perguntam não sei o que é", mas também o surpreendente, o admirável, resultado - é que ele acaba mesmo por nos esclarecer em que consiste o tempo: uma distensão da alma). E, recentemente, por obrigações de distribuição de serviço, voltei à filosofia medieval, mas agora, e mantendo-se a minha impreparação nos termos referidos, decidi-me a ler com os estudantes "A Divina Comédia", na qual encontrei tudo o que esperava encontrar, mais tudo o resto: o "absoluto que pertence à terra", que sendo um leit-motiv de Broch, não se podia aplicar melhor a Dante - ele chamava-lhe liberdade; as relações entre poesia e filosofia, entre sonho, visão e poesia; a visão infernal do tempo; uma das compreensões mais temíveis do suicídio; o carácter desmedido, insolente, da poesia; uma metafísica da luz... Na verdade, encontra-se tudo n' "A Divina Comédia"! Levou-me a reler, por exemplo, o tratado sobre os anjos de São Tomás de Aquino. Acrescente-se que o melhor guia para "A Divina Comédia", poema que não poderia ser mais medieval e continua a resistir a qualquer esforço de classificação, é o poeta russo Óssip Mandelstam.

P.- O seu trabalho tem vindo a desenvolver-se de uma forma segura e revigorante. Como chegou a esta íntima conexão do pensamento filosófico com a literatura, a fotografia, o cinema, a ciência e as artes plásticas?

R.- Gostaria de lembrar que se pode fazer filosofia (aliás, o mesmo se passa com a arte) a partir do que quer que seja (embora não se faça de qualquer maneira, como também acontece com a arte), e sempre se fez. O primeiro crítico sistemático da poesia foi Platão, e o seu primeiro defensor, Aristóteles, que ainda sabia (e aqui ele já citava o dificílimo Heraclito) que em todos os lugares pode haver deuses ou, usando as palavras de Colli, o primeiro dever do filósofo é não caluniar as aparências. Desde pequena que não posso viver sem música e sem cinema. Descobri na adolescência a poesia, as outras artes.

P.- Fala de Sócrates e do seu pedido para que seja aceite a "natureza incompleta da filosofia". Em relação ao título deste seu livro - "A Imperfeição da Filosofia" - será que está a reportar-se às palavras do filósofo ? Ao debruçar-se sobre essa "imperfeição" quer dizer que a sabedoria implícita no termo Filosofia não é completa e que em vez de "consolo" traz a inquietação inerente à descoberta continuada?

R.- Reli Boécio e a sua "A Consolação da Filosofia" - uma obra escrita na prisão de Ticinium em 524 ou 525, antes de ele ser executado - por causa do Dante. É um admirável esforço de se libertar do desespero, da desilusão, do medo da morte e do desprezo pela morte desonrosa. Nessa obra, vemos pela última vez brilhar sem vacilações a relação entre filosofia e modo de vida ou, melhor, a filosofia entendida como modo de vida, coisa que os Modernos tenderam a ocultar de forma mais ou menos eficaz. No meio da devastação, há quem jogue ao xadrez. Que a filosofia providencie a consolação tem alguma parecença com o jogo: suspende-se a relação com a imediatez, abre-se uma pequena fenda e tenta-se respirar melhor. Por seu lado, a imperfeição tem a ver com incompletude, um sentimento de perda, e com agilidade, leveza, tentar não cair como o acrobata. Isto é, a filosofia traz realmente inquietação e só atravessando essa parede ardente podemos chegar a vislumbrar que ela rima com "descoberta continuada".

P.- Refere o suicídio no contexto a que a ele se referiu Camus que disse: "Só há um problema filosófico realmente sério: o suicídio."?

R.- Não me sinto capaz de falar do suicídio a não ser por interposta pessoa. N' "A Divina Comédia", Dante dá-nos a ver duas inexcedíveis aproximações, ambas perturbadoras. Num dos círculos do Inferno, numa vastidão hostil, crescem umas estranhas árvores, em cujos ramos retorcidos em vez de seiva corre sangue humano. Com crueldade involuntária, Dante parte um desses ramos e ouve uns lamentosos gritos de dor. Sem o saber, acaba de mutilar um suicida, por quem ele tem grande admiração e sente piedade, Piero della Vigna, homem de espírito nobre, acusado injustamente de traição. O suicida aos olhos da crença cristã é um escândalo, pois é um gesto de rebelião contra a vontade criadora de Deus, através da rejeição de si próprio, do seu corpo próprio. E, por isso, o suicida é aquele que jamais poderá resgatar o seu corpo, perdeu o direito a ele, quer dizer, o mistério da ressurreição foi por ele absolutamente selado. A outra aproximação encontramo-la à entrada do Purgatório, guardada por alguém que não é só um pagão, mas também um suicida, Catão. Mas, aqui, que a morte própria tenha origem no amor pela liberdade é um excesso bem-vindo aos olhos de Dante. Mais perto de nós, e próximo de Camus, temos o testemunho de Jean Améry.

P.- No seu texto sobre Rilke fala da "atmosfera da civilização", essas sucessivas "crostas" criadas pelo ser humano, que nos isolam de Deus. Será que, como diz Steiner, a religião poderia ser definida como uma resposta narrativa à interrogação de Leibnitz: "Por que há alguma coisa em vez de nada?"?

R.- Que a civilização seja constituída por uma sobreposição de crostas que nos separariam de Deus é uma ideia wittgensteiniana, ou melhor, é a devolução por Wittgenstein de um lugar- comum de muitas culturas, incluindo a ocidental, qualquer que seja a sua formulação, e isto desde que nós nos podemos lembrar. Esse lugar comum exprime o sentimento de perda de um contacto íntimo com o mistério da vida, do ser, de deus ou dos deuses, e obriga muitas vezes a procedimentos mais ou menos austeros de desprendimento e ascetismo, que atravessam a religião, a filosofia, a arte: voltar a conhecer a simplicidade do coração, voltar a beber a água pura das fontes. O que é uma maneira de reconhecer um grau de inadaptação "quantum satis" do ser humano à sua própria história. A pergunta pelo nada, a pergunta de Leibniz (retomada de maneira particular por Heidegger, do qual Steiner é um grande leitor), é a pergunta que não se refaz nunca do mistério de haver isto tudo que há, e conheceu respostas antes de a filosofia as ter formalizado. A descrição do Génesis é uma dessas respostas, que protege, como um tesouro ou um escândalo incomunicável, o porquê. Num dos mais belos hinos védicos, isso, que não pode deixar de ser ocultado, é apontado assim: pode ser que aquele que sustenta tudo saiba o porquê desta existência secundária (que inclui os homens e os deuses), mas também pode acontecer que esse também não saiba.

P.- Diz que a "imoderação própria da actividade filosófica tem a ver com a natureza do amor".Parece uma referência a uma espécie de movimentação física arrebatadora como o sexo. Será que se refere a Eros e à nossa mortalidade?

R.- Há uma embriaguez própria do acto contemplativo, no sentido em que a suspensão da vida a que ele obriga pode levar a um comprazimento solipsista, mas esse estar consigo próprio também pode originar formas mais ou menos agudas de dilaceração. Como muito bem diz a imoderação a que me refiro, atribuindo-a à natureza do amor, tem a ver com o deus Eros, essa força física, cósmica, que faz mover tudo e, em particular esses que tentam decifrar os discursos escritos nas suas própria almas, e, portanto, apresenta-se como um desafio à nossa mortalidade. É no "Fedro" que Platão descobre esse chamamento, que permita vencer a tentação (e a ilusão) solipsista, e toma formas paradoxais. No caso do discurso de Aristófanes, encontramos esta pergunta: os amantes não procuram outra coisa a não ser estarem juntos, que querem eles? No caso do discurso de Diotima, que se faz ouvir pela voz de Sócrates, no termo da descrição da escala de graus da experiência erótica, surpreendemos a alma a deixar cair tudo o que parecia decisivo: a figura, o saber, o logos, de modo a poder despenhar-se no pélago, no mar do desejo.

P.- A linguagem utilizada na sua escrita é muito próxima da Poesia e, em muitos aspectos possui uma espécie de esplendor da visualização cinematográfica e/ou fotográfica. Aliás, a sua íntima ligação com essas duas linguagens é bem explícita. Como distingue o olhar sobre a pintura, a fotografia, o cinema e o olhar focado na palavra e no pensamento?

R.- Há quem tenha, e de modo excelente (em particular os poetas e os artistas), encontrado grandes afinidades entre a palavra e a pintura. Mas, na verdade, trata-se mais da aproximação entre escrita e pintura do que da relação entre palavra e pintura. O pensamento dá-se bem com a palavra. Não me encontro entre aqueles para quem as palavras não chegam e, em contrapartida, estão convencidos de que há outras coisas que chegam. A palavra nasce na nossa boca, um dos lugares íntimos do nosso corpo, e, ao mesmo tempo, solta-se, expandindo-se, criando correntes de energia, e, como se não bastasse, é imediatamente um esforço compreensivo e expressivo. Ao contrário do que acontece com as mãos, instrumentos de realização, à voz humana, paradoxalmente, porque não podia ser-nos mais íntima, é atribuído um estatuto de mediação, que certamente provém da sua vocação conceptual, a palavra engana, louva, fere, mata, calcula. Quer dizer, a palavra não se mistura com aquilo de que fala, as palavras não são coisas. As artes passam adiante dessa separação entre o que há e o nosso dizer, há um elemento nelas que resiste definitivamente ao poder do logos (o que também sucede na poesia, mas com contornos únicos: a palavra resiste à palavra, e aí a música faz uma das suas aparições), que é o poder de irem ter directamente com as coisas, de se colocarem ao lado delas. Não sendo um prolongamento do corpo, as artes fazem parte do reino dos corpos, e qualificam directamente o espaço (aqui a arquitectura toma a dianteira). A escrita, em parte, também conhece estas determinações, daí a relação com as artes, mas há uma parte da escrita que não pertence ao espaço, que procede do som e do espírito da voz. Acho que não respondi inteiramente à sua pergunta. Mas sugiro-lhe que fiquemos por aqui.

P.- Os problemas da linguagem atravessam a sua obra. Vivemos em tempos babélicos? Ou, pelo contrário, estamos já num pós-Babel? Será que a palavra se transformou em ruído, que vivemos enclausurados neste "mortal coil" [invólucro mortal] onde ecoa o "shuffle" [tumulto] de que fala Shakespeare em "Hamlet"?

R.- Dá muito que pensar que na "Epopeia de Gilgamesh", onde existe a primeira referência ao grande Dilúvio, destruidor de toda a vida (a que só escapou um ser humano, o primeiro versão de Noé), tenha sido decidido pelos deuses, pela razão simples e suficiente de já não poderem suportar o ruído que os homens faziam. A Torre de Babel é um lugar de atracção atormentada e um lugar que originou muitos lamentos, em que se misturam a confusão das línguas, a mudez e a surdez, o ruído. De tempos a tempos o projecto da Torre retorna. Mas o momento em que Babel fosse resgatada, e o coração humano não conhecesse essa desmedida (talvez um outro nome para a pedra sacrílega que Nietzsche diz estar à porta de qualquer civilização), não seria o dia da vitória sobre a multiplicidade das línguas. Vejo-o mais como equivalente ao dia de Pentecostes: cada um falaria na sua própria língua e todos seriam capazes de entender.

P.- De que é que nós, os seres humanos, temos medo? Do vazio? Do Nada?

R.- Gostaria de lembrar que o primeiro texto literário conhecido, escrito na Suméria centenas de anos antes da "Ilíada" e da "Odisseia", a "Epopeia de Gilgamesh"(que é por um lado o nome da personagem e o próprio autor), concentra-se em volta de duas experiências, que se podem abater sobre qualquer um de nós separadamente, mas que no poema são simultâneas: cair em si e descobrir o medo da morte pelo escândalo da morte alheia, a daquele que se ama. Devido a essas descobertas, acompanhadas por sentimentos insuportáveis de terror e de perda, Gilgamesh empreende uma viagem à procura da imortalidade. No termo da viagem, depois de ter falhado todas as tentativas de o conseguir (e que se resumem, por um lado, à impossibilidade de dominar o tempo e, por outro, à incapacidade de se metamorfosear até ao fim), o príncipe Gilgamesh regressa à sua cidade de Uruk, senta-se à beira das suas muralhas e escreve num poema tudo aquilo por que passou. Quer dizer, aquele que procurou desesperadamente, e em vão, por uma imortalidade incomportável, acaba de surpreender uma outra forma de imortalidade, a única que nos convém: imprimir sinais em tabuinhas de barro, contar uma história. Mesmo presentes, os deuses não atravessam sempre essa história, sobretudo quando o que está em causa é contar a alguém aquilo que aconteceu, uma prerrogativa humana. É aí que se engendram o poder da memória, o dever da transmissão e a tarefa de rememorar. Por outro lado, se nós conseguimos imaginar a corrupção do nosso corpo, o nosso tornar-se cadáver, já não somos capazes de modo nenhum de antecipar a irrealidade do nosso pensamento, quer dizer, a imaginação sem a condição do espaço emudece e paralisa. Isso é fonte de grande angústia.

P.- No ensaio que dá o título ao livro fala de Platão e do seu "projecto de uma arte de escrita" que escapasse ao "destino" da maior parte dos textos: ou serem uma "fonte de equívocos", encantando os leitores com falácias - domínio do romance, da ficção a que tanto quis fugir Daniel Defoe; ou serem um instrumento mais ou menos imposto ao leitor quando se entra nos domínios da retórica, da política ou da pedagogia. Essa "arte de escrita", do domínio filosófico, ganha em liberdade, permitindo uma espécie de "desprendimento" e de alastramento nos vários campos da experiência e do saber que parece ser do seu agrado. Concorda?

R.- Nessas hipóteses interpretativas, acerca do que a escrita filosófica não é, fazem-se ouvir as palavras de Platão sobre o assunto: a escrita é sempre enganadora ou porque encanta ou porque persuade e, em qualquer dos casos, em geral, a escrita é impotente, muda e incapaz de se defender. E ele, no "Fedro", tenta a introdução do único gesto que poderia diminuir essa impotência, justamente um projecto de escrita filosófica ou uma arte da escrita, em que aquele que escreve adverte aquele que lê contra os perigos em que está aquele que escreve, contra a petrificação, a esclerose, a mudez do efeito retórico. Gosto muito dessa expressão: "uma espécie de 'desprendimento'", que é ao mesmo tempo reserva, poder juntar um tesouro, e liberdade de seguir em qualquer lado, e em qualquer coisa, os vestígios daquilo que se procura.

P.- Alain de Botton - que escreveu "As Consolações da Filosofia" - diz que os seres humanos têm seis "gurus" para seis preocupações universais: Sócrates e a impopularidade; Epicuro e a falta de dinheiro; Séneca e o estado de frustração; Montaigne e a imperfeição; Schopenhauer e desgosto, Nietzsche e a necessidade da dificuldade. É uma espécie de "filosofia, modo de usar". Que autores escolheria - estes ou outros - como "pilares" a que podemos sempre recorrer?

R.- Não há experiência mais gratificante do que o reconhecimento da grandeza de alguém, mas essa experiência contém uma ameaça, a de se ser aniquilado. Para escaparmos a essa ameaça, é preciso que transformemos o reconhecimento da grandeza alheia em sentimento de veneração. Não se pode começar a pensar verdadeiramente sem essa forma de iniciação, que implica olhar para trás, conservar as cinzas, pagar as suas dívidas, provar a si próprio que não se é mais indigno do que aqueles que nós desprezamos. Estas palavras não poderiam ter sido escritas por mim, sem Goethe, Baudelaire, Benjamin e Montaigne. Mas ainda falta falar de Heraclito, Platão, Aristóteles, Plotino, Kant, Nietzsche, Wittgenstein, Broch, Colli. É evidente que a série está incompleta.

P.- Os seus livros possuem a inefável qualidade de poderem ser lidos sem uma preparação puramente filosófica. [Será que deseja fazer da prática do pensamento um instrumento vivencial, como em tempos idos era a leitura da Bíblia?] Aquilo a que chamou a "descoberta continuada" poderá estar ao alcance de (quase) todos?

R.- "Os limites da alma nunca os conhecerás", terá dito Heraclito por meio de um dos seus transmissores, o que é uma bela maneira de se contrapor à advertência socrática sobre os limites, o célebre "conhece-te a ti mesmo!". Ele que era e foi conhecido pelo seu desprezo indefectível pela multidão dos homens e pelas suas variadas formas de cegueira e embuste, não pôde evitar uma declaração de comunidade, que é, ao mesmo tempo, uma prova de confiança na possibilidade de nos decifrarmos a nós próprios: "A todos os homens pode caber a sorte de se reconhecerem a si mesmos e de sentirem a imediatez (o mais íntimo, o frémito da vida)"

"Um Brilho sem vacilações" Helena Vasconcelos STORM


"Sinais de fogo, os homens se despedem "

«O estar a despedir-se, estar de passagem na despedida, esse parece ser o sentimento activo insubstituível (uma contemplação que não sobrevive sem a execução), alimentado pelas várias mortes [«a poesia é um roubo feito à vida»], pelo morrer antes de morrer, metamorfoses que se decantam [...].»

O excerto citado refere-se aos seguintes versos, de Jorge de Sena:

«Sinais de fogo, os homens se despedem
exaustos e tranquilos, destas cinzas frias.
E o vento que essas cinzas nos dispersa
não é de nós, mas de quem reacende
outros sinais ardendo na distância,
um breve instante, gestos e palavras
ansiosas brasas que se apagam logo.»

Do artigo «Entre Duas Águas. Sobre os Sinais de Fogo de Jorge de Sena», in A Imperfeição da Filosofia, de Maria Filomena Molder, Relógio D’Água

difacil

"Al lector se le llenaron los ojos de lágrimas,
y una voz cariñosa le susurró al oído:

- Por qué lloras, si todo en ese libro es de mentira?
Y él respondió:

- Lo sé pero loque yo siento es de verdad."

Ángel González, 101+19 = 120 poemas

daquelas coisas simples tão complexas

Depois de algum tempo

'Depois de algum tempo aprendes a diferença, a subtil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E aprendes que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começas a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. Acabas por aceitar as derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança. E aprendes a construir todas as tuas estradas de hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.

Depois de algum tempo aprendes que o sol queima se te expuseres a ele por muito tempo. Aprendes que não importa o quanto tu te importas, simplesmente porque algumas pessoas não se importam... E aceitas que apesar da bondade que reside numa pessoa, ela poderá ferir-te de vez em quando e precisas perdoá-la por isso. Aprendes que falar pode aliviar dores emocionais. Descobres que se leva anos para se construir a confiança e apenas segundos para destruí-la, e que poderás fazer coisas das quais te arrependerás para o resto da vida.

Aprendes que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que tens na vida, mas quem tens na vida. E
que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. Aprendes que não
temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebes que o teu melhor amigo e tu podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobres que as pessoas com quem tu mais te importas são tiradas da tua vida muito depressa, por isso devemos sempre despedir-nos das pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos. Aprendes que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos.

Começas a aprender que não te deves comparar com os outros, mas com o melhor que podes ser. Descobres que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que se quer ser, e que o tempo é curto. Aprendes que, ou controlas os teus actos ou eles te controlarão e que ser flexível nem sempre significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, existem sempre os dois lados.

Aprendes que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer enfrentando as consequências. Aprendes que paciência requer muita prática.
Descobres que algumas vezes a pessoa que esperas que te empurre, quando cais, é uma das poucas que te ajuda a levantar. Aprendes que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que tiveste e o que aprendeste com elas do que com quantos aniversários já comemoraste. Aprendes que há mais dos teus pais em ti do que supunhas.

Aprendes que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são disparates, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Aprendes que quando estás com raiva tens o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobres que só porque alguém não te ama da forma que desejas, não significa que esse alguém não te ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.

Aprendes que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes tens que aprender a perdoar-te a ti mesmo. Aprendes que com a mesma severidade com que julgas, poderás ser em algum momento condenado.

Aprendes que não importa em quantos pedaços o teu coração foi partido, o mundo não pára para que tu o consertes. Aprendes que o tempo não é algo que possa voltar para trás.

Portanto, planta o teu jardim e decora a tua alma, ao invés de esperares que alguém te traga flores. E aprendes que realmente podes suportar mais... que és realmente forte, e que podes ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que tu tens valor diante da vida!

As nossas dádivas são traidoras e fazem-nos perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar.'

William Shakespeare

(retirado de um blog não sei quando nem qual, tão pouco sei se o autor é mesmo "O AUTOR"...mas que importa? Na história da humanidade "a palavra" segue o seu rumo próprio e tão importante é quem escreveu como o que escreveu como o que leu. De pouco serve ao escritor escrever se não tiver um leitor que o leia e, de novo, construa caminhos para as palavras, então, seguirem os seus rumos).

Questionário

Pede-se experiência

'Já fiz cócegas à minha irmã só para que deixasse de chorar.
Já me queimei a brincar com uma vela.
Já fiz um balão com a pastilha que se me colou na cara toda.
Já falei com o espelho.
Já fingi ser bruxo.

Já quis ser astronauta, violinista, mago, caçador e trapezista.
Já me escondi atrás da cortina e deixei esquecidos os pés de fora.
Já estive sob o chuveiro até fazer chichi.
Já roubei um beijo, confundi os sentimentos, tomei um caminho errado e ainda
sigo caminhando pelo desconhecido.

Já raspei o fundo da panela onde se cozinhou o creme.
Já me cortei ao barbear-me muito apressado e chorei ao escutar determinada
música no autocarro.
Já tentei esquecer algumas pessoas e descobri que são as mais difíceis de
esquecer.

Já subi às escondidas até ao terraço para agarrar estrelas.
Já subi a uma árvore para roubar fruta.
Já caí por uma escada.
Já fiz juramentos eternos, escrevi no muro da escola e chorei sozinho na
casa de banho por algo que me aconteceu.

Já fugi de minha casa para sempre e voltei no instante seguinte.
Já corri para não deixar alguém a chorar.
Já fiquei só no meio de mil pessoas sentindo a falta de uma única.

Já vi o pôr-do-sol mudar do rosado ao alaranjado.
Já mergulhei na piscina e não quis sair mais.
Já tomei whisky até sentir meus lábios dormentes.
Já olhei a cidade de cima e nem mesmo assim encontrei o meu lugar.

Já senti medo da escuridão.
Já tremi de nervos.
Já quase morri de amor e renasci novamente para ver o sorriso de alguém
especial.
Já acordei no meio da noite e senti medo de me levantar.
Já apostei a correr descalço pela rua, gritei de felicidade, roubei rosas
num enorme jardim.

Já me apaixonei e pensei que era para sempre, mas era um "para sempre" pela
metade.
Já me deitei na relva até de madrugada e vi o sol substituir a lua;
Já chorei por ver amigos partir e depois descobri que chegaram outros novos
e que a vida é um ir e vir permanente.

Foram tantas as coisas que fiz, tantos os momentos fotografados pela lente
da emoção e guardados nesse baú chamado coração...

Agora, um questionário pergunta-me, grita-me desde o papel:
"Qual é a sua experiência?"
Essa pergunta fez eco no meu cérebro. "Experiência...." "Experiência..."
Será que cultivar sorrisos é experiência?

Agora... agradar-me-ia perguntar a quem redigiu o questionário:
" - Experiência?! Quem a tem, se a cada momento tudo se renova???"

Esta redacção foi escrita por um candidato numa selecção de pessoal na Volkswagen. A pessoa foi aceite pela sua criatividade e sensibilidade.

terça-feira, maio 29, 2007

Blogdificuldades

Faz um tempo que alguns amigos e amigas me dizem não ter acesso ao blog - não sei porquê.

Também me dei conta que agora já não é possível comentar como anónimo ou apenas com o nome, também não sei porquê.

Alguém me pode dizer como reformatar o blog para ser possível a todos e todas as pessoas que quueiram comentar não se confrontarem com essa dificuldade?

Obrigado e um dia feliz.
Graça Martins

domingo, maio 27, 2007

tempo de morangos e cerejas de outro tempo

Quando os morangos aparecem no Inverno

Sustentabilidade e terra e educação e felicidade:



Quando era miúda tinha de esperar pela primavera para apreciar as cerejas, as nêsperas, os gelados de morango feitos pela tia Noémia. O tempo de espera era um tempo de ciclos que a terra impunha às gentes da terra.

Com a evolução tecnológica, a agricultura criou condições para a existência de morangos de Inverno, de Outono, de todo o ano. Acabou por contrariar os ciclos de espera, de expectativa, de dar lugar a outros frutos e legumes. Assim também a alimentação alterou o significado de se estar e de se ser. Perdeu-se o sabor do tempo dos morangos maduros, mas tem-se a patine da existência de uma coloração e tamanho redobrada, publicitária, manipulada.

Ao dar lugar a “um tempo sem tempo para se ter tempo” Eduardo Galeano (2005), perdeu-se a consciência da espera. O desejo é manifestado e o acesso é facilitado por qualquer cartão de crédito providencial. Por uma economia do desejo de acesso fácil e conveniente.

Saber esperar pelo tempo de gestação e maturação da natureza das coisas perdeu significado global.

Hoje, ao ter acesso às informações, fora do prazo que elas necessitam para maturarem o seu paladar, o seu sabor, a sua coloração natural, elas perdem a sua verdadeira natureza, o sabor da expectativa, a revelação de uma existência em tempo real e não artificial.

Do mesmo modo, a escola cria um universo paralelo, artificial. O conhecimento está lá todo para ser consumido empacotado e certificado.

“Chamem um especialista para saber se é amor o que sinto” canta Rui Veloso.

As mensagens aparecem na poesia através dos poetas, dos desenhos, nos documentários dos sábios...ou de risos e chorares...

Ao contrário dos especialistas que advertem para a necessidade de dar voz aos esquecidos, aos obliterados, aos marginalizados, Eduardo Galeano contesta que aqueles que “não têm voz” sempre tiveram voz:

Subversiva, feita visível nas paredes das ruas, nos sons cantados dos escravos, na poesia popular, nas danças e ritos dos menosprezados, no artesanato feito do silêncio mudo em cores vibrantes tornado visível, de emaranhadas tapeçarias tecidas no silêncio da paciência e na mudez da espera das mulheres, no barro moldado ao sabor da humidade e tempo de secagem necessária à consolidação da argila.

A voz dos que não têm voz é a inspiração dos que escutam. “Para não ser mudo é necessário saber escutar”. Depois é necessário lançar as sementes para a terra engravidar. Saber esperar, para que aquele que é suposto aprender, se prepare para sentir o desejo de aprender. Criar expectativa … com sabor a morangos.

A sustentabilidade, de que tanto se fala hoje nos discursos politicamente correctos, carece de sustentabilidade porque se esquece do respeito pelo tempo. Do respeito pela humanidade, do respeito pelo ser, do segredo para se ser feliz. Então a terra dá respostas, elas estão aí, aqui e em toda a parte, basta “escutar com os olhos e ver com os ouvidos”.

Morangos no inverno dão nuvens em Maio.
Simples.

Eduardo Galeano

quarta-feira, maio 23, 2007

Secret Garden - da brigada victor jara

2mil5 - 2mil6
100
tempo 100 lugar
100



Musica no FotoMomento ouvir aqui

Katie Melua - The Closest Thing to Crazy

Thank You Stars - Katie Melua

Thank You Stars
Katie Melua
Composição: Mike Batt


Some call it faith, some call it love.
Some call it guidance from above.
You are the reason we found ours,
So thank you stars.

Some people think it's far away,
Some know it's with them everyday.
You are the reason we found ours,
So thank you stars.

There are no winds that can blow it away on the air,
When they try to blow it away 's when you know it will always be there.

To some it's the strength to be apart,
To some it's a feeling in the heart.
And when you're out there on your own, it's the way back home.

There are no winds that can blow it away on the air,
When they try to blow it away 's when you know it will always be there.

Some call it faith,
some call it love.
Some call it guidance from above.
You are the reason we found ours,
So thank you stars.
Thank you stars,
Thank you stars,
Thank you stars.

...da Noruega


Noruega... para pensar


"Na Noruega, o horário de trabalho começa cedo (às 8 horas) e acaba cedo (às 15.30). As mães e os pais noruegueses têm uma parte significativa dos seus dias para serem pais, para proporcionar aos filhos algo mais do que um serão de televisão ou videojogos. Têm um ano de licença de maternidade e nunca ouviram falar de despedimentos por gravidez."


"A riqueza que produzem nos seus trabalhos garante-lhes o maior nível salarial da Europa. Que é também, desculpem-me os menos sensíveis ao argumento, o mais igualitário. Todos descontam um IRS limpo e transparente que não é depois desbaratado em rotundas e estatuária kitsh, nem em auto-estradas (só têm 200 quilómetros dessas «alavancas de progresso»), nem em Expos e Euros."


"É tempo de os empresários portugueses constatarem que, na Noruega, a fuga ao fisco não é uma «vantagem competitiva». Ali, o cruzamento de dados «devassa» as contas bancárias, as apólices de seguros, as propriedades móveis e imóveis e as «ofertas» de património a familiares que, em Portugal, país de gentes inventivas, garantem anonimato aos crimes e «confundem» os poucos olhos que se dedicam ao combate à fraude económica."


"Mais do que os costumeiros «bons negócios», deviam os empresários portugueses pôr os olhos naquilo que a Noruega tem para nos ensinar. E, já agora, os políticos. Numa crónica inspirada, o correspondente da TSF naquele país, afiança que os ministros não se medem pelas gravatas, nem pela alta cilindrada das suas frotas. Pelo contrário, andam de metro, e não se ofendem quando os tratam por tu. Aqui, cada ministério faz uso de dezenas de carros topo de gama, com vidros fumados para não dar lastro às ideias de transparência dos cidadãos. Os ministros portugueses fazem-se preceder de batedores motorizados, poluem o ambiente, dão maus exemplos e gastam a rodos o dinheiro que escasseia para assuntos verdadeiramente importantes."


"Mais: os noruegueses sabem que não se «projecta o nome do país» com despesismos faraónicos, basta ser-se sensato e fazer da gestão das contas públicas um exercício de ética e responsabilidade. Arafat e Rabin assinaram um tratado de paz em Oslo. E, que se saiba, não foi preciso desbaratarem milhões de contos para que o nome da capital norueguesa corresse mundo por uma boa causa."


"Até os clubes de futebol noruegueses, que pedem meças aos seus congéneres lusos em competições internacionais, nunca precisaram de pagar aos seus jogadores 400 salários mínimos por mês para que estes joguem à bola. Nas gélidas terras dos vikings conheci empresários portugueses que ali montaram negócios florescentes. Um deles, isolado numa ilha acima do círculo polar Árctico, deixava elogios rasgados à «social-democracia nórdica». Ao tempo para viver e à segurança social."


"Ali, naquele país, também há patos-bravos. Mas para os vermos precisamos de apontar binóculos para o céu. Não andam de jipe e óculos escuros. Não clamam por messias nem por prebendas. Não se queixam do «excessivo peso do Estado», para depois exigirem isenções e subsídios."


É tempo de aprendermos que os bárbaros somos nós.

Seria meio caminho andado para nos civilizarmos. "
Será que temos sol a mais?


Blame It On The Moon - Katie Melua

Blame It On The Moon
Katie Melua

Composição: Indisponível

Gonna blame it on the moon,
Didn't want to fall in love again so soon.

I was fine, feeling strong,
Didn't want to fall in love with anyone.

Now that it's gone too far to call for a halt,
I'll blame it on the moon
'Cause it's not my fault;
I didn't think I'd this would happen so soon
So I'll blame it on the moon.

I was happy to be free Didn't think
I'd give myself so easily.

Guilty feelings in the night
As I wonder is it wrong to feel so right.

Now that it's gone too far to call for a halt,
I'll blame it on the moon 'Cause it's not my fault;
I didn't think I'd this would happen so soon
So I'll blame it on the moon.

Gonna blame it on the moon,
Didn't want to fall in love again so soon.

I was fine, feeling strong,
Didn't want to fall in love with anyone.

Now that it's gone too far to call for a halt,
I'll blame it on the moon
'Cause it's not my fault;
I didn't think I'd this would happen so soon
So I'll blame it on the moon

terça-feira, maio 22, 2007

Missangas


AS DORES QUE NÃO PARAM O MUNDO

"(...) O que eu invejo, doutor, é quando o jogador cai no chão e se enrola e rebola a exibir bem alto as suas queixas. A dor dele faz parar o mundo.
Um mundo cheio de dores verdadeiras pára perante a dor falsa de um futebolista.
As minhas mágoas que são tantas e tão verdadeiras e nenhum árbitro manda parar a vida para me atender, reboladinho que estou por dentro, rasteirado que fui pelos outros. Se a vida fosse um relvado, quantos penalties eu já tinha marcado contra o destino? (...)"

Mia Couto, in O fio das missangas , Editorial Caminho, Lisboa, 2004
"¿Qué diría a un joven que desee cambiar este sistema y no sepa por dónde empezar?

Primero que reflexione sobre los problemas del mundo (hambre, enfermedades, guerras, analfabetismo…) y si tienen o no tienen solución. Que mire su propia situación y la de tantos jóvenes en el empleo precario y sin moral, y luego que se comprometa."


Francisco Frutos

Batista Bastos

nuvens em Maio

Desde Eduardo Galeano

Palavras e voz de Eduardo Galeano



O medo global


"Os que trabalham têm medo de perder o trabalho.

Os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho.

Quem não tem medo da fome, tem medo da comida.


Os automobilistas têm medo de caminhar e os peões têm medo de ser atropelados.


A democracia tem medo de recordar e a linguagem tem medo de dizer.


Os civis têm medo dos militares, os militares têm medo da falta de armas.


É o tempo do medo.


Medo da mulher à violência do homem e medo do homem à mulher sem medo."
'>




15 Janeiro 2007

Local: Uruguai:

Esta es mi tierra


"às veces llove

y te quiero.

às veces ace el sol

y te quiero.

No carcere

às veces...

siempre te quiero"



“A utopia está no horizonte
Por muito que caminho jamais a alcançarei
Dou dez passos e ela afasta-se dez passos (…)
Para que serve a utopia?
Para isso serve!
- Para caminhar…”
Um documentário extraordinário para ver e ouvir até ao fim e...se possível...ficar diferente, ouvir diferente, ver diferente, sentir diferente e não ter medo de
SER diferente.

SÉPIA-Arte e estética. Art and aesthetics


Educação Artística em movimento



Pela T. Eça:




“Queria dizer que a Espanha está muito activa na ed. artistica, o congresso de Barcelona será em Novembro 2007 e o de Valência também está para breve. (…)

Bem e por cá, por Portugal prepara-se a Conferência Nacional de Educação Artística nos moldes da Unesco. Uma co-produção entre o Ministério da Educação e o Ministério da Cultura para ser em Outubro de 2007 na casa da Música do Porto, parece que se pretende mostrar boas práticas sobretudo práticas de projectos educativos em parceria.

Sexta feira temos o congresso de Évora
, o grupo do Neeca ( centro de investigação em educação pela arte liderado pela Lúcilia), lá estará para pensar no que andamos a fazer neste país cheio de contradições.

No Brasil também estão a acontecer muitos congressos sobre educação e sobre arte educação. Em Agosto será feito o congresso Latino Americano da Insea com língua oficial: Espanhol e Português (no mesmo Mês em que decorre o congresso Asiático da Insea).

Quem vai a Heidelberg em Julho?”



Pelo Aldo: Congresso de Valência - Dezembro 2007




Assunto: International Conference:
"Fine Arts Training Programs and the European Higher Education Area"Importância: Alta

Dear colleagues

From 10th to 14th December (2007), the “20 Years of Erasmus Program” Week will take
place in our University and several activities have been planned.

Due to current situation of study plans in Europe and the implementation of the Bologna Process, as well as to specificities of the Art field and diversity of curricula in each school
(Conservation, Design, Painting, Sculpture…etc), an International Conference focused on ‘Fine Arts Training programs and the European Higher Education Area” has been organized for 11th-13th December (2007).

Bolonia challenge is a complex process with consequences for both students and faculty. Accordingly, this conference is devoted to bring our colleagues and alumni a
better understanding of the implications of the new study plans that will be definitely established in 2008. We intend to provide a forum to discuss questions regarding new
study plans, competences, teaching guides, ECTS...(among others) and to share our valuable experiences in the Art and Heritage Area
We are now working on a preliminary program that combines a plenary with a poster session. The plenary will focus on several key issues
regarding European Higher Education Area and Fine Arts training programs. Invited lectures will include Institutions
(Ministry of Culture and Education, Regional Government and Erasmus Agencies...), Universities as well as Groups and Organizations in the Arts and Culture field.

The poster session (that will also include the publication of the corresponding paper in the preprints book) is devoted to promote our colleagues participation and will highlight the latest educational research. It will also feature innovative teaching strategies, methodological experiences, training innovations and instutional actions to achieve convergence.

We would like to invite you to take part in our conference and encourage you to present a poster regarding the topics of the conference. You will find the registration form attached to this e-mail. Poster guidelines as well as the abstract template are also attached.

We will appreciate very much if you help us circulating this e-mail.

For additional information you can contact us
(
congresodocencia@bbaa.upv.es ) or visit our website www.bbaa.upv.es/cotad/congres/cfa2007.html

The important dates are:
- 1st July, 2007; Abstracts submission deadline.
- 9th July, 2007: Acceptance/Rejection notification.
- 7th September, 2007: Final paper DEADLINE (3000 words maximum).
- 11th December, 2007: Posters will be displayed from 8 to 9 a.m. Your poster will be exhibited during the conference.

We look forward to your participation and involvement in this important and challenging conference.

Thank you for your time and consideration.

Sincerely,

Technical Comittee"

segunda-feira, maio 21, 2007

“Quando nasci, todas as doutrinas que podiam salvar a humanidade já estavam inventadas, só faltava salvá-la”

Almada Negreiros

terça-feira, maio 15, 2007

elmundodelreciclaje


Dona tu móvil es una campaña, organizada por Cruz Roja Española y Entretreculturas, dirigida a los usuarios de teléfono móvil y que persigue dos grandes objetivos:
ACCIÓN SOCIAL:


los ingresos generados con la reutilización de los móviles donados se destinan a proyectos humanitarios, sociales y de educación en favor de los colectivos y países más desfavorecidos.
CUIDADO MEDIOAMBIENTAL:
al recoger los móviles fuera de uso y promover su reutilización y reciclado se favorece la conservación del medio ambiente.
Mas información:

http://www.donatumovil.org/

Woollys: Maio 2005




Woollys

Fermento


sexta-feira, maio 11, 2007

Pássaros livres pássaros

"Se um pássaro pudesse explicar com exactidão o que canta, porque canta e o que nele canta, já não cantaria."
Paul Valéry

Na urgência de uma melodia...talvez um dia a "escola" entenda isso.

P


"Se um pássaro pudesse explicar com exactidão o que canta, porque canta e o que nele canta, já não cantaria."

Paul Valéry
Na urgência de uma melodia...

quarta-feira, maio 09, 2007

Susana Neves - Mariposa Roja

Gente colorida:
Suasana Neves de visita ao Índigo trouxe um pouco mais de magia.
"quando o rei era sabão" é um blog cheio de cor.

Retirei um texto de Susana que tem tanto de saboroso como de reflexivo, falando sério a criar:





"Na exposição "O Grande Descobridor de Pinguins", patente no espaço da Capela, do Centro Cultural de Cascais, de 10 de Fevereiro a 26 de Março de 2006, apresentou-se um conjunto de 11 pinturas sobre papel, acompanhado da história do intratável pirata Francis Gould, que um dia roubou a Lua e vendeu a Noite. Tendo sobrevivido ao afundamento do seu navio, este pirata, na realidade, antepassado materno da artista, passou o resto dos seus dias nas margens do lago Iroiti, na Nova Caledónia, a pescar os livros da sua biblioteca naufragada. A todos estes livros chamava, com paradoxal ternura, pinguins.





Susana Neves defende: "As obras expostas não ilustram a história nem a história as descreve. O Grande Descobridor de Pinguins é ao mesmo tempo uma atmosfera e uma dupla ficção. Alguns personagens fazem exercícios de poder e subjugação mas são neutralizados pela força intratável da ironia dos que se movem contra a tirania da normalidade. O traço muito fino é em alguns casos assimilado à cor e esta define o volume das figuras e revela a sua natureza subversiva.





Depois do "clown epistemológico" e o seu circo do vazio "A Noiva do Campo Mil", Diferença, 2005), "O Grande Descobridor de Pinguins" apresenta o triunfo instável da tabuada de pevides."

sexta-feira, maio 04, 2007

Viver Saudável

A revista nº 26 da CGD "azul" está fantástica!

O tema é:


"VIVER SAUDÁVEL
porque antes de mais temos de olhar para nós próprios,
pensar diferente sobre os hábitos que nos moldaram os dias. Para depois nos podermos
dar aos outros, em pleno.
Por uma vida mais inspirada, criativa e dinâmica.
POR UMA VIDA EM CHEIO..."
Depois todo o recheio é saboroso e suculento...
Estar a ler "Histórias de vida del professorado" de Ivor F. Goodson (ed.)2004 da Octaedro-EUB (entre outras análises sobre o sistema educativo), ser professora de artes numa escola de província em Portugal, conhecer trajectórias de outros professores e professoras e de outros alunos e alunas...fica-se com o sabor amargo de que...
ELES já entenderam!!!
como sempre os mercados financeiros e a economia chega primeiro às lógicas das coisas...não como uma realidade para todos, mas como promessa em devir: Basta seres cliente, teres crédito ou teres a tua vida tomada de empréstimo à...instituição bancária.
Enquanto nas escolas e na sociedade a "qualidade" está a ser interpretada pela operacionalidade tecnocrática: os horários distendem-se até à exaustão, as "recompensas" aparecem como "cenouras" para os professores que querem ser titulares (como se fosse uma grande coisa!), ou o melhor professor, ou um cargozito da treta para enaltecer o ego e fazer realçar a estupidez natural.
E é vê-los (onde deveria ser e haver equipa) a saltitar, mesmo que para isso seja necessário atabalhuar caminho, partir alguns braços e dentes, criar efeitos de óptica (bom, isto para os mais elaborados) que é como quem diz...
Outros deixam-se andar...
A quimera está aqui:
"VIVER SAUDÁVEL
porque antes de mais temos de olhar para nós próprios,
pensar diferente sobre os hábitos que nos moldaram os dias. Para depois nos podermos
dar aos outros, em pleno.
Por uma vida mais inspirada, criativa e dinâmica.
POR UMA VIDA EM CHEIO..."
...quem falou em ter dinheiro? Saldar dívidas ao banco?
OK!
Ser inspirado, criativo e dinâmico?
Como?
A quem devo fazer a requisição?
Com quantos dias antes?
Quais são os formulários que tenho de preencher?
Quais são as possíveis consequências?
Devo consultar o economista? o advogado? o psiquiatra?
Quanto me vai custar?
Resposta: Uma vida em cheio!
Eles já sabem...
Quando vamos começar a entender
????????????????????????????????????

quinta-feira, maio 03, 2007

bichos domésticos



Esta noite um pirilampo visitou minha varanda...
são como as papoilas...

não são domesticáveis
não são vendáveis
não têm preço!

Tão fascinantes como qualquer ser livre e frágil,
dão cor e luz aos campos
ainda selvagens
contrariando asfaltos.

Morrem se apanhados.
Porque são livres...e
podem visitar a minha varanda quando quiserem.
Nenhuma coleira ou gaiola os espera.
Só eu...em vigília.

quarta-feira, maio 02, 2007

...DIAS ANTES (cont.)

Dia 22 de Abril de 2007


nasceu a linda






...é bonito sempre que a vida


se faz


vida.


...dia antes (cont.)

(escultura: Allen Wynn;
imagem: já não sei onde fui buscar)


de Maio
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"Se os tubarões fossem homens"
'Se os tubarões fossem homens', perguntou ao Sr. K. a filha da sua senhoria, 'eles seriam mais amáveis com os peixinhos?' 'Certamente', disse ele.
'Se os tubarões fossem homens, construiriam no mar grandes gaiolas para os peixes pequenos, com todo tipo de alimento, tanto animal como vegetal. Cuidariam para que as gaiolas tivessem sempre água fresca, e tomariam toda espécie de medidas sanitárias.
Se, por exemplo, um peixinho ferisse a barbatana, então lhe fariam imediatamente um curativo, para que ele não lhes morresse antes do tempo. Para que os peixinhos não ficassem melancólicos, haveria grandes festas aquáticas de vez em quando, pois os peixinhos alegres têm melhor sabor do que os tristes. Naturalmente, haveria também escolas nas gaiolas. Nessas escolas os peixinhos aprenderiam como nadar para as goelas dos tubarões.
Precisariam saber geografia, por exemplo, para localizar os grandes tubarões que vagueiam descansadamente pelo mar. O mais importante seria, naturalmente, a formação moral dos peixinhos. Eles seriam informados de que nada existe de mais belo e mais sublime do que um peixinho que se sacrifica contente, e que todos deveriam crer nos tubarões, sobretudo quando dissessem que cuidam de sua felicidade futura. Os peixinhos saberiam que esse futuro só estaria assegurado se estudassem docilmente.
Acima de tudo, os peixinhos deveriam evitar toda inclinação baixa, materialista, egoísta(...), e avisar imediatamente os tubarões, se um dentre eles mostrasse tais tendências. Se os tubarões fossem homens, naturalmente fariam guerras entre si, para conquistar gaiolas e peixinhos estrangeiros.
Nessas guerras eles fariam lutar os seus peixinhos, e lhes ensinariam que há uma enorme diferença entre eles e os peixinhos dos outros tubarões. Os peixinhos, eles iriam proclamar, são notoriamente mudos, mas silenciam em línguas diferentes, e por isso não podem se entender.
Cada peixinho que na guerra matasse alguns outros, inimigos, que silenciam em outra língua, seria condecorado com uma pequena medalha de sargaço e receberia o título de herói. Se os tubarões fossem homens, naturalmente haveriam também arte entre eles. Haveria belos quadros, representando os dentes dos tubarões em cores soberbas, e suas goelas como jardins onde se brinca deliciosamente.
Os teatros do fundo do mar mostrariam valorosos peixinhos nadando com entusiasmo para as gargantas dos tubarões, e a música seria tão bela, que a seus acordes todos os peixinhos, com a orquestra na frente, sonhando, embalados nos pensamentos mais doces, se precipitariam nas gargantas dos tubarões.
Também não faltaria uma religião, se os tubarões fossem homens. Ela ensinaria que a verdadeira vida dos peixinhos começa apenas na barriga dos tubarões.
Além disso, se os tubarões fossem homens também acabaria a idéia de que os peixinhos são iguais entre si. Alguns deles se tornariam funcionários e seriam colocados acima dos outros. Aqueles ligeiramente maiores poderiam inclusive comer os menores. Isto seria agradável para os tubarões, pois eles teriam, com maior freqüência, bocados maiores para comer. E os peixinhos maiores, detentores de cargos, cuidariam da ordem entre os peixinhos, tornando-se professores, oficiais, construtores de gaiolas, etc.
Em suma, haveria uma civilização no mar, se os tubarões fossem homens'."
Bertolt Brecht
B.B. Histórias do Sr. Keuner.
São Paulo, Brasiliense, 1982. p.54-6.

peço perdão,
...e se fossem mulheres?
..
!
talvez as tubaroas
matássem logo as outras tubaroas
e resolvia-se
tudo
muito
mais
rápido!
e lá...ficavam os peixinhos e as peixinhas
desorientados e desorientadas...
porque os peixinhos
e as peixinhas,
verdade seja dita,
gostam mesmo é de tubarões...
senão
ao mar seria acrescentado um A
e já não havia história...
da civilização.
0..0
U
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

desculpa de novo...
e onde estão aqui os tubarões?
Bem...
enquanto as tubaroas matavam outras tubaroas
massajavam o ego aos tubarões
fazendo-os pensar que eram eles que mandavam.
os tubarões ADORAVAM!!!
pensando
que eram eles os mandões,
os chefes de família
os decisores
os chefes
enquanto elas
decidiam
destinos
. .
. . ..
. .
. .. .
.. .
.
entretanto, do lado de fora
deste mar
pirilampos
faziam de estrelas
e uma vez
fizeram a noite
parecer
dia.